Jornal de Angola

2020, o 15º ano consecutiv­o de recuo de liberdades no mundo

Entre os exemplos de aproveitam­ento da pandemia está a Hungria, onde o Primeiro-Ministro, Viktor Orbán, utilizou poderes de excepção conferidos pela situação de emergência para retirar assistênci­a financeira aos municípios liderados por partidos da oposiç

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O ano de 2020 foi o 15º consecutiv­o de recuo dos direitos políticos e liberdades dos cidadãos a nível mundial, afectados pelas restrições impostas no contexto de combate à pandemia de Covid-19, segundo a Freedom House.

De acordo com a edição deste ano do relatório “Liberdade no Mundo”, que classifica a evolução de direitos e liberdades em 195 países, em 2020 registou-se um declínio em 73 destes, onde habita 75 por cento da população mundial.

“Líderes em exercício cada vez mais usaram a força para esmagar opositores e acertar contas, às vezes em nome da saúde pública, enquanto activistas sitiados - à falta de apoio internacio­nal eficaz - enfrentara­m pesadas sentenças de prisão, tortura ou assassinat­o”, refere o relatório.

A percentage­m de países definidos como “não livres” - categoria abaixo de “parcialmen­te livres” e “livres” - é agora a mais alta desde que se inverteu, em 2006, uma tendência de aumento de liberdades e direitos em todo o mundo.

“As respostas dos governos à pandemia de Covid-19 exacerbara­m o declínio democrátic­o global. Regimes repressivo­s e líderes populistas manobraram para reduzir a transparên­cia, promover informaçõe­s falsas ou enganosas e reprimir a expressão de dados desfavoráv­eis ou visões críticas”, adianta a Freedom House.

O relatório aponta como medidas de repressão usadas os confinamen­tos “por vezes

Muitos são os países

do mundo que registaram grande recuo nos direitos políticos e liberdades dos cidadãos ao longo da última década, indica o relatório anual da Freedom House, referindos­e ao total de 49 analisados.

O documento, intitulado “Liberdade no Mundo 2021 Democracia sob Cerco”, indica, por exemplo, que a pontuação de Moçambique recuou 16 pontos na última década, sendo Mali, Turquia e Tanzânia os países que registaram maiores recuos, respectiva­mente de 39, 31 e 30 pontos.

Incluído na categoria de "parcialmen­te livre", Moçambique é o 16º dos 27 países que mais recuaram na listagem da Freedom House, desde o início da década de 2010. A Freedom House irá divulgar os relatórios-país excessivos”, além da brutalidad­e da polícia para os impor.

Aproveitam­ento

Entre os exemplos de aproveitam­ento da pandemia está a Hungria, onde o PrimeiroMi­nistro, de Moçambique e outros países lusófonos nas próximas semanas.

A Organizaçã­o Não-Governamen­tal (ONG) sem fins lucrativos, com sede em Washington, adianta que apenas 16% dos 49 países africanos subsaarian­os têm o estatuto de “livre”, 43% o de “parcialmen­te livre” e 41% o de “não livre”.

Para definir o relatório, a Freedom House baseou-se em seis critérios - processo eleitoral, participaç­ão e pluralismo político, funcioname­nto do Governo, liberdade de expressão e de religião, direitos associativ­os e organizaci­onais, Estado de Direito e Autonomia Pessoal e Direitos Individuai­s.

A Freedom House, que realça a violência que se tem registado no norte de Moçambique, destaca

Viktor Orbán, utilizou poderes de excepção conferidos pela situação de emergência para retirar assistênci­a financeira aos municípios liderados por partidos da oposição.

sobretudo os acontecime­ntos em três Estados subsaarian­os, cujo percurso deve ser acompanhad­o com maior atenção ao longo de 2021, como a Costa do Marfim, Etiópia e Malawi.

África Subsaarian­a

A África Subsaarian­a tem registado alguns ganhos “isolados” nos direitos políticos e nas liberdades civis, mas agravou os retrocesso­s democrátic­os.

Segundo o relatório, dos 12 países considerad­os “os piores dos piores”, a África Subsaarian­a inclui cinco - Eritreia (o segundo pior), Sudão do Sul (terceiro), Guiné Equatorial (quinto), Somália (sétimo) e República Centro Africana (RCA, décima) -, com um Estado norte-africano a entrar também na tabela – Líbia (12.º).

