As nossas igrejas
O Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente realizou, há dias, a conferência sobre o reforço do diálogo inter-eclesial em Angola, para se avaliar os conflitos internos nas igrejas, numa altura em que parte significativa das confissões religiosas vivem problemas de divisões. A iniciativa do Executivo é oportuna e tal como esclareceu o ministro a pretensão, além de permitir familiarizar-se melhor com o que algumas igrejas vivem, visa também ajudar as instituições religiosas.
O mais importante é o apelo que o Executivo, através do ministro da Cultura, Turismo e Ambiente, faz no sentido do diálogo e da concertação, recursos inesgotáveis, ferramentas disponíveis e completamente acessíveis a todos. É verdade que a dimensão intemporal daquelas variáveis depende em grande medida da predisposição das pessoas, individual ou colectivamente, de acederem a elas e nunca pô-las de lado a favor de meios onerosos.
O apelo ao diálogo no seio das denominações religiosas, que eventualmente vivam problemas de divisão, de alas e outras formas conflituosas de convivência, radica precisamente na visão segundo a qual as igrejas em geral representam uma das reservas morais que temos na sociedade. Não é debalde que, volta e meia, ouvimos sugestões para as famílias e para as pessoas recorrerem às igrejas sempre que confrontadas com problemas de ordem espiritual e, muito recentemente, até por situações de ordem material. As igrejas enquanto refúgio e eventual solução dos problemas com os quais se deparam as famílias em geral e as pessoas singulares tem que ver, precisamente e em muitos casos, com a confiança, credibilidade e imagem que elas infundem aos segmentos populacionais em que se inserem. Mal ou bem e independentemente dos problemas por que passam algumas denominações religiosas, particularizandose os desencontros entre os líderes dentro de uma mesma igreja ou confissão, parte significativa da sociedade angolana continua a encarar as igrejas em geral como um ente relevante na sociedade. E muitos preferem sempre dissociar os problemas que as pessoas criam da igreja enquanto instituição em si, uma leitura que acaba por preservar o papel da igreja como reserva moral.
Acreditamos que o apelo do Executivo no sentido de as igrejas em geral privilegiarem sempre as boas práticas na resolução dos diferendos internos, ensinando e moralizando a sociedade, trata-se de uma mensagem que vai chegar aos destinatários, aos entes que se revêem nele e ter os seus efeitos. Não há dúvidas de que, enquanto seres humanos imperfeitos e falíveis, os religiosos vão enfrentar, muitas vezes, renovados desafios e problemas nas confissões religiosas em que se encontram. O importante vai ser a capacidade que as lideranças, eventualmente desavindas, vão demonstrar para resolver os problemas internos.
Obviamente, fica também lançado o desafio às denominações religiosas para que contem sempre com as instituições do Estado, no processo de construção da sociedade que pretendemos para Angola.