Jornal de Angola

Covid-19: Dos primeiros casos no país às figuras mundiais infectadas

- Miguel Gomes

É verdade que os mais atentos ou melhor informados já tinham alertado que o surgimento de novas pandemias poderia ser um evento disruptivo. Quase ninguém, seja em Angola ou noutro país qualquer do mundo, prestou a devida atenção. Há um ano atrás, quem imaginaria que 2020 seria quase exclusivam­ente marcado por um organismo vivo - mas invisível a olho nú - que tem o potencial de causar graves problemas respiratór­ios e de saúde em geral?

Enquanto o mundo e as pessoas celebravam mais um réveillon, um laboratóri­o na China confirmava o primeiro caso de covid19, a doença provocada pelo novo coronavíru­s. Foi precisamen­te no dia 31 de Dezembro de 2019. Estava anunciada a tempestade, ainda que sem grandes sinais de vento forte e pouca preocupaçã­o oficial.

Presume-se - porque até hoje não existem provas sem discussão sobre a origem deste grande problema - que tudo começou na cidade de Wuhan, na província de Hubei, a zona mais populosa da região central da China. São mais de 10 milhões de habitantes só em Wuhan.

Menos de um mês depois, a Europa e os EUA estavam já com um novo recém-nascido entre os braços. Este não precisa de carinho, afecto e muito leite materno para crescer e se desenvolve­r. O novo coronavíru­s sobrevive no corpo humano e transmite-se de forma estrondosa em ambientes fechados e com elevada concentraç­ão de pessoas.

Em Janeiro não se sabia grande coisa sobre o vírus, tirando o que já era conhecido de outras pandemias como a gripe espanhola, no início do século XX, ou a mais recente síndrome febril do Médio Oriente (MERS, em inglês), que é ainda mais contagiosa apesar de ter sido confinada a uma região do mundo. Também é um coronavíru­s.

No final do primeiro mês do ano Wuhan estava isolada e em quarentena, depois foram outras cidades na China, aeroportos no mundo, enfim, um autêntico dominó de confinamen­tos que, entre Fevereiro e Março, meteu um terço dos cidadãos do planeta fechados em casa agarrados ao álcool-gel.

Antes, no dia 31 de Janeiro, a Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS) anunciou que estávamos perante uma emergência global de saúde pública. O uso de máscara facial começou a ser generaliza­do.

Em Março, países muito populosos e com muitas ligações internacio­nais por via dos aeroportos ou vias de comunicaçã­o como Itália,

Irão, EUA, França, Inglaterra ou Equador, México, Índia ou Brasil eram os principais motivos de preocupaçã­o.

Economias derretidas

Para além das consequênc­ias ao nível dos sistemas de saúde de quase todos os países, com uma inesperada necessidad­e de desenvolve­r testes laboratori­ais específico­s e tratamento­s adequados (mesmo sem uma cura ou vacina), a impossibil­idade de ir e vir, reunir e frequentar espaços públicos mudou totalmente a vida tal como a conhecíamo­s.

Esta realidade objectiva colocou em causa uma boa parte da economia dos serviços – viagens, hotéis, restaurant­es, bares, discotecas, centros comerciais, lojas, transporte­s, desporto amador e profission­al. Foram adiados inúmeros grandes eventos. São actividade­s com um enorme impacto em sectores económicos fundamenta­is para a maioria dos países e famílias.

De Abril em diante, conhecidas as informaçõe­s essenciais sobre a covid19, as diferentes regiões começaram a debater a possibilid­ade de regressar a um ponto onde as actividade­s económicas pudessem ressurgir. Não havia grandes alternativ­as: as empresas ameaçavam falir, sem apelo, nem agravo, com a consequênc­ia directa de provocar um autêntico exército de desemprega­dos e novos pobres ou à beira disso.

Se há comportame­nto realmente assustador no ser humano é a sua capacidade de adaptação a diferentes contextos, mesmo aos mais difíceis.

Quase todos os dias surgiam inovações, soluções, ideias e iniciativa­s para devolver a escola, o trabalho e, de certa forma, alguma tranquilid­ade mental aos cidadãos deste mundo desregulad­o e à beira de um ataque de nervos.

Foi assim que chegamos ao trabalho remoto ou teletrabal­ho, por exemplo, um mecanismo que já era utilizado mas sem grande expressão.

É verdade que foi possível recuperar uma parte do tempo perdido nas economias, sobretudo durante o verão no hemisfério norte. Mas o grande debate que emergiu, para lá da investigaç­ão sobre a cura ou vacina da covid-19, é sobre os diferentes modelos políticos que existem no mundo. De um lado estão as democracia­s consolidad­as do tipo ocidental e do outro situam-se os regimes asiáticos e alguns outros, consolidad­os à volta de raízes filosófica­s diferentes, que se dividem entre democracia­s como Taiwan ou Coreia do Sul (ou mesmo a Nova Zelândia, na Ocêania) e o grande farol que é a China e os seus comparsas.

A China não está isenta de críticas porque parece ser evidente (há documentos que o demonstram) que foi negligente e que tentou usar o secretismo como arma de saúde pública antiincrim­inatória.

Mas no que diz respeito àresposta institucio­nal, ao respeito entre os cidadãos, ao cumpriment­o das regras básicas de biossegura­nça, com óbvios efeitos na contenção da pandemia, tanto a ditadura chinesa como as democracia­s de Taiwan, Nova Zelândia ou Coreia do Sul (entre outros) são as grandes referência­s no combate à pandemia. Chegados ao mês de Dezembro,depois de quase oitenta milhões de contágios confirmado­s e cerca de 1,8 milhões de mortes em todo o mundo associadas à covid-19, a Europa e os EUA estão praticamen­te confinados (apesar de algumas manifestaç­ões contra a obrigação de usar a máscara facial), África e América Latina vão gerindo como podem mas sem fechar tudo, enquanto na China e noutros países vive-se uma certa tranquilid­ade.

“Aqui está tudo praticamen­te normal”, disse o paulistano Kenyiti Shindo, de 27 anos, à BBC News Brasil por telefone da cidade chinesa de Wuhan, onde vive.

“Usamos máscara quando entramos em locais fechados, como bares, restaurant­es ou centro comerciais. Claro que existe uma preocupaçã­o de que o vírus volte, mas tudo já funciona como antes”, concluiu o estudante brasileiro. 2021 deve continuar a ser um ano embrulhado em máscara facial e álcool-gel.

“Menos de um mês depois, a Europa e os EUA estavam já com um novo recémnasci­do entre os braços. Este não precisa de carinho, afecto e muito leite materno para crescer e se desenvolve­r. O novo coronavíru­s sobrevive no corpo humano e transmite-se de forma estrondosa em ambientes fechados e com elevada concentraç­ão de pessoas”

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VIGAS DA PURIFICAÇíO | EDIÇÕES NOVEMBRO
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