Roteiro do lixo e afins
Luanda, onde os problemas, de desordem diversa, se amontoam, o disparate é banal, o bom senso escasseia, à sapiência falta espaço ocupado pela ignorância, continua a ter gente empenhada em torná-la mais feia, suja e perigosa.
Os amontoados de resíduos, com origens várias, amontoam-se indiscriminadamente por todo o lado, inclusive no centro da capital. Na sexta-feira, neste mesmo espaço, referimos, alguns exemplos do desleixo crescente a que a cidade está votada, cingindo-nos apenas a parte da Rua Rainha Njinga, na qual proliferam lixeiras, a céu perto, autênticos atentados à saúde pública, pólos de atracção de doenças contagiosas e mortais.
O acaso, nesta circunstância feliz, determinou que equipas de limpeza pública surgissem no mesmo dia, para recolherem grande parte dos focos de infecções, há muito a transbordarem dos contentores para ruas e passeios.
A novidade não foi apenas a acção em si, estendeu-se aos meios mecânicos utilizados, que a podem ter tornado mais rápida e eficaz, embora insuficientes. Entre outras lacunas, assinale-se a falta de mangueiras para lavar os contentores - ou que restam deles -, tal como os espaços que os rodeiam: passeios e as próprias artérias. Nas áreas em referência, falta de água não pode ser justificação, por haver em abundância a escorrer pela via pública. Frequentemente dia e noite, em desafio insultuoso ao bom senso, torneiras domésticas secas e aos que a têm de comprar a empresas particulares, que as vendem, ao domicílio, em camiões-cisternas.
As coincidências no mesmo dia quiseram que um dos vice-governadores de Luanda expressasse a ideia da província passar a ter um “roteiro turístico”, anúncio, no mínimo, espantoso, num momento, em que problemas de primeiríssima ordem a sobrecarregaren-na, como a falta gritante de limpeza pública, aliada de todas as doenças infecciosas, mortais e sem fármaco que as debele.
A todos eles podem juntar-se mais um amontoado de dificuldades, igualmente, diversificadas conhecidas de todos, mesmo dos que fingem desconhecer. Ao correr da pena, referimos a construção clandestina, parte dela “nas barbas” da sede do Governo provincial; derrube de árvores e jardins; fiscalização inerte; e o estado de artérias e passeios, verdadeiros alçapões para quem os utiliza. A compor o ramalhete, o facto de vivermos em cerca sanitária!
A ideia manifestada por um dos vice-governadores de Luanda pode, em pena pandemia da Covid-19, pode, todavia, ser adaptada e com bom uso, embora de morosa compilação. Fica aqui o alvitre: um “roteiro do lixo”. Se possível com um “apêndice” composto por todas as outras incontáveis incongruências de Luanda.