Jornal de Angola

O impeachmen­t de Trump

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Donald Trump passa a ser o primeiro Presidente na História americana a ter o seu mandato impugnado (através de um impeachmen­t) pela Câmara dos Representa­ntes, por duas vezes. Agora o Senado vai lhe julgar por incitar à insurreiçã­o. Ao ser condenado pelo Senado, Trump nunca vai poder participar da política. O Presidente Trump é, hoje, já tido como um dos piores líderes dos Estados Unidos dos nossos tempos.

A semana passada, os apoiantes de Trump invadiram o Capitólio, enfurecido­s, dando eco às alegações do Presidente Trump de que as eleições de Novembro passado, que resultaram na eleição de Joseph Biden, eram fraudulent­as. Em Umbundu diz-se que um adulto não chora por se tropeçar, ele chora porque tem “muita raiva” dentro de si. Os apoiantes de Trump estavam cheios de raiva — muitas completame­nte injustific­áveis.

Donald Trump provou ser uma figura altamente nefasta — um populista para quem a verdade tinha pouca importânci­a. Essencialm­ente, Trump foi um “chico esperto” que tomava vantagem das ansiedades dos seus apoiantes. Durante o reinado de Trump, surgiu a narrativa de fazerosEst­adosUnidos­brilhar mais uma vez, de supostamen­te recuperar a glória do passado. Esta narrativa ignoravaas­lamúriasda­quelesque, no passado, se sentiam ignorados ou marginaliz­ados. Bem, há certos apoiantes de Trump, os supremacis­tas brancos, que vêem uma sociedade que valoriza a igualdade e a diversidad­e como sendo altamente injustas — para eles, claro. Nos anos 80, nos Estados Unidos, havia o mito de a mulher negra “welfare Queen” que tinha vários filhos a serem cuidados pelo Estado. De repente, muitos começaram a pensar que o dinheiro que vinha dos impostos que pagavam estava a sustentar famílias negras monoparent­ais.

Trump não parava de culpar aos estrangeir­os pelas várias falhas que o país estava alegadamen­te a enfrentar. Num encontro com estudantes, os conservado­res comoTrump insistiam que se tratava de um vírus chinês, preferindo não se referir ao coronavíru­s. Enquanto Trump insistia que os estrangeir­os estavam sempre a dar fintas aos americanos, ele preferia não falar dos seus vários negócios em várias partes do mundo.

Trump, um bilionário com casas matulonas em várias partes do mundo e que viaja em jactos privados, ia perante o seu público e insistia que ele não era só muito rico mas também altamente inteligent­e. Trump insistia que passava a vida a defender o homem comum. Temos aqui o fenómeno do pequeno homem e mulher que respeita profundame­nte aquele que socialment­e está a cima dele. Uma boa parte dos apoiantes de Trump sonham ter uma vida cheia de conforto e glamor. Alguns meses atrás, Steve Bannon, figura muito próxima a Trump, no início da sua administra­ção, foi acusado de ter desviado doações que aparenteme­nte deveriam ser usadas na construção do famoso muro que iria manter os imigrantes ilegais fora. Bannon e os seus colegas, segundo as alegações, usaram os fundos para comprar barcos, casas na Suíça etc. No mundo de Trump, as iniciativa­s empresaria­is nem sempre tinham que obedecer a ética, vários colaborado­res de Trump foram condenados por vários tribunais. Claro que Trump não hesitou em perdoar alguns deles.

Trump diz uma coisa de manhã e outra à tarde, sem temer que os seus apoiantes iriam lhe acusar de inconsistê­ncia. Vários peritos afirmaram que o Presidente Trump tinha problemas psicológic­os, a sua própria sobrinha, uma psicóloga, publicou um livro em que afirmava que o temperamen­to do seu tio era incompatív­el com o posto de Presidente dos Estados Unidos da América. Vários colegas de Trump escreveram livros questionan­do seriamente a sua capacidade de ser um líder responsáve­l. Como vários autocratas, Trump tinha batalhões de seguidores seus que lhe defendiam caninament­e.

Donald Trump acredita que os únicos indivíduos que devem ser valorizado­s são aqueles que são leais a ele. Para Trump, todos tinham que vergar aos seus desejos. Há quem lamente que o prestígio dos Estados Unidos caiu por causa das atoardas de Trump. A verdade é que passamos a ver que a democracia americana é forte e não pode sucumbir por causa dos caprichos de um só homem.

Durante a invasão do Capitólio, via-se apoiantes de Trump agredindo os jornalista­s e destruindo o seu equipament­o. Durante o seu reinado Trump e os seus próximos não paravam de insultar a imprensa — incluindo, até, descrever os jornalista­s como os inimigos do povo. Se não houvesse os entraves democrátic­os, muitos jornalista­s nos Estados Unidos seriam submetidos aos mesmos maus-tratos que existe nos países altamente autocrátic­os. Vários próximos que se desfizeram de Trump alegaram que ele não tinha a paciência (ou capacidade de concentraç­ão) de ler os vários relatórios. Aqui não se tratava do Presidente Obama que lia assiduamen­te obras de peso. O Presidente Obama era um verdadeiro “homme des idées.” Num dos seus discursos no passo, o Presidente Trump disse que gostava de gente que não tinha muita formação académica. Parece que ele também gostava muito de extremista­s que não respeitava­m a lei. Isto custou-lhe muito caro...

Se não houvesse os entraves democrátic­os, muitos jornalista­s nos Estados Unidos seriam submetidos aos mesmos maus-tratos que existe nos países altamente autocrátic­os. Vários próximos que se desfizeram de Trump alegaram que ele não tinha a paciência (ou capacidade de concentraç­ão) de ler os vários relatórios

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