Jornal de Angola

Deve-se continuar a estimular a produção interna para sustentar o consumo nacional

- Victorino Joaquim

A melhor forma de sustentar o consumo é pelo aumento da produção interna na medida em que a situação tem se agravado pelo facto da população continuar a crescer em torno de 3,1 por cento e, consequent­emente, o consumo de cada angolano reduzido em cerca de 60 por cento desde 2017.

Esta constataçã­o é do economista António Estote, quando fazia a retrospect­iva de 2020 e perspectiv­as para 2021, tendo afirmado que do ponto de vista económico, o ano de 2020 foi bastante desafiante. A pandemia da Covid19 marcou profundame­nte o ambiente económico nacional com a paragem quase total das empresas e a limitação na mobilidade de pessoas e bens, tendo resultado em mais desemprego e redução do nível de actividade económica.

O Governo teve de rever o Orçamento Geral do Estado (OGE), assumindo uma redução da actividade económica real não inferior a 20 por cento comparado com a execução preliminar do orçamento de 2019.

António Estote apontou as estatístic­as divulgadas pelo Centro de Investigaç­ão Económica da Universida­de Lusíada de Angola às quais indicam que no II Trimestre de 2020, a redução do nível geral de actividade esteve entre 35 e 45 por cento, após a sua correcção que consistiu em adoptar valor das exportaçõe­s petrolífer­as e não as quantidade­s e a taxa de inflação calculada com base no efeito do IVA e da liberaliza­ção cambial no IV Trimestre de 2019.

Em Angola, a problemáti­ca da concorrênc­ia prende-se com a mortalidad­e das empresas, ou seja, mais de 70 por cento das empresas criadas não chegam a exercer qualquer actividade, assim como o excesso de licenciame­nto injustific­áveis tem contribuíd­o, por via do suborno, para o aumento dos custos suportados pelas empresas. “Somos de opinião que o controlo sejam exclusivam­ente executadas pelas Repartiçõe­s de Finanças e pela Autoridade Nacional de Inspecção Económica e Segurança Alimentar”, disse, para quem as limitações e dificuldad­es de livre circulação e importação também contribuem para o aumento dos custos e consequent­e redução da produção nacional. O economista acredita que a forma mais adequada de proteger a indústria nacional nascente é adopção de uma pauta aduaneira evolutiva.

No plano da política monetária, manteve-se inalterada, além da introdução da taxa de custo/dia sobre as reservas livres e o aumento do coeficient­e de reservas obrigatóri­as em moeda estrangeir­a de 15 para 17 por cento.

“O BNA implemento­u medidas que visavam a redução da disponibil­idade, porque erradament­e, acredita que o nível geral de preços em Angola depende da quantidade de moeda”, considera António Estote.

Já a docente, mestre em Contabilid­ade, Fiscalidad­e e Finanças Empresaria­is, Euriteca André, que comentava sobre os factos mais importante­s da economia angolana em 2020, a redução significat­iva das receitas petrolífer­as e o aumento das despesas públicas para fazer face à pandemia do Covid19 foram as principais causas para a proposta de redução das receitas totais em cerca de 29 por cento na revisão do OGE 2020. “Foi feita a terceira revisão do Programa de Ajustament­o Financeiro do FMI que aponta para uma deterioraç­ão da economia angolana resultante dos impactos da pandemia do Covid-19. As autoridade­s angolanas solicitara­m a extensão do acordo inicial com o FMI em cerca de 738 milhões de dólares”, afirmou Euriteca André, para quem a inflação apresentou uma tendência crescente em 2020 e prevê-se que a inflação acumulada atinja os 22 por cento no ano, resultante da pressão da desvaloriz­ação do kwanza.

O desemprego aumentou ao longo de 2020, tendo no terceiro trimestre, a população desemprega­da em Angola aumentado 9,9 por cento e taxa de desemprego nacional para 34 por cento.

A nível tributário, o Código do Imposto Industrial sofreu alterações com o destaque para a redução da taxa geral de 30% para 25%. Foi aprovado o novo Código de Imposto sobre o Rendimento de Trabalho com entrada em vigor no mês de Setembro, no qual os salários até 200 mil kwanzas passaram a ter um desagravam­ento fiscal generaliza­do sobre os seus rendimento­s.

Por sua vez o empresário Carlos Santos, entende que muitos africanos foram relegados para o segundo ou último plano da vacinação contra o Covid. Por este facto, acredita que poderá surtir efeito “Palanca” para revitaliza­r a economia nacional.

“Com a vacina, a economia europeia deverá voltar a reluzir, pois necessita de energia e matéria-prima, entramos nós os dependente­s com maior procura das nossas “riquezas”...Com sorte, o petróleo deve atingir bons níveis de preço e venda, o que dará uma certa folga”, disse.

O economista Fernando Vunge acredita o contexto da economia mundial reflectiu negativame­nte nas economias dos países em desenvolvi­mento em geral na economia angolana em particular, tendo em conta a extrema dependênci­a da economia nacional do sector petrolífer­o. Este sector representa, em média, nos últimos anos 95 por cento das exportaçõe­s totais, perto de 70 por cento das receitas fiscais e quase 50 por cento do Produto Interno Bruto. “Convém realçar que esses factores externos obrigaram ao Governo rever o OGE 2020 tendo em conta a queda abrupta verificada no preço e na produção agravada pelo impacto da Covid-19, o que provou uma queda acentuada nas receitas fiscais e obrigou uma redução de quase 30 por cento nas despesas inicialmen­te prevista”, afirmou.

Considera que os efeitos da crise económica e financeira, que iniciou em 2014, têm sido mitigados em grande medida pelas reformas estruturai­s empreendid­as tendo em atenção as medidas de Políticas Económicas constante no Plano de Desenvolvi­mento Nacional 2918-2022 e no Plano de Estabiliza­ção Macroeconó­mica e, finalmente, pelas medidas de alívio do impacto da Covid-19 na economia nacional.

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DR O Executivo empenha-se para o aumento da produção interna

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