A segurança alimentar
Muito se fala sobre a necessidade de o país garantir a segurança alimentar, entendida como conjunto de iniciativas que passam pela promoção da produção nacional, sobretudo a agrícola, pela redução das importações e pela existência do necessário para a subsistência das famílias. A agricultura, como sempre foi encarada desde os primórdios da Independência Nacional, continua como a base através da qual se desenvolvem as outras áreas. E nada melhor se através de processos produtivos em que as famílias tenham uma palavra a dizer, com o seu trabalho e desempenho. E a perspectiva desta realidade efectivar-se passa também pelo aproveitamento e maximização da produção de bens em que o país possui vantagens comparativas e, nalguns casos, quase que absolutas. Falamos da mandioca, produto incontornável na dieta de uma vasta franja da população angolana, a que se junta também o milho, a massambala, a batata-doce, apenas para mencionar estes bens que, como entendemos, podem jogar um papel relevante na garantia da segurança alimentar.
Diz-se que Angola é, actualmente, o terceiro maior produtor africano de mandioca e décima quinta mundial, realidade que devia levar as instituições do Estado, os seus parceiros e as famílias, a gizarem, eventualmente, um plano que envolvesse a todos para bem dos esforços no sector agrícola em geral.
Na verdade, o aproveitamento da mandioca como produto para garantir a segurança alimentar transcende este importante desiderato na medida em que se lhe pode agregar valor, antes da dimensão exportável que a mesma comporta, com alguma preparação interna.
Sendo o terceiro maior produtor de mandioca em África, não há dúvidas de que Angola pode maximizar os ganhos que resultam do aumento da produção, da agregação de valor e consequente exportação dentro e fora do continente. É verdade que independentemente do potencial e capacidade produtiva da mandioca, seguramente, registamos ainda um certo défice no que a cobertura do mercado interno diz respeito, quando comparada com os níveis de produção.
Urge proporcionar meios materiais e financeiros para os produtores, a todos os níveis, no sentido de assegurar que os mesmos tenham uma palavra a dizer no processo produtivo. Numa altura em que o Banco Central exige que os bancos comerciais dediquem 2,5 por cento dos seus activos líquidos para financiar a produção, nunca será demais lembrar que entre os beneficiários deverão estar, necessariamente, os que se encontram aliados com as estratégias do Executivo.
A garantia da segurança alimentar deve ser alicerçada em estratégias de produção agrícola, agro-industrial e industrial que sirvam sobretudo e fundamentalmente o mercado interno.
Não há razões para se continuar a importar bens agrícolas com garantias de produção no país, que apenas contribuem para aprofundar a insegurança alimentar, fazer colapsar a produção interna e volatilizar os preços dos bens.