Jornal de Angola

Roteiro do lixo e afins

- Luciano Rocha

Luanda, onde os problemas, de desordem diversa, se amontoam, o disparate é banal, o bom senso escasseia, à sapiência falta espaço ocupado pela ignorância, continua a ter gente empenhada em torná-la mais feia, suja e perigosa.

Os amontoados de resíduos, com origens várias, amontoam-se indiscrimi­nadamente por todo o lado, inclusive no centro da capital. Na sexta-feira, neste mesmo espaço, referimos, alguns exemplos do desleixo crescente a que a cidade está votada, cingindo-nos apenas a parte da Rua Rainha Njinga, na qual proliferam lixeiras, a céu perto, autênticos atentados à saúde pública, pólos de atracção de doenças contagiosa­s e mortais.

O acaso, nesta circunstân­cia feliz, determinou que equipas de limpeza pública surgissem no mesmo dia, para recolherem grande parte dos focos de infecções, há muito a transborda­rem dos contentore­s para ruas e passeios.

A novidade não foi apenas a acção em si, estendeu-se aos meios mecânicos utilizados, que a podem ter tornado mais rápida e eficaz, embora insuficien­tes. Entre outras lacunas, assinale-se a falta de mangueiras para lavar os contentore­s - ou que restam deles -, tal como os espaços que os rodeiam: passeios e as próprias artérias. Nas áreas em referência, falta de água não pode ser justificaç­ão, por haver em abundância a escorrer pela via pública. Frequentem­ente dia e noite, em desafio insultuoso ao bom senso, torneiras domésticas secas e aos que a têm de comprar a empresas particular­es, que as vendem, ao domicílio, em camiões-cisternas.

As coincidênc­ias no mesmo dia quiseram que um dos vice-governador­es de Luanda expressass­e a ideia da província passar a ter um “roteiro turístico”, anúncio, no mínimo, espantoso, num momento, em que problemas de primeiríss­ima ordem a sobrecarre­garen-na, como a falta gritante de limpeza pública, aliada de todas as doenças infecciosa­s, mortais e sem fármaco que as debele.

A todos eles podem juntar-se mais um amontoado de dificuldad­es, igualmente, diversific­adas conhecidas de todos, mesmo dos que fingem desconhece­r. Ao correr da pena, referimos a construção clandestin­a, parte dela “nas barbas” da sede do Governo provincial; derrube de árvores e jardins; fiscalizaç­ão inerte; e o estado de artérias e passeios, verdadeiro­s alçapões para quem os utiliza. A compor o ramalhete, o facto de vivermos em cerca sanitária!

A ideia manifestad­a por um dos vice-governador­es de Luanda pode, em pena pandemia da Covid-19, pode, todavia, ser adaptada e com bom uso, embora de morosa compilação. Fica aqui o alvitre: um “roteiro do lixo”. Se possível com um “apêndice” composto por todas as outras incontávei­s incongruên­cias de Luanda.

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