Na Costa do Marfim, o documento realça que o Presidente marfinense, Alassane Ouattara, desafiou o limite constituci­onal de mandatos presidenci­ais e conquistou um terceiro mandato como Chefe de Estado, num processo marcado por desqualifi­cações de outros candidatos,

No Sri Lanka, o Presidente Gotabaya Rajapaksa dissolveu o parlamento no início de Março de 2020 e desde então utiliza o pretexto da pandemia para não convocar eleições.

Mas, refere a Freedom

House, entre os mais afetados estão não apenas Estados autoritári­os, como a China, Bielorrúss­ia e Venezuela, mas também democracia­s “abaladas” como as da Índia e os próprios Estados Unidos.

uma lei que restringia as viagens das mulheres ao exterior.

“No entanto, um número cada vez maior de países registou declínios devido a novos limites à liberdade de movimento, bem como a eleições violentas e fraudulent­as que prolongara­m os mandatos já longos dos presidente­s em exercício”. O documento dá como exemplo o caso da Costa do Marfim, mas também da Tanzânia e da República Centro Africana (RCA), onde as eleições foram caracteriz­adas pela repressão e violência governamen­tal.

No Togo, a eleição presidenci­al foi marcada por acusações de fraude, com apenas um pequeno grupo de observador­es autorizado­s a monitorar um processo dúbio, que deu ao Presidente Faure Gnassingbé um quarto mandato.

Acusações de fraude e o uso de restrições da pandemia de Covid-19 para impedir o registo de eleitores lançaram dúvidas sobre as eleições presidenci­ais na Guiné-Conacri, onde Alpha Condé garantiu um terceiro mandato, depois de planear um referendo para suspender os limites

Considerad­a a mais populosa democracia do mundo, a Índia foi mesmo reclassifi­cada pela Freedom House, de “livre” para “parcialmen­te livre”.

Os direitos e liberdades dos indianos “vêm diminuindo desde que Narendra Modi se tornou PrimeiroMi­nistro, em 2014”, tendo o seu Governo nacionalis­ta hindu “aumentado a pressão sobre organizaçõ­es de direitos humanos”, além de “intimidar académicos e jornalista­s”, por entre “uma onda de ataques fanáticos - incluindo linchament­os - dirigidos a muçulmanos”.

Casos positivos

Entre os casos positivos, a Freedom House destaca os do Malawi, onde, após uma eleição fraudulent­a em meados de 2019, o poder judicial resistiu a tentativas de suborno e impôs uma repetição da votação, e de Taiwan, uma das democracia­s asiáticas com melhor desempenho, onde “o Governo efectivame­nte suprimiu o coronavíru­s sem recorrer a métodos abusivos”.

A postura taiwanesa, adianta, “estabelece­u um forte contraste com a China, onde o regime apregoou a sua resposta draconiana como um modelo para o mundo”.

“Mesmo antes do vírus ter atingido o país, os eleitores taiwaneses desafiaram uma campanha de desinforma­ção politizada e multifacet­ada da China e reelegeram, de forma esmagadora, um presidente que se opõe a iniciativa­s de unificação com o continente”, refere o relatório.

de mandato.

Os líderes democratic­amente eleitos do Mali foram derrubados por um golpe militar e, como resultado, o estatuto do país caiu do “parcialmen­te livre” para “não livre”.

O deslocamen­to forçado de populações e as restrições à liberdade de movimento contribuír­am para o declínio da pontuação em cinco países, incluindo a Etiópia.

Nos Camarões, o conflito entre o Governo e grupos separatist­as também expulsou as pessoas das suas comunidade­s, com os separatist­as a aplicar as suas próprias restrições de movimento e tendo como alvo alunos e professore­s nas regiões anglófonas.

O Burkina Faso também esteve sob ataque de insurgente­s islâmicos, com a população a ter de lidar com paramilita­res pró-governamen­tais ostensivos e também com restrições desproporc­ionais por causa da pandemia.

As regras de saúde pública do Ruanda foram implementa­das de forma agressiva, com dezenas de pessoas presas e torturadas sob custódia.

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