Covid-19: Dos primeiros casos no país às figuras mundiais infectadas
É verdade que os mais atentos ou melhor informados já tinham alertado que o surgimento de novas pandemias poderia ser um evento disruptivo. Quase ninguém, seja em Angola ou noutro país qualquer do mundo, prestou a devida atenção. Há um ano atrás, quem imaginaria que 2020 seria quase exclusivamente marcado por um organismo vivo - mas invisível a olho nú - que tem o potencial de causar graves problemas respiratórios e de saúde em geral?
Enquanto o mundo e as pessoas celebravam mais um réveillon, um laboratório na China confirmava o primeiro caso de covid19, a doença provocada pelo novo coronavírus. Foi precisamente no dia 31 de Dezembro de 2019. Estava anunciada a tempestade, ainda que sem grandes sinais de vento forte e pouca preocupação oficial.
Presume-se - porque até hoje não existem provas sem discussão sobre a origem deste grande problema - que tudo começou na cidade de Wuhan, na província de Hubei, a zona mais populosa da região central da China. São mais de 10 milhões de habitantes só em Wuhan.
Menos de um mês depois, a Europa e os EUA estavam já com um novo recém-nascido entre os braços. Este não precisa de carinho, afecto e muito leite materno para crescer e se desenvolver. O novo coronavírus sobrevive no corpo humano e transmite-se de forma estrondosa em ambientes fechados e com elevada concentração de pessoas.
Em Janeiro não se sabia grande coisa sobre o vírus, tirando o que já era conhecido de outras pandemias como a gripe espanhola, no início do século XX, ou a mais recente síndrome febril do Médio Oriente (MERS, em inglês), que é ainda mais contagiosa apesar de ter sido confinada a uma região do mundo. Também é um coronavírus.
No final do primeiro mês do ano Wuhan estava isolada e em quarentena, depois foram outras cidades na China, aeroportos no mundo, enfim, um autêntico dominó de confinamentos que, entre Fevereiro e Março, meteu um terço dos cidadãos do planeta fechados em casa agarrados ao álcool-gel.
Antes, no dia 31 de Janeiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que estávamos perante uma emergência global de saúde pública. O uso de máscara facial começou a ser generalizado.
Em Março, países muito populosos e com muitas ligações internacionais por via dos aeroportos ou vias de comunicação como Itália,
Irão, EUA, França, Inglaterra ou Equador, México, Índia ou Brasil eram os principais motivos de preocupação.
Economias derretidas
Para além das consequências ao nível dos sistemas de saúde de quase todos os países, com uma inesperada necessidade de desenvolver testes laboratoriais específicos e tratamentos adequados (mesmo sem uma cura ou vacina), a impossibilidade de ir e vir, reunir e frequentar espaços públicos mudou totalmente a vida tal como a conhecíamos.
Esta realidade objectiva colocou em causa uma boa parte da economia dos serviços – viagens, hotéis, restaurantes, bares, discotecas, centros comerciais, lojas, transportes, desporto amador e profissional. Foram adiados inúmeros grandes eventos. São actividades com um enorme impacto em sectores económicos fundamentais para a maioria dos países e famílias.
De Abril em diante, conhecidas as informações essenciais sobre a covid19, as diferentes regiões começaram a debater a possibilidade de regressar a um ponto onde as actividades económicas pudessem ressurgir. Não havia grandes alternativas: as empresas ameaçavam falir, sem apelo, nem agravo, com a consequência directa de provocar um autêntico exército de desempregados e novos pobres ou à beira disso.
Se há comportamento realmente assustador no ser humano é a sua capacidade de adaptação a diferentes contextos, mesmo aos mais difíceis.
Quase todos os dias surgiam inovações, soluções, ideias e iniciativas para devolver a escola, o trabalho e, de certa forma, alguma tranquilidade mental aos cidadãos deste mundo desregulado e à beira de um ataque de nervos.
Foi assim que chegamos ao trabalho remoto ou teletrabalho, por exemplo, um mecanismo que já era utilizado mas sem grande expressão.
É verdade que foi possível recuperar uma parte do tempo perdido nas economias, sobretudo durante o verão no hemisfério norte. Mas o grande debate que emergiu, para lá da investigação sobre a cura ou vacina da covid-19, é sobre os diferentes modelos políticos que existem no mundo. De um lado estão as democracias consolidadas do tipo ocidental e do outro situam-se os regimes asiáticos e alguns outros, consolidados à volta de raízes filosóficas diferentes, que se dividem entre democracias como Taiwan ou Coreia do Sul (ou mesmo a Nova Zelândia, na Ocêania) e o grande farol que é a China e os seus comparsas.
A China não está isenta de críticas porque parece ser evidente (há documentos que o demonstram) que foi negligente e que tentou usar o secretismo como arma de saúde pública antiincriminatória.
Mas no que diz respeito àresposta institucional, ao respeito entre os cidadãos, ao cumprimento das regras básicas de biossegurança, com óbvios efeitos na contenção da pandemia, tanto a ditadura chinesa como as democracias de Taiwan, Nova Zelândia ou Coreia do Sul (entre outros) são as grandes referências no combate à pandemia. Chegados ao mês de Dezembro,depois de quase oitenta milhões de contágios confirmados e cerca de 1,8 milhões de mortes em todo o mundo associadas à covid-19, a Europa e os EUA estão praticamente confinados (apesar de algumas manifestações contra a obrigação de usar a máscara facial), África e América Latina vão gerindo como podem mas sem fechar tudo, enquanto na China e noutros países vive-se uma certa tranquilidade.
“Aqui está tudo praticamente normal”, disse o paulistano Kenyiti Shindo, de 27 anos, à BBC News Brasil por telefone da cidade chinesa de Wuhan, onde vive.
“Usamos máscara quando entramos em locais fechados, como bares, restaurantes ou centro comerciais. Claro que existe uma preocupação de que o vírus volte, mas tudo já funciona como antes”, concluiu o estudante brasileiro. 2021 deve continuar a ser um ano embrulhado em máscara facial e álcool-gel.
“Menos de um mês depois, a Europa e os EUA estavam já com um novo recémnascido entre os braços. Este não precisa de carinho, afecto e muito leite materno para crescer e se desenvolver. O novo coronavírus sobrevive no corpo humano e transmite-se de forma estrondosa em ambientes fechados e com elevada concentração de pessoas”