Governo aprova agenda política para a transição
O Governo do Mali anunciou, ontem, que as eleições presidenciais que vão a transição de poder serão realizadas no primeiro trimestre de 2022, não obstante alguma preocupação da ONU devido a continuada acção de grupos rebeldes
As eleições presidenciais no Mali vão ser realizadas no primeiro trimestre de 2022, de acordo com um cronograma apresentado, ontem, pelo ministro da Administração Territorial, tenente-coronel Abdoulaye Maiga, no termo de uma reunião por videoconferência com responsáveis dos partidos políticos.
De acordo com o cronograma a que a agência de notícias AFP teve acesso, o referendo constitucional está previsto para o segundo trimestre de 2021, enquanto a eleição dos deputados e conselhos das colectividades está marcada para o quarto trimestre de 2021.
Ressalta de um documento transmitido à imprensa que esta maratona eleitoral se iniciará com o referendo constitucional que “deverá primeiro ser realizado para dar o quadro legislativo apropriado à organização das eleições”. Depois, seguirá a realização das eleições dos conselhos das colectividades territoriais, seguidas da eleição dos conselheiros nacionais em que o Alto Conselho das Colectividades (HCC) estaria mantido. E, no final, a organização simultânea das eleições presidenciais com as legislativas que marcará o fim da transição que durará 18 meses.
Apesar do anúncio das presidenciais, o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, manifestou preocupação pela deterioração da situação de segurança no país, num relatório trimestral enviado ao Conselho de Segurança e, ontem, divulgado pela agência noticiosa AFP. Neste documento, que não menciona os cinco militares franceses mortos neste país do Sahel na última semana, Guterres afirma-se "preocupado pela instável situação securitária e em deterioração no Centro e Norte do Mali".
"Exorto as milícias, os movimentos extremistas violentos e outros grupos armados a cessarem imediatamente a violência e as actividades de destabilização", afirmou. O Secretário-Geral da ONU lamenta, em particular, "a ausência de progressos significativos" nos inquéritos relacionados com os ataques dirigidos aos "Capacetes Azuis". "Os crimes contra os soldados da paz que contribuem para os esforços de estabilização da situação no Mali, num contexto securitário muito difícil, não devem ficar impunes", insistiu Guterres.
No decurso dos últimos três meses, "a situação em termos de segurança continuou a deteriorar-se, em particular no Centro", revelou António Guterres no relatório. "No Norte, os grupos extremistas violentos permanecem activos", acrescentou. Há uma semana, 21soldados do Mali morreram num ataque a uma base militar em Dioura, no Centro, disseram fontes locais à AFP, actualizando os números inicialmente divulgados que apontavam para 15 vítimas mortais.
A operação foi levada a cabo por um grupo "terrorista" liderado por um desertor que passou nas fileiras jihadistas em 2012, segundo as mesmas fontes.
O campo das Forças Armadas do Mali em Dioura, a Este da capital da região, Mopti, foi atacado durante a noite, por um “grupo chegado de moto e a bordo de veículos”, segundo descreveu uma fonte à AFP. O ataque registou-se numa área com forte presença de extremistas islâmicos. Na semana passada, sete soldados foram mortos em ataques à bomba na estrada.
Presença de missões internacionais
Apesar da presença de várias missões militares no Mali das Nações Unidas, G5Sahele da França -, a violência extremista persiste no país, com 237 ataques registados em 2018.
Paradoxalmente, assinala-se, nos últimos tempos "uma redução do número de ataques contra os civis", na sua perspectiva motivada "pela diminuição da mobilidade durante a estação das chuvas, ao aumento do ritmo das operações da Minusma (a força de capacetes azuis da ONU) e a um conjunto de esforços de mediação locais apoiados pela Missão" das Nações Unidas.
A Minusma integra, actualmente, 14.500 militares e polícias deslocados no Mali.
"Os crimes contra os soldados da paz que contribuem para os esforços de estabilização da situação no Mali, num contexto securitário muito difícil, não devem ficar impunes"