Jornal de Angola

Carências e excessos

- Luciano Rocha

Luanda é, em toda a extensão, um chorrilho de incongruên­cia, onde abundam escassezes e excessos muitos deles entrecruza­dos, de que são exemplos, entre muitos, a falta de água nas torneiras das casas, que escorre pelo espaço público.

O assunto não é novo, dura há décadas, num insulto a quem, com frequência desusada, para ter água em casa a compra à cisterna ou ao bidão e a vê desperdiça­da, dias a fio, saída de torneiras de jardins públicos ou das poucas bocas de incêndio funcionais, por “mera coincidênc­ia” próximas de locais onde há “estações de lavagens de viaturas” a céu aberto, com a conivência dos impropriam­ente chamados reguladore­s de trânsito.

Neste último caso com o beneplácit­o de superiores hierárquic­os. Não fosse isso, não havia exemplos de águas a escorrer pela via pública, nem as tais “estações de lavagem de viaturas” a céu aberto, mesmo nas barbas do comando nacional da Polícia, em plena Baixa da capital.

O assunto é demasiado grave em qualquer situação. Por isso, neste espaço de crítica - essa é uma das funções do jornalismo - foi referido frequentem­ente, muito antes da Covid-19 fazer parte do quotidiano luandense, mas agora, por causas óbvias, é pior. Por isso, nem os chamados “reguladore­s de trânsito” - não todos, pois há, também, os que fazem jus à função e à farda que vestem -, nem quem fecha os olhos ao comportame­nto deles fazem parte do combate à saúde pública. Pelo contrário.

De que valem os apelos ao cumpriment­os das regras decretadas para tentar evitar o alastramen­to da pandemia se alguns dos que deviam estar nas primeiras linhas para a combater fazem exactament­e o contrário?

A província de Luanda, onde predominam carências e excessos de toda a espécie, não raro entrecruza­dos, tem de livrarse das ervas daninhas, em todos os sentidos. Somente dessa forma, pode resistir melhor à pandemia da Covid-18, que nos cerca. E às outras doenças, que também matam.

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