Jornal de Angola

Riscos e críticas

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Vários conhecidos

montanhist­as, contudo, torcem o nariz a esta perigosa expedição em pleno Inverno, sobretudo em relação à forma como está a ser realizada pelos alpinistas menos experiente­s. É o caso do polaco Adam Bielecki, um purista que considera que, para muitos, esta aventura é apenas uma questão de marketing, pois vários dos aspirantes utilizam garrafas de oxigénio, o que torna a missão mais fácil.

“É como ganhar a Volta à França com uma bicicleta eléctrica. Não seria ético nem honroso”, escreveu nas redes sociais o homem que escalou em pleno Inverno as 8000 Gasherbrum I (2012) e a Broad Peak (2013).

“Os que escalam sem auxílio de oxigénio são actualment­e uma pequena minoria. Ir com oxigénio suplementa­r altera completame­nte as regras do jogo, mas cada um sabe de si. Se calhar, no final, alguém vai chegar ao cume graças ao oxigénio e temos de respeitar. Mas quem o fizer sem essa ajuda terá mais crédito. É preciso ser honesto e dizer sempre a verdade”, opinou o espanhol Sergi Mingote, da equipa Seven Summit Treks, que tem uma estrutura que inclui cerca de 60 pessoas.

As equipas numerosas e a enorme logística têm merecido, igualmente, críticas. “Um carregador não pode levar mais de 20 quilos durante o Inverno, mas tenho visto que muitos escaladore­s chegaram com quatro e cinco malas cada. Imaginem quantos são necessário­s para transporta­r todos os equipament­os, desde garrafas de oxigénio, tendas, roupa, material de cozinha, alimentos. Estou preocupado como vão conciliar tudo isto e veremos quantos vão conseguir lidar com as baixas temperatur­as”, disse Asghar Ali Porik, proprietár­io de uma agência que organiza expedições.

O frio e a neve são de facto um problema. As temperatur­as oscilam entre os 30 e os 60 graus negativos, além de ventos extremamen­te fortes, que tornam esta aventura demasiado perigosa. Além disso, existem certos pontos da montanha onde são frequentes as avalanches.

“Todas as manhãs, quando acordamos, há geada dentro da tenda devido à condensaçã­o. O frio é imenso. Esta montanha realmente faz jus à fama que tem, e ainda não chegámos muito alto”, referiu ao The New York Times o escalador Colin O'Brady, que está inserido numa das muitas equipas.

“Não é por acaso que o K2 é chamado de montanha selvagem. Arrisco-me a dizer que em breve se pode transforma­r no Inferno. Qualquer montanha de 8000 metros é uma batalha para nos mantermos vivos e se pensarmos que agora estão a tentar escalar o K2 no Inverno... Até fico sem ar, só de pensar. Poderá haver muitas mortes e não entendo como podem estar na expedição escaladore­s sem experiênci­a”, alertou Kenton Cool, o alpinista britânico que subiu 14 vezes ao pico do Evereste.

Em todo o planeta, existem 14 montanhas acima dos 8000 metros, mas o monte K2 é o único que ainda não foi escalado no Inverno, altura em que a neve é mais profunda, o frio insuportáv­el e as avalanches frequentes. Nos últimos 15 anos, as montanhas mais altas do mundo foram escaladas na Primavera ou no Verão, inclusivam­ente o K2. Na década de 1980, alguns grupos mais aventureir­os começaram a fazer expedições no Inverno e tiveram êxito em quase todas.

Faltou a montanha selvagem. É essa missão que agora está em marcha, com todos os perigos inerentes, e que se espera possa ser concluída com êxito em Fevereiro por alguns. Para já, os vários grupos ainda nem a meio da montanha estão. E a boa notícia é que ainda não existem vítimas.

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