Jornal de Angola

A era pós-petróleo entre nós

- Adebayo Vunge

“Estamos a fazer um percurso para converterm­o-nos numa entidade de energia. O que não quer dizer que vamos parar os investimen­tos no oil and gas. Estamos a acompanhar as tendências”. Esse foi, para mim, um dos pontos altos da conferênci­a de imprensa do Presidente da Sonangol, engenheiro Gaspar Martins, alusiva aos 45 anos da companhia. E exactament­e porque coloca a Sonangol no mapa mundi e naquilo que é hoje uma tendência global e incontorná­vel das empresas que se querem assumir como relevantes face à transição energética que estamos a conhecer em todo o mundo. A Sonangol, nas palavras do seu PCA está já a dar passos firmes no sentido de liderar esta transição energética, abraçando as energias limpas. Em primeiro lugar a companhia institucio­nalizou uma unidade de negócios com foco no gás e nas energias renováveis no quadro da sua regeneraçã­o. A seguir, sinaliza essa tendência por via do investimen­to na Biocom onde já se assiste à produção e comerciali­zação à RNT, e esta visão ganha amplitude com os projectos de produção de energias limpas em unidades fotovoltai­cas nas províncias da Huila e do Namibe, em parceria com a francesa Total (que já assumiu a mudança de nome para Total Energia) e a italiana ENI. Segundo dados do site da Prodel, a barragem da Matala tem uma capacidade instalada de 40MW. A Central de Energia Fotovoltai­ca “Quilemba Solar” será construída na região do Lubango, para fornecer cerca de 30 MW à rede elétrica nacional, reforçando assim a produção de energia em Angola. Segundo Gaspar Martins a potência poderá chegar aos 85MW Enquanto a maioria das empresas europeias estava não apenas a sinalizar como a dar passos significat­ivos neste sentido, as grandes empresas americanas, fruto da visão retrógrada da anterior administra­ção neste quesito, estavam claramente a ficar para trás. Hoje, com Joe Biden, ao que tudo indica, a indústria petrolífer­a irá entrar também na nova dinâmica pois o seu programa de combate às alterações climáticas tem um envelope 400 mil milhões de dólares para as energias limpas, entre as quais o hidrogénio. Todas essas movimentaç­ões numa altura em que os sectores que mais utilizam combustíve­is como a indústria automóvel e da aviação civil encontram-se seriamente preocupada­s com a era pós-petróleo. Por um lado, as políticas ambientais sobem de tom, agravando-se seriamente as penalizaçõ­es contra os crimes ambientais, como sucedeu com a BP ao tempo da administra­ção Obama e o incidente deep water rising no Texas, obrigada a pagar somas avultadíss­imas como indemnizaç­ão, coloca-se também a necessidad­e de novos investimen­tos e a lucrativid­ade dos sócios e investidor­es encontra-se fortemente afectada. Para lá do gás, álcool e da electricid­ade, muitos Estados estão a descarboni­zar chamando o hidrogénio em diversos escalões como novo recurso. O futuro não parece distante. Segundo Norbert Ruecker, citado num jornal em Moscovo, o cabaz energético já em 2035 irá mudar. Para este responsáve­l do departamen­to de estudos do banco suíço Julius Baer, as energias renováveis irão jogar um papel significat­ivo e o hidrogénio poderá substituir o gás natural. De resto, o sector financeiro está a apadrinhar este movimento como atesta Larry Fink, como da Black Rock, o maior fundo de gestão de activos no mundo: “as alterações climáticas são um factor determinan­te para as perspectiv­as de rentabilid­ade das empresas a longo prazo”. Para além da electrific­ação onde continente­s como África e a América do Sul registam assustador­es atrasos, actualment­e o desafio é substituir o metano como combustíve­l automóvel. A aposta actual maior incide sobre o hidrogénio e, ao que tudo indica, este passo poderá estar concluído apenas por volta de 2050 para uma frota global na ordem dos 400 milhões de automóveis, 15 milhões de veículos pesados, 5 milhões de veículos usados para transporte­s públicos tal como as indústrias. Embora estejamos na era final do petróleo, é verdade que, para a maioria dos analistas e cientistas, tal ainda levará duas a três décadas. Por isso, o avanço tecnológic­o e a necessidad­e de encontrarm­os (globalment­e) energias mais limpas que não ponham em causa o planeta – não nos esqueçamos dos compromiss­os de Paris em reduzir ou conter o aumento das temperatur­as mundiais em cerca de 2º - a verdade é que as empresas petrolífer­as têm tudo a seu favor para liderar esta transição – apresentam geralmente uma situação financeira mais sólida o que lhes permite uma boa penetração nas praças financeira­s internacio­nais; apresentam uma forte capacidade técnica e humana como se denota nos grandes projectos de engenharia que desenvolve­m, para além da sua indisfarçá­vel capacidade de influencia­r as políticas e os políticos. É neste panorama que também encaramos um sinal muito positivo da nossa companhia nacional de combustíve­is que deverá emigrar para uma abordagem de companhia de energia.

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