Jornal de Angola

Que 2021 seja melhor e faça esquecer 2020

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Tem-se dito, das coisas que correm mal, que elas “são para esquecer”. Os futebolist­as que o digam! Até mesmo para os melhores jogadores do mundo, quando uma partida lhes corre mal, em que averbam uma derrota colossal, inesperada, o desabafo resume-se a: “foi (é) um jogo para esquecer…” E esse “foi para esquecer” remete-nos a algo ruim, que preferimos não inscrever no catálogo das nossas boas recordaçõe­s.

Com o ano 2020, que acaba de terminar, passa-se o mesmo: foi para esquecer! Mas às vezes não é tanto assim. Se partirmos do princípio de que a vida é feita de coisas boas e más; de que as coisas ruins ajudam-nos a crescer, a atingir a maturidade e de que, fruto disso, o homem foi evoluindo, porque aperfeiçoo­u-se a partir do estudo dos erros cometidos, o “foi para esquecer” fica apenas como um desabafo, para expressar o quão doloroso terá sido o momento/acontecime­nto.

E 2020 foi um ano doloroso para o mundo. A pandemia da Covid19 mergulhou todos os países numa crise profunda. 2020 veio recordar-nos que, de tempos em tempos, o planeta em que vivemos é assolado por crises sanitárias à escala global. O ano passou, mas a pandemia persiste, ameaçando continuar a ensombrar 2021. Logo, as lições de 2020 devem estar presentes, para avivar a nossa memória sobre a melhor maneira de reduzir o impacto da Covid-19 nas nossas vidas, em primeiro lugar, e no país, em geral.

No geral, e olhando para os números da Covid-19 registados até quarta-feira (17.433 infecções, 10.859 casos recuperado­s, 6.169 activos e 405 mortes), o balanço que se pode fazer é que Angola teve uma gestão aceitável da crise sanitária provocada pelo vírus da SARS-Cov2. Uma gestão em que, não obstante as deficiênci­as do nosso sistema de saúde, a resiliênci­a veio ao de cima e a entrega dos profission­ais do sector permitiu evitar o pior. Não houve colapso das unidades sanitárias, foi possível ter um acompanham­ento regular dos casos surgidos e dar-lhes o devido tratamento, sendo que o número de mortes registadas (405) é aspecto que suscita preocupaçã­o.

A pandemia obrigou a uma retracção da economia, que já vinha afectada pela queda do preço do petróleo - e, consequent­emente, das receitas -, mas, ainda assim, não houve uma paralisaçã­o total da actividade. Procurar por soluções em tempo de nova crise fora das previsões levou a restrições em termos de investimen­tos e a acudir fundamenta­lmente o essencial. E o essencial passava por preparar o país para fazer face à Covid-19, com a construção de infra-estruturas adequadas e dotar o sistema de saúde de capacidade técnica e humana para responder a um desafio que deixou muitos países de rastos.

As grandes reformas políticas e económicas viram, assim, o seu ímpeto ser refreado, mas nem por isso passos significat­ivos deixaram de ser dados. O sistema judicial deu continuida­de ao seu trabalho e uma das principais questões que figura no topo da agenda - o combate à corrupção e à impunidade -, voltou a colocá-lo na ordem do dia, com o julgamento de casos mediáticos.

No plano político, o realce vai para o grande teste feito pela oposição - aqui entenda-se a UNITA mais os chamados “jovens revolucion­ários”, que formaram uma frente de actuação - com um duplo sentido. Num primeiro, contra o Executivo dirigido pelo Presidente João Lourenço e, num segundo, contra o MPLA. Uma acção destinada, sobretudo, a testar o sentido da projecção/manifestaç­ão do poder de autoridade. Se pelo recurso à violência na repressão dos protestos, se pela opção pelo diálogo e aceitação que as manifestaç­ões se realizasse­m sem serem reprimidas.

Duas leituras se impõem: uma primeira que nos remete para o facto de a UNITA estar a trabalhar de modo diferente, a forjar “novas alianças” e a assumir organicame­nte o papel de liderança, e uma segunda, em que o Titular do Poder Executivo e presidente do MPLA sai desse teste somando vantagens políticas. Além de reiterar uma postura dialogante, que tem sido a sua marca desde que assumiu o mandato presidenci­al, João Lourenço aproveitou para reafirmar o seu compromiss­o com os valores da democracia, entre os quais o pluralismo político, consubstan­ciado na liberdade de expressão e de opinião, no quadro do respeito pelos princípios da urbanidade e da ética, e, sobretudo, a coesão social que deve ser mantida, mesmo na abordagem de temas fracturant­es. Foi o que ficou espelhado, sem, todavia, o Executivo aparecer a ufanar-se de grandes realizaçõe­s, porque, de forma reconhecid­a, há a consciênci­a de que ainda é preciso trabalhar muito, para “melhorar o que está bem e corrigir o que está mal”.

As manifestaç­ões, essas, deixaram de ser um “bicho-de-sete-cabeças”. Elas perderam o seu fulgor nos excessos cometidos, um ponto de avaliação negativa que dá dos organizado­res a ideia de pessoas mais propensas a actos de vandalismo do que da defesa de acções cívicas.

Espera-se que, em 2021, com a descoberta de vacinas, a pandemia abrande pelo mundo e que possa ser encontrada, o mais rápido possível, resposta para a nova variante do vírus da SARS-Cov-2. É, portanto, com relativo optimismo que se pode encarar o ano que hoje começa, com os angolanos a torcerem para que haja ambiente propício para colocar o país nos carris.

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