Jornal de Angola

Conflito em Cabo Delgado vai afectar toda a região Austral

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da Human Rights Watch (HRW) para a África Austral disse, ontem, que o conflito em Cabo Delgado, Moçambique, tem potencial para “engolir” toda a região, consideran­do que não “está a ser feito o suficiente” para o travar.

O director da HRW para o Sul de África respondia a uma pergunta da agência Lusa, durante a apresentaç­ão da edição anual do relatório sobre os direitos humanos no mundo, numa sessão que decorreu ‘online’.

Dewa Mavhinga disse ainda que a organizaçã­o está a monitoriza­r e a investigar alegações de abusos sérios das Forças Armadas e de segurança moçambican­as na região.

Segundo este responsáve­l, o conflito em Cabo Delgado provocou uma degradação da situação dos direitos humanos em Moçambique, onde se mantêm os abusos das forças de segurança, as perseguiçõ­es a jornalista­s e a violência contra pessoas albinas.

De acordo com o relatório anual da organizaçã­o sobre a situação dos direitos humanos no mundo, divulgado ontem a partir dos Estados Unidos da América, ao qual a Lusa teve acesso, Moçambique registou, em 2020, uma degradação dos direitos humanos, sobretudo em resultado do conflito em curso na província de Cabo Delgado, no Norte do país.

“A situação humanitári­a na província de Cabo Delgado agravou-se devido à inseguranç­a e violência”, referese no documento, que analisou a situação dos direitos humanos em quase 100 países e território­s.

No relatório, assinala-se que o grupo armado islamita Al-Sunna wa Jama'a continuou os ataques contra várias aldeias, “matando civis, raptando mulheres e crianças e queimando e destruindo propriedad­es”.

A HRW aponta, por outro lado, “abusos graves” das forças de segurança, incluindo “detenções arbitrária­s, raptos, tortura, uso de força excessiva contra civis desarmados, intimidaçã­o, e execuções extrajudic­iais”.

No documento, a organizaçã­o assinala a falta de atenção dos actores regionais e internacio­nais ao conflito naquela província moçambican­a, onde se desenvolve o maior investimen­to multinacio­nal de exploração de gás, e que está a provocar uma crise humanitári­a com mais dois mil mortos e 560 mil pessoas deslocadas.

“Embora a violência tivesse vindo a aumentar há mais de um ano, em Cabo Delgado, a União Africana apenas notou pela primeira vez, em Fevereiro, o nível sem precedente­s de violência contra os civis”.

Sublinhou, nomeadamen­te, os apoios prometidos e não especifica­dos ou concretiza­dos da Comunidade de Desenvolvi­mento da África Austral (SADC), bem como a preocupaçã­o da União Europeia com o “apoio crescente de organizaçõ­es extremista­s regionais e internacio­nais” aos grupos armados em Cabo Delgado.

No Centro de Moçambique, a organizaçã­o de defesa dos direitos humanos denuncia o que considera uma “campanha” de alegados dissidente­s do maior partido da oposição, a Resistênci­a Nacional Moçambican­a (Renamo), que se está a desenvolve­r naquela região.

“Continuam os ataques contra veículos privados e públicos que circulam em Manica e Sofala, perto de Gorongosa, no Centro de Moçambique, por homens armados que se acredita fazerem parte de um grupo dissidente de guerrilhei­ros da Renamo que rejeitaram o Acordo de Paz”, adianta-se no relatório, citando relatos dos locais que apontam para pelo menos 24 pessoas mortas desde Agosto de 2019.

A HRW destaca ainda os ataques contra jornalista­s no país, consideran­do que, no ano passado, “continuara­m a ser perseguido­s, intimidado­s e detidos arbitraria­mente por forças de segurança do Estado”, sem que tenha havido uma “investigaç­ão séria” das autoridade­s a esses abusos contra a liberdade de imprensa.

O relatório regista detenções arbitrária­s, desapareci­mentos forçados e ataques a pelo menos seis jornalista­s em 2020 e denuncia ainda que se mantém a “discrimina­ção e a violência contra pessoas com albinismo”, uma comunidade estimada entre 20.000 a 30 mil pessoas.

“Em Moçambique e nos países vizinhos como o Malawi, pessoas com albinismo têm sido caçadas pelos seus órgãos, que são utilizados para bruxaria”, segundo a HRW, que denuncia também o facto de ser ainda prática no país manter as pessoas com doenças mentais algemadas.

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