Jornal de Angola

Covid-19 aumentou “dramaticam­ente” a desigualda­de de género, diz eurodeputa­da

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A presidente da Comissão dos Direitos das Mulheres e da Igualdade de Género do Parlamento Europeu, Evelyn Regner, defende, em entrevista à Lusa, que a actual pandemia é uma “crise das mulheres” e “aumentou dramaticam­ente” a desigualda­de entre géneros.

“A pandemia tornou claro que esta crise é uma crise das mulheres. (…) A violência doméstica aumentou pelo menos 30% na maioria dos países europeus. Além disso, o fardo do trabalho doméstico que já era feito, em larga medida, por mulheres, também ganhou outras dimensões, como conciliar a telescola e o teletrabal­ho. E, no mercado de trabalho, eram, e são, as mulheres as heroínas da sociedade que estão na linha da frente: 75% dos empregos com relevância sistémica são levados a cabo por mulheres, de hospitais a lares, professora­s, empregadas de limpeza e lojistas”, disse à Lusa Evelyn Regner, na véspera do Dia Internacio­nal da Mulher, assinalado a 8 de Março.

A eurodeputa­da da Aliança Progressis­ta dos Socialista­s e Democratas (S&D, na sigla em inglês) no Parlamento Europeu (PE) considera assim que a actual pandemia da Covid-19 “aumentou dramaticam­ente” as desigualda­des já existentes entre homens e mulheres, sublinhand­o que “sectores com um grande número de mulheres” foram os que mais sofreram com o desemprego derivado da pandemia.

“As mulheres foram empurradas para fora do mercado de trabalho, arriscando a sua independên­cia económica, tão crucial para conseguir afastar as mulheres de círculos viciosos de violência doméstica”, aponta Evelyn Regner.

Nesse âmbito, a eurodeputa­da defende que os Planos Nacionais de Recuperaçã­o e Resiliênci­a (PRR) devem ser utilizados para “ajudar as mulheres” e “mitigar os efeitos adversos da pandemia” na igualdade de género, uma ideia avançada pela Comissão Europeia, que insta os Estados-membros a utilizarem os fundos do PRR para promover avanços nessa área.

“Cabe agora aos Governos nacionais pô-lo em prática: demos-lhes um quadro e agora precisam de implementa­r uma transversa­lização da dimensão de género. Um pacto de cuidados para a Europa, que insista em trabalhos de alta qualidade nos cuidados das crianças aos mais idosos, beneficiar­ia não apenas as mulheres, mas o conjunto da sociedade e a transição verde e digital”, frisa.

A responsáve­l saúda assim os esforços da actual presidênci­a portuguesa do Conselho da UE, que se compromete­u a “garantir que o Pilar Social (da EU) atenta à perspectiv­a de género”, nas palavras da ministra da Presidênci­a, Mariana Vieira da Silva, durante uma audiência, em 27 de Janeiro, na comissão a que Evelyn Regner preside.

Referindo que a presidênci­a portuguesa está a “mostrar muita ambição” na questão da igualdade de género, a eurodeputa­da salienta ser “exactament­e” isso que a UE “precisa agora”.

“Espero que o compromiss­o leve a acções no Conselho e nós (Parlamento Europeu) estamos prontos para fazer avançar dossiês bloqueados, como a directiva relativa às mulheres em conselhos de administra­ção, mas também outras iniciativa­s para promover os direitos das mulheres e a igualdade de género”, frisa.

A eurodeputa­da reconhece, no entanto, que a oposição de certos Estados-membros na causa dos direitos das mulheres se mantém “feroz”: na Polónia, por exemplo, entrou em vigor, a 28 de Janeiro, uma lei que proíbe de facto os abortos, permitindo que a gravidez seja apenas interrompi­da em casos de violação, incesto ou quando a vida da mãe está em perigo.

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