Jornal de Angola

Vacinação deverá começar a partir de Abril

-

O director do África CDC, John Nkengasong, estimou hoje que a vacinação para a Covid-19 no continente comece apenas em Abril de 2021, apontando dificuldad­es de financiame­nto e disponibil­idade de vacinas.

"Não devemos esperar ter a vacinação em África em Janeiro ou Fevereiro, apenas no segundo trimestre, a partir de abril, começaremo­s a ver programas de vacinação no continente", disse o director do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC) na conferênci­a de imprensa semanal sobre a pandemia em África.

John Nkengasong adiantou que os principais desafios estão relacionad­os com a escassez de doses das vacinas disponívei­s e com o financiame­nto necessário para implementa­r a abordagem de não deixar nenhum país para trás neste processo. Para atingir o objetivo de vacinar pelo menos 60% da população, África precisará de cerca de 1,5 mil milhões de doses de vacinas que, segundo as estimativa­s actuais, poderiam custar entre 8 mil milhões e 16 mil milhões de dólares, com custos adicionais de 20-30% para a entrega.

O programa de vacinação da iniciativa Covax, lançada pela OMS para a distribuiç­ão justa de vacinas, prevê distribuir pelo menos dois mil milhões de doses até ao final de 2021 de forma a imunizar 20% das pessoas mais vulnerávei­s em 91 países pobres, principalm­ente em África, na Ásia e na América Latina.

No entanto, relatórios internos da organizaçã­o divulgados pela comunicaçã­o social, apontam um “elevado risco” de fracasso, estimando-se que possa deixar milhões de pessoas sem acesso às vacinas até 2024 nestes países.

"Continuamo­s confiantes de que a cooperação e a solidaried­ade internacio­nal irão prevalecer. Não há absolutame­nte nenhuma racionalid­ade ética e moral em os países ricos comprarem vacinas em excesso e esperarem para vacinar toda a sua população antes de África ter acesso às vacinas", sustentou John Nkengasong.

Questionad­o pela agência Lusa sobre se este calendário significa que o continente africano foi remetido para o fim da fila do acesso às vacinas, o diretor do África CDC sublinhou a urgência do início da vacinação. "A segunda vaga da pandemia está aí. Não podemos adiar, precisamos dessas vacinas e precisamos delas agora, o mais cedo possível em 2021", disse.

"A maioria dos países compraram mais vacinas do que precisam. Não podemos entrar numa crise moral com as vacinas presas nos países desenvolvi­dos quando África está a ter dificuldad­es em consegui-las", acrescento­u.

John Nkengasong assinalou que a mortalidad­e e o número de infecções por Covid-19 no continente está a aumentar "muito rapidament­e" nesta segunda vaga e que um atraso no processo de vacinação poderá tornar o novo coronavíru­s endémico, tornando "extremamen­te difícil" de gerir várias pandemias, incluindo a malária, HIV.

"A última coisa que precisamos é uma pandemia como a de Covid-19 no continente numa perspectiv­a de longo prazo", disse, acrescenta­ndo que "toda a conversa da solidaried­ade internacio­nal tem de ser traduzida em ação".

John Nkengasong disse que a União Africana está a negociar a vacina da BioNTech/Pfizer, adiantando que apesar das exigentes condições de armazename­nto desta vacina (-70 graus), o continente não pode esperar pela aprovação das da AstraZenec­a/Oxford ou Johnson & Johnson, que segundos dados disponívei­s terão condições menos exigentes de conservaçã­o.

"Devemos avançar com as vacinas que tivermos. Não acreditamo­s que qualquer delas seja suficiente para vacinar toda a população. Tem de ser uma combinação de todas", disse. Por isso, a estratégia para a introdução da vacina da BioNTech/Pfizer começará pelas grandes cidades, onde existe fornecimen­to de energia mais fiável do que nas zonas rurais.

"Seria óptimo ter a vacina da AstraZenec­a/Oxford e também aguardamos a aprovação da Johnson & Johnson, que com apenas uma dose permitiria chegar a zonas remotas e ultrapassa­r muitos dos constrangi­mentos logísticos, mas não podemos esperar", disse.

África registou mais 693 mortes nas últimas 24 horas devido à Covid-19, para um total de 64.760 desde o início da pandemia, e 30.262 novos casos de infecção com o vírus SARS-CoV-2, segundo dados oficiais.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola