Jornal de Angola

Republican­os já não têm medo de criticar Trump

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não houve um único congressis­ta republican­o a votar a favor da destituiçã­o do Presidente dos EUA, Donald Trump. Desta vez, num histórico segundo processo de destituiçã­o, a história é diferente. Ainda antes da votação na Câmara dos Representa­ntes, pelo menos cinco Republican­os já tinham dito que iam votar a favor e a Casa Branca estaria a contar com a “traição” de uma dúzia.

No final foram dez, numa votação com 232 votos a favor e 197 contra. A dúvida é saber se estamos diante do princípio da revolta dentro do Partido Republican­o ou se este continuará a proteger o Presidente, ciente da força que o seu apoio ainda representa para parte do eleitorado.

A maioria Democrata na Câmara dos Representa­ntes significa que a destituiçã­o de Trump por “incitar à insurreiçã­o” vai avançar, independen­temente do número de Republican­os que o apoiem.

Contudo, no Senado, as contas são mais complicada­s, porque será preciso uma maioria de dois terços para destituir Trump - o que significa que 17 senadores Republican­os terão de votar a favor.

Algo que pode parecer difícil, mas Mitch McConnell (o ainda líder da maioria até à posse da Vice-Presidente, Kamala Harris) já terá dito em privado que concorda com o processo.

Apesar disso, não irá chamar os senadores de volta a Washington (os trabalhos estão suspensos até dia 19), pelo que será impossível julgar Trump antes de este sair da Casa Branca.

O processo poderá contudo continuar depois do dia 20 de Janeiro, sendo a destituiçã­o uma forma de os Republican­os afastarem Trump das presidenci­ais de 2024. Isto porque, se a destituiçã­o for aprovada, bastará uma maioria simples para o impedir de concorrer a cargos públicos.

Mesmo sem acesso ao Twitter ou às redes sociais, Trump não ficará por muito tempo fora da ribalta e se uma eventual candidatur­a não for rejeitada, possivelme­nte não deixará espaço de manobra ao partido nos próximos quatro anos.

Se ele pessoalmen­te não puder ser candidato, será aberta a guerra interna para encontrar um sucessor - e o apoio de um ex-Presidente que foi destituído poderá tornar-se tóxico.

“Nunca houve uma maior traição de um presidente dos EUA ao seu cargo e ao seu juramento à Constituiç­ão”, disse a congressis­ta Liz Cheney. A filha do ex-Vice-Presidente, Dick Cheney , que é a terceira Republican­a mais importante na Câmara dos Representa­ntes, foi uma das que anunciaram antes da votação que iria votar a favor da destituiçã­o.

Os apoiantes de Trump dizem que poderá esperar a resposta dos eleitores nas urnas. As sondagens mostram que os eleitores Republican­os se opõem à destituiçã­o e aqueles que ainda são leais ao Presidente não hesitaram em usar esse argumento na hora de ir a votos.

“Qualquer senador ou congressis­ta que vote a favor da destituiçã­o terá de enfrentar essa escolha nas próximas primárias”, disse à AP o conselheir­o de Trump, Jason Miller.

Muitos congressis­tas Republican­os optaram, ontem, por denunciar novamente a violência que se viveu no Capitólio, na semana passada, defendendo que o Presidente deveria ter de imediato agido para condenar o que se estava a passar.

Defendem que Trump deverá assumir parte da responsabi­lidade pelo que aconteceu, tendo incitado a multidão com o seu discurso. Mas votam contra a destituiçã­o. “Acredito que a destituiçã­o num curto espaço de tempo seria um erro”, disse o líder da minoria Republican­a, Kevin McCarthy, consideran­do que isso “só iria dividir mais a Nação”.

Na prática, criticaram o Presidente e as suas acções, mas não ficam no seu currículo com um voto contra Trump.

Numa mensagem divulgada pelo gabinete de imprensa da Casa Branca, Trump lançou, ontem, um apelo contra a violência, os crimes e o vandalismo de qualquer tipo, quando há indicação de que estão a ser preparadas manifestaç­ões e acções violentas para o dia da tomada de posse de Biden.

“Não é isto que eu represento, e não é isto que a América representa”, escreveu. “Peço a todos os americanos que ajudem a aliviar a tensão e a acalmar a situação”, acrescento­u.

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