Governo envia militares para a região de Darfur
As autoridades sudanesas anunciaram, ontem, o envio de um "importante" contingente militar para o Sul do Darfur, após confrontos entre tribos pela posse de nascentes de água e que provocaram 15 mortos de acordo com a agência oficial de notícias Suna.
"O governador do Estado do Darfur do Sul, Musa Mahadi, anunciou a projecção de um grande número de forças militares para deterem as pessoas implicadas nos confrontos e apreenderem armamento", refere a agência. "O tempo para as conferências de reconciliação terminou e chegou o tempo para se aplicar a lei", disse Mahdi, citado pela Suna.
A agência oficial indica, ainda, que um dirigente local afirmou que insultos verbais acabaram em confrontos armados entre elementos das tribos Massalit e Falata, esta última etnia que perdeu muitos membros nos confrontos ocorridos na localidade de Gereida.
Em retaliação, os falatas atacaram a localidade, causando a morte de 13 massalit e ferimentos em 34 pessoas. Durante os últimos dois anos, a região de Gereida tem sido palco de incidentes violentos entre as duas tribos.
O incidente que foi agora noticiado é o primeiro, depois de uma reunião de reconciliação que decorreu em Outubro. Os acontecimentos ocorreram também a poucos dias do fim da missão de paz conjunta entre a ONU e a União Africana na região sudanesa do Darfur (Minuad) e que termina a 31 de Dezembro.
Há uma semana,os elementos das das Nações Unidas e da União Africana enviados para o conflito em Darfur alertou que a desconfiança ainda é profunda na região tumultuosa do Sudão onde se encontram centenas de deslocados.
Segundo a Assiciated Press (AP), o representante da Organização das Nações Unidas (ONU) e da União Africana (UA) instou o Governo de Transição em Cartum a abraçar a "enorme tarefa" de ganhar a confiança da população local.
As observações de Jeremiah Mamabolo surgem enquanto os membros do Conselho de Segurança da ONU continuam divididos quanto ao momento de pôr fim ao mandato da missão conjunta, a Missão das Nações Unidas no Darfur (UNAMID).
O povo de Darfur "foi traído", considerou Mamabolo, em declarações à AP, alertando para a "situação delicada". "Muitos crimes e injustiças foram cometidos contra eles, por isso sentem-se inseguros", acrescentou Mamabolo.
O Sudão está num caminho frágil para a democracia na sequência da revolta popular que levou os militares a derrubar o Presidente Omar al-Bashir, em Abril de 2019, após quase três décadas no poder. Desde então, o país tem sido liderado por um Governo conjunto de civis e militares, que tem procurado pôr fim às longas décadas de guerras civis no Sudão e superar as condições económicas desastrosas do país.
O Tribunal Penal Internacional (TPI) acusou al-Bashir de crimes de guerra e genocídio por causa do conflito em Darfur. As autoridades de transição inicialmente hesitaram em entregar os procurados pelo TPI mas, posteriormente, informaram que seriam entregues para enfrentar a Justiça em Haia, Holanda.
Missão de paz
Os membros do Conselho de Segurança da ONU afirmaram, na semana finda, o compromisso de terminar a missão, mas estavam divididos quanto ao calendário, com a Rússia e as nações africanas a pedirem um termo a 31 de Dezembro, enquanto várias nações ocidentais requereram mais tempo antes da saída do território.
A UNAMID, criada em 2007, foi a primeira operação conjunta de manutenção da paz da ONU e da UA. Conta agora com mais de seis mil militares e polícias e mais de 1.500 civis. Em Junho, o Conselho de Segurança aprovou por unanimidade a sua substituição por uma missão de menor dimensão e exclusivamente política, que será conhecida como Missão Integrada de Assistência à Transição das Nações Unidas no Sudão (UNITAMS).
"Embora os grandes combates em Darfur tenham parado, os confrontos intercomunitários esporádicos na região aumentaram este ano", frisou Mamabolo. Centenas de manifestantes, na sua maioria crianças e mulheres deslocadas, montaram um acampamento no exterior da sede da missão na província de Darfur do Sul, para protestar contra o fim iminente da UNAMID.