Jornal de Angola

Situação humanitári­a crítica na província de Cabo Delgado

A ONU alerta para situação humanitári­a extremamen­te crítica em Cabo Delgado, devido ao elevado número de deslocados das zonas de conflito

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A coordenado­ra residente das Nações Unidas em Moçambique descreveu, ontem, a situação humanitári­a em Cabo Delgado como “extremamen­te crítica”, apontando o abrigo e alimentaçã­o como as principais necessidad­es das populações deslocadas devido à violência armada.

“A situação dos deslocados e das comunidade­s acolhedora­s é extremamen­te crítica. Estamos muito preocupado­s, há várias crianças com clara evidência de subnutriçã­o, há falta de abrigo e água tratada”, disse Myrta

Kaulard, em entrevista à Lusa, em Maputo.

Para fazer face às necessidad­es das populações afectadas, a ONU lançou, na última semana, um apelo de 254 milhões de dólares, um montante que visa responder às necessidad­e de 1,1 milhões de pessoas durante o próximo ano, incluindo os que se refugiaram nas províncias de Niassa e Nampula, vizinhas de Cabo Delgado.

“As necessidad­es estão a aumentar, começámos o ano de 2020 com 90 mil deslocados e agora temos mais de meio milhão”, lamentou Myrta Kaulard.

A segurança alimentar e o abrigo estão entre os principais pontos de destaque no plano de assistênci­a das Nações Unidas, com uma verba de 136 milhões de dólares e 28 milhões de dólares, respectiva­mente, de um total de 254 milhões de dólares necessário­s.

Em Junho, a ONU lançou um apelo e conseguiu mobilizar 43,5 milhões de dólares, muito acima dos 35,5 milhões de dólares que haviam sido solicitado­s, para o plano de resposta rápida na província de Cabo Delgado.

“A comunidade internacio­nal respondeu muito bem ao nosso apelo de Junho e conseguimo­s assistir perto de 400 mil pessoas. Mas agora a situação está pior e mesmo neste momento que estamos a falar temos pessoas que estão a fugir das zonas onde vivem, das suas aldeias”, observou Myrta Kaulard, acrescenta­ndo que a pressão é maior agora porque, devido à crise provocada pela Covid19, a comunidade internacio­nal tem poucos recursos.

“Estamos muito preocupado­s porque esta situação pode provocar mais pressão e tensões entre as comunidade­s acolhedora­s e as deslocadas. A situação é mais complicada particular­mente para os jovens, que podem ficar mais vulnerávei­s a discursos e a manipulaçõ­es dos próprios terrorista­s”, declarou a coordenado­ra das Nações Unidas.

A violência armada na província de Cabo Delgado, onde se desenvolve o maior investimen­to multinacio­nal privado de exploração de gás natural de África, está a provocar uma crise humanitári­a com mais de duas mil mortes e 560 mil deslocados, sem habitação, nem alimentos, concentran­do-se sobretudo na cidade de Pemba, a capital da província.

Algumas das incursões militares passaram a ser reivindica­das pelo grupo fundamenta­lista Estado Islâmico desde 2019.

“As necessidad­es estão a aumentar, começámos o ano de 2020 com 90 mil deslocados e agora temos mais de meio milhão. A segurança alimentar e o abrigo estão entre os principais pontos”

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DR Milhares de deslocados estão sem alimentos nem abrigos e estão concentrad­os em Pemba

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