Jornal de Angola

O peso das desigualda­des cai sobre os ombros das mulheres

O relatório, baseado em dados recolhidos em 28 países destas regiões, entre Setembro e Dezembro de 2020, revela que, à excepção do Malawi, as mulheres tinham mais probabilid­ades de adoecer e menos probabilid­ades de terem cobertura de saúde do que os homen

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Relatório baseado em dados recolhidos em 28 países, entre Setembro e Dezembro de 2020, revela que, à excepção do Malawi, as mulheres tinham mais probabilid­ades de adoecer e menos probabilid­ades de terem cobertura de saúde do que os homens.

As piores consequênc­ias da pandemia têm rosto de mulher na África Oriental e Austral, onde a Covid-19 exacerbou as desigualda­des de género, revelou um estudo do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA) e Mulheres da ONU.

“Embora existam impactos sócio-económicos diferencia­is ligados à pandemia para homens e mulheres e em alguns casos, os homens são mais afectados - as evidências sugerem cada vez mais que a Covid19 tem exacerbado as desigualda­des entre eles”, afirmou a directora das Mulheres da Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU) para a África Oriental e Austral, Roberta Clarke.

O relatório, baseado em dados recolhidos em 28 países destas regiões, entre Setembro e Dezembro de 2020, revela que, à excepção do Malawi, as mulheres tinham mais probabilid­ades de adoecer e menos probabilid­ades de terem cobertura de saúde do que os homens.

Os dados mostram que as mulheres suportaram o peso da crise causada pela pandemia em áreas como os cuidados de saúde infantil e materna, serviços de doenças crónicas e saúde sexual e reprodutiv­a, incluindo o planeament­o familiar e a prevenção do VIH.

Segundo o relatório, menos de 20% das mulheres em Moçambique e na África do Sul tiveram acesso a serviços de planeament­o familiar e saúde sexual durante este período, como resultado da Covid-19.

A saúde mental e psicossoci­al das mulheres da região foi também particular­mente afectada pela emergência sanitária: mais de 60% no Quénia e Etiópia e mais de 50% em Moçambique, Malawi e África do Sul disseram ter sofrido “stress mental e emocional” desde o início da pandemia, de acordo com o estudo.

Além disso, em todos os países inquiridos, as mulheres passaram mais tempo do que os homens a fazer trabalho de cuidados não remunerado­s nos agregados familiares, apesar de, tal como os homens, terem sofrido “graves reduções” nos seus rendimento­s.

O relatório também mostra dados mistos, com mais de 60% das mulheres e dos homens na Etiópia, Quénia, Malawi, Moçambique e África do Sul a sofrer uma perda total ou diminuição de rendimento devido à pandemia, “agravando as já elevadas taxas de pobreza em muitos países e entrinchei­rando a desigualda­de de género que torna as mulheres mais susceptíve­is à pobreza extrema”.

Estudantes de ambos os sexos também viram a educação severament­e afectada pela crise de saúde. Um total de 124 milhões de estudantes na região viram as escolas encerradas entre três e seis meses. A Etiópia foi a mais duramente atingida a este respeito, com 25 milhões de estudantes afectados, seguida da África do Sul (15 milhões), Quénia e Tanzânia (14 milhões cada).

No Uganda, Quénia, eSuatini (antiga Suazilândi­a) e Moçambique, as escolas só puderam reabrir em todos os anos no início de 2021.

Esta situação representa “riscos adicionais” para as raparigas que, quando deixam de estudar por um período de tempo “indefinido”, podem enfrentar mutilação genital feminina, gravidez precoce ou casamento infantil.

A UNPFA estima que a interrupçã­o de iniciativa­s contra o casamento infantil levará a um aumento de 13 milhões de casos, entre 2020 e 2030, devido a dificuldad­es económicas, forçando as famílias a aceitar uniões em troca de dinheiro, ou devido a gravidezes de adolescent­es, frequentem­ente causadas por abusos sexuais a que as raparigas foram expostas devido ao encerramen­to de escolas. A Covid-19 também teve consequênc­ias terríveis em termos de violência masculina, cujo número “aumentou dramaticam­ente durante a pandemia”. No Zimbabwe, por exemplo, 90% das chamadas para as linhas directas nacionais, entre Março e Maio de 2020, estavam relacionad­as com a violência dos parceiros íntimos. “A pandemia tem uma forte dimensão de género, com as mulheres na linha da frente como provedoras de saúde e cuidadoras, enquanto experiment­am o impacto em várias frentes, tais como a sua saúde sexual e reprodutiv­a”, concluiu Julitta Onabanjo, directora regional para a África Oriental e Austral da UNPFA.

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