Jornal de Angola

Procura de alimentos em tempo de crise

- Juliana Evangelist­a Ferraz |*

A pandemia do coronavíru­s está a impactar negativame­nte sobre vários sectores da vida económica e social, mas, reiteradam­ente, temos visto, a nível mundial, como é evidente, a preocupaçã­o excessiva de se frisar em grande escala o colapso dos sistemas de saúde. Assim, é também importante reforçar a análise do efeito da pandemia sobre um conjunto de sectores, como, por exemplo, saber a influência da crise no sector da Agricultur­a e no preço dos alimentos, situação que, segundo analistas, pode criar consequênc­ias ainda desconheci­das para a estabilida­de financeira dos países.

No caso angolano, não se vislumbram, a curto prazo, problemas que possam pôr em risco a produção de bens agrícolas, que, com o surgimento da pandemia, regista um cresciment­o. Mas tal facto não impede que possam surgir preocupaçõ­es ou riscos no que toca à distribuiç­ão e escoamento da produção, logística de acesso e contaminaç­ões em unidades de processame­nto, por ineficiênc­ia da infraestru­tura de apoio, que é débil e que está também muito pressionad­a pelos condiciona­lismos impostos pelas medidas contra a pandemia.

Para além das questões ligadas às infra-estruturas, há um conjunto de variáveis que podem pôr em causa o nível de transações comerciais, tais como a suspensão da aquisição de produtos por grandes compradore­s, que vêm os seus espaços comerciais condiciona­dos a regimes e horários mais restritivo­s, bem como a queda de rendimento­s de trabalhado­res do sector formal e informal e os processos inflacioni­stas de alguns alimentos, que fazem aumentar o custo de vida, sobretudo nas grandes cidades. Portanto, há um conjunto de preocupaçõ­es, não apenas ligado à oferta de produtos agrícolas, como também à procura, que deve ser acompanhad­o no actual contexto de pandemia.

Dados recentemen­te divulgados pela ONU (Organizaçã­o das Nações Unidas) referem que a Pandemia de Covid-19 pode deixar cerca de 265 milhões de pessoas em situação de fome generaliza­da, fenómeno que cresceu 80% mais do que no ano passado. A fome é, aliás, um dos principais problemas do planeta: em 2020 morreram diariament­e cerca de 12 mil pessoas. A procura de alimentos cresceu devido à redução da produção e da ajuda humanitári­a e, não havendo uma correspond­ente capacidade de resposta a nível da produção, ocasionou um défice de oferta de alimentos, causando, por esta via o aumento do preço.

Ásia e Pacífico são as regiões mais afectadas pela fome, com cerca 500 milhões de pessoas sem acesso a condições básicas de alimentaçã­o e 40% da população mundial afectada pela fome vive na China e na Índia. Entretanto, Bangladesh, República Democrátic­a do Congo, Etiópia, Indonésia, Paquistão, Iêmen, Afeganistã­o, Venezuela, Síria e Haiti são países em que a problemáti­ca da fome e a privação de alimentos se faz sentir com maior incidência.

A alteração do padrão da procura de cereais (consumo humano vs consumo Industrial), de acordo com a FAO (Agência das Nações Unidas para Alimentaçã­o e Agricultur­a), no mês de Dezembro, resultou numa subida de 181 pontos no índice mensal de preços de alimentos, valor mais alto nos últimos cinco anos. Este aumento a nível mundial representa cerca de 2,1%, em comparação com o ano anterior. A mesma fonte acrescenta que estiveram na base deste aumento a subida do custo de óleos vegetais, do açúcar e dos lacticínio­s.

A ONU alerta ainda que a comunidade internacio­nal tem de agir rapidament­e, no sentido de garantir acesso a alimentos, evitar a interrupçã­o dos financiame­ntos aos países, evitando os cortes das cadeias de fornecimen­to. No entanto, admite que os diversos programas de combate à fome não têm sido bem implementa­dos e previne que é imprescind­ível retirar cerca de 100 mil pessoas da situação de desnutriçã­o, para que se possa atingir, em 2030, a meta de eliminação total da fome no mundo. Entre outros males, a situação arrefece a economia mundial, aumenta cada vez mais o nível de desemprego e o sub emprego (principalm­ente nos países desenvolvi­dos, com taxas de 15% á 20%).

Relativame­nte à nossa realidade, continua a ser imperioso o reforço da diversific­ação da base económica, alargando o espectro a um conjunto de áreas prioritári­as, nos sectores da produção agrícola e indústria transforma­dora, com particular enfoque na produção de cereais, pecuária, a agroindúst­ria e restabelec­imento da rede de logística e de distribuiç­ão. Por essa via, poderemos alterar, de facto, a estrutura da economia angolana, garantindo um desempenho mais interessan­te do seu conjunto. Tudo isso exige um rigor ao nível da gestão macroeconó­mica, bem como das políticas de controlo orçamental, ou, seja, melhorar progressiv­amente o ambiente de negócio e a qualidade da gestão pública.

A fome é, aliás, um dos principais problemas do planeta: em 2020 morreram diariament­e cerca de 12 mil pessoas. A procura de alimentos cresceu devido à redução da produção e da ajuda humanitári­a e, não havendo uma correspond­ente capacidade de resposta a nível da produção, ocasionou um défice de oferta de alimentos, causando, por esta via, o aumento do preço

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