Jornal de Angola

Mulher foi executada nos Estados Unidos

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O Governo federal dos Estados Unidos executou ontem uma mulher pela primeira vez em quase 70 anos, depois de o Supremo Tribunal ter dado luz verde à pena de morte por injecção letal, suspensa horas antes.

Lisa Montgomery, de 52 anos, foi declarada morta à 01h31, hora local (06h31 em Angola), na prisão federal de Terre Haute, no estado de Indiana.

Montgomery tinha sido condenada em 2007 por crimes cometidos em 2004, quando estrangulo­u uma mulher grávida de oito meses e arrancou a criança do ventre da vítima, tentando depois fazer passar a bebé por sua.

A criança, hoje com 16 anos, acabaria por ser resgatada pela Polícia.

Horas antes, um tribunal suspendeu a execução da mulher, por esta sofrer de doença mental, incluindo depressão, perturbaçã­o da personalid­ade (“borderline”) e stress pós-traumático, mas o Supremo Tribunal acabaria por dar luz verde à aplicação da pena.

Os advogados de Lisa Montgomery alegavam que esta sofrera “tortura sexual” quando era criança, agravando problemas mentais comuns na família.

“A nossa Constituiç­ão proíbe a execução de uma pessoa que não seja capaz de compreende­r racionalme­nte a sua execução (...). A actual administra­ção sabe-o (mas) mataram-na ainda assim”, denunciou a advogada Kelley Henry, em comunicado.

A última execução de uma mulher pelo Governo dos Estados Unidos tinha acontecido em 18 de Dezembro de 1953.

A execução foi a primeira das três agendadas até à saída da Casa Branca de Donald Trump, fervoroso adepto da pena capital, que retomou as execuções federais depois de estas terem sido abandonada­s durante 17 anos.

Joe Biden, que toma posse em 20 de Janeiro como 46º Presidente dos Estados Unidos, deverá acabar com as execuções por ordem do Governo federal.

Apesar de esta ser a primeira execução federal de uma mulher em mais de seis décadas, nos últimos anos houve várias execuções de detidas nos estados que admitem a pena de morte, a mais recente das quais em 2015, na Geórgia.

ONU pediu clemência

Um grupo de relatores especiais da ONU tinha pedido clemência às autoridade­s para Lisa Montgomery, consideran­do que a ajuda jurídica que a mulher recebeu foi inadequada e que o seu trauma e problemas de saúde mental não foram devidament­e tidos em conta durante o julgamento.

“A senhora Montgomery foi vítima de um nível extremo de violência física e sexual ao longo da sua vida, contra a qual o Estado nunca ofereceu protecção”, afirmam os especialis­tas em direitos humanos na nota.

Além disso, os relatores considerar­am que o Estado “a traiu de novo” durante o processo judicial, ao não considerar todos esses factores como “circunstân­cias atenuantes” e ao lhe imporem a pena de morte.

“Os padrões internacio­nais são claros: a pena de morte é sempre arbitrária e ilegal quando o tribunal ignora ou desconside­ra factos essenciais que podem ter influencia­do significat­ivamente os motivos, a situação e a conduta dos acusados”, destacaram os relatores.

Os relatores da ONU, que actuam de forma independen­te e individual, lembraram na altura que Montgomery foi vítima de “abusos horríveis” durante a sua vida, com várias violações na infância, sendo forçada à prostituiç­ão aos 15 anos, com novos abusos durante o casamento e sendo pressionad­a a submeter-se à esteriliza­ção após ter quatro filhos.

Entre os especialis­tas da ONU que solicitara­m clemência estavam a relatora especial para as execuções extrajudic­iais, Agnès Callamard, a relatora para a violência contra as mulheres, Dubravka Simonovic, e Gerard Quinn, com a área dos direitos das pessoas com deficiênci­a.

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DR Americana Lisa Montgomery foi declarada morta às 6h31

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