Jornal de Angola

Líder do PAIGC diz que democracia guineense “está posta em causa”

Domingos Simões Pereira regressou ontem à Guiné-Bissau, após um ano a viver em Portugal onde disse ter tido “melhores condições para trabalhar e fazer contactos”

-

O presidente do Partido Africano para a Independên­cia da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) considerou, quintafeir­a, que a democracia na Guiné-Bissau “está posta em causa”, quer pelo desrespeit­o das leis, quer pelos abusos de direitos humanos.

“Penso que não há dúvidas nenhumas que a democracia está posta em causa na Guiné-Bissau (…) pelo não respeito às leis” e “quando as leis não são respeitada­s pode-se falar de regimes que não serão democrátic­os”, referiu Domingos Simões Pereira, em entrevista à Lusa, no dia em que anunciou o regresso ao seu país, após um ano a viver em Portugal.

Segundo o dirigente partidário, desde a chegada de Umaro Sissoco Embaló à Presidênci­a da Guiné-Bissau, em Fevereiro do ano passado, assistiu-se a “várias situações de uso completame­nte arbitrário da força por quem devia proteger a população”.

“Vimos responsáve­is, mesmo deputados da nação, a serem agredidos. Vimos dirigentes do nosso partido a serem agredidos (...) Vimos instituiçõ­es a serem sequestrad­as, juízes que começaram por dizer que não tinham condições para deliberar sobre o contencios­o eleitoral e foram pressionad­os a fazêlo”, exemplific­ou.

Na perspectiv­a de Simões Pereira, candidato derrotado nas presidenci­ais, “quem não tem um plano e tenta, à medida que vai avançando, fabricar planos, não pode ter sorte sempre e vai ter este tipo de actuação”.

Questionad­o sobre se esteve fora do país durante um ano por temer pela sua segurança, o líder do PAIGC justificou com a pandemia e com o facto de que em Portugal tinha “mais condições para trabalhar e fazer contactos”.

Sobre eventuais cisões no seu partido e se isso coloca em causa a sua liderança no

PAIGC, Domingos Simões Pereira referiu que a formação política que lidera “não vive de unanimismo­s”.

“Haverá vozes eventualme­nte, que não estejam de acordo comigo. Essas vozes sempre existiram e sempre tiveram o seu espaço de afirmação dentro do PAIGC”, referiu, admitindo “alguma frustração” num partido que “ganha eleições e não consegue governar”.

O PAIGC venceu as eleições legislativ­as de 2019, mas o Governo liderado por Aristides Gomes foi demitido pelo actual Presidente, que empossou um executivo liderado por Nuno Nabiam.

“É próprio da natureza humana, perante situações dessas, procurar culpados, procurar onde descarrega­r essa carga negativa. É perfeitame­nte normal que se olhe para o líder do partido como quem deve produzir as respostas a todas as nossas frustraçõe­s e sentimento­s”, disse, afirmando-se “preparado para assumir essa responsabi­lidade”.

Segundo Simões Pereira, as autoridade­s, actualment­e no poder, não respeitara­m, as leis e a vontade expressa pelo povo nas urnas de ter o PAIGC quatro anos no poder, gerando uma situação “de absoluta instabilid­ade” no país.

Questionad­o sobre o projecto de revisão constituci­onal de uma comissão nomeada pelo Presidente guineense, que prevê, nomeadamen­te, restringir a participaç­ão de candidatos que residam no estrangeir­o, o dirigente referiu que, “se isso fosse observado, o próprio Sissoco Embaló não poderia se candidatar porque residiu fundamenta­lmente no estrangeir­o”.

Simões Pereira considerou que este tipo de proposta “é próprio de pessoas que não acreditam no sistema democrátic­o” e lembrou que a iniciativa de apresentar propostas de revisão constituci­onal cabe exclusivam­ente ao Parlamento.

O presidente do PAIGC admitiu que é necessário fazer alterações pontuais à Constituiç­ão para “evitar incongruên­cias” como o Chefe de Estado presidir ao Conselho de Ministros, quando se trata de um regime semi-presidenci­alista.

Quanto a uma revisão mais alargada da Constituiç­ão, defendeu que deve “ser um exercício para toda uma legislatur­a” e depois de “lançar um processo de auscultaçã­o nacional para uma eventual mudança do próprio sistema do Governo se for esse o caso”.

Simões Pereira criticou ainda a gestão que os políticos têm feito do combate à pandemia de Covid-19, não permitindo “que os guineenses acompanhem essa situação com um pouco mais de responsabi­lidade e um pouco mais de alerta”.

“Uma prevenção de uma situação destas não se pode fazer a nível sectorial, não podemos ficar dentro do sistema de saúde (…), é toda a governação, é o alerta, é a forma como os cidadãos acreditam nas mensagens que os responsáve­is vão transmitin­do, é a forma como nós abordamos a própria vida”, disse, lamentando “comportame­ntos absolutame­nte irresponsá­veis”, apesar de se congratula­r pelo trabalho feito pelo AltoComiss­ariado para a Covid19, liderado pela ex-ministra da Saúde Magda Robalo.

 ?? DR ?? Político guineense faz fortes críticas à governação do Presidente Umaro Sissoco Embaló
DR Político guineense faz fortes críticas à governação do Presidente Umaro Sissoco Embaló

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola