“Educação artística precisa-se”
Todas as vezes que oiço um cantor, sem noção nenhuma de solfejo a desafinar sem vergonha nenhuma,a gritar em vez de cantare sem qualquer carisma vocal nem melodia sequer, eu sinto um dó no peito.
Sempre que me deparo com um artista plástico incapaz de captar o parecido das formas e a desenhar aleijados quando, na verdade, o que quer é deformar os corpos sem saber de anatomia humana, eu fico sem capacidade para ver, nos seus trabalhos, outros acertos, qualquer tipo de ousadia.
Quando noto a pobreza expressiva e as limitações técnicas de um bailarino, incapaz de interpretar com os seus gestos a tradição ou a modernidada,como para todos os outros casos anteriormente citados, eu penso na necessidade que temos de desenvolver o ensino das artes e da cultura, no nosso país e o quão urgente é criar e massificar a educação artística em todos os nivéis de ensino já que, como sabemos, ela é a única via para a elevação estética dos alunos e para que, de um modo geral, os cidadãos possam adquirir critérios artísticos para um juízo de valores estético, o mais adequado quanto possível.
Concordo com todos aqueles que pensam que a educação e a apreciação das artes, o conhecimento da história da arte e, em geral, a educaçao artística deve preceder a mercantilização dos produtos artísticos e culturais, uma vez que o inverso pode, com muita probabilidade, provocar que a falta de polimento, o vulgar e o banal se instalem onde gostaríamos de ver o contrário, o transcendental e o sofisticado.
Não é, pois, admissível que, por exemplo, tendo em conta as necessidades gritantes com que nos enfrentamos, na centralidade do Kilamba, actualmente, esteja abandonada, sem terminarem deconstruí-lo, o edíficio de uma Escola/Conservatória de Música que muito útil seria para educar e desenvolver o talento dos amantes da música.
Se a educação artística, principalmente na sua vertente de educação visual e plástica, ainda no tempo colonial, se leccionava nas Escolas Industriais, o certo é que o ensino de “Elementos da História de Arte” como já nos narra Vitor Manuel Teixeira na sua tese de doutoramento “Prática e teoria das artes plásticas angolanas – da tradição à nova expressão”(1983) é uma das disciplinas que já foi incluída nos programas intensivos do “primeiro e no segundo Curso de Monitores de Artes Plásticas, realizados em Luanda entre 1978/79 e 1979/81, respectivamente durante nove e doze meses”.
Os cursos de que falamos unidos a outras iniciativas da então Secretaria de Estado da Cultura viriam a ser o embrião da institucionalização uma década depois, já nos anos 90, dos Cursos Elementares e Médios de Artes, do Instituto Nacional de Formação Artística (INFA) adscrito ao, então, Ministério da Cultura, com as suas escolas nacionais de dança, de artes visuais e plásticas e de música.
Passados todos estes anos a coincidir com a mudança do prédio da Escola de Música, na Marginal de Luanda para o Camama, o Estado criou o Complexo de Escolas de Arte (CEARTE) – que, há dias, soube que passou para a gestão da Administração do Munícipio de Belas - e instalou-o num belo e moderno edíficio mais foi incapaz de equipá-lo convenientemente e, o que é mais importante, não lhe proveu de meios económicos e financeiros nem o dotou de um corpo docente qualificado e especializado à altura do edificio construído.
Resultado: hoje temos o CEARTE instalado num belo continente sem o contéudo e os saberes apropriados que lhe dariam corpo, sentido, projecto e missão. Para o CEARTE nem já a cooperação cubana – com as limitações técnicas, materiais e científicas e o afunilamento ideológico que sabemos que actualmente tem - foi equacionada como aconteceu, por exemplo, com Instituto Superior de Artes situado no Kilamba, que nem, por isso, deixa de ter outros problemas sérios.
Se quisermos que, no futuro, o nosso país tenha uma economia das artes e da cultura mais desenvolvida, capaz de alicerçar valores morais, económicos, financieros e estéticos que permita aos artistas, intelectuais e criadores angolanos, com vozes próprias e em igualdade de condições que outros do mundo, dizer qualquer coisa de relevante aos da sua rua, aos do seu bairro, aos da sua cidade, a todos nós e à humanidade inteira,é preciso que, antes, desenvolvamos e tenhamos uma melhor educação artística: ela trará paz social, elevação de espírito e, em geral, uma cidadania edificante.