Covid-19 e solidariedade
Os flagelados do vento leste
O apoio já foi mais, no princípio da pandemia, mas agora voltaram à sua condição de invisíveis, sem qualquer mão solidária. Mas eles não desapareceram, continuam lá, nas nossas ruas e becos, onde passam as noites e de dia disputam, com cães, gatos e ratos, restos de comida em contentores de lixo. São crianças, adultos e velhos que a miséria extrema os juntou à volta das grandes cidades, onde gritam em silêncio por socorro às pessoas que passam. No princípio da pandemia da Covid19, os sinais de solidariedade divulgados na imprensa todos os dias, com pompa e circunstância, faziam acreditar que a coisa era séria e para continuar, que era o princípio do fim dos nossos “flagelados do vento leste”, como escreveu no seu romance o escritor cabo-verdiano Manuel Lopes, em 1960. Debalde, tudo voltou à primeira forma. Os números aumentaram. E é fácil localizá-los um pouco por toda a cidade de Luanda. Agora que vem aí as vacinas e uma nova estirpe da Covid-19, mais contagiosa e mortal, não devíamos nos esquecer desses nossos irmãos, que a sociedade procura esconder ou não olha com a devida atenção. Como prega a Igreja, esses, os frágeis, além da vacina da justiça e da solidariedade, também necessitam da vacina contra a Covid-19. Ninguém deve ficar para trás, esquecido.