Jornal de Angola

A crença tem limite

- Matias Adriano

Em leves pinceladas, traçadas, aqui mesmo, neste espaço, na edição de ontem, tratei, mais palavra menos palavra, de tipificar a posição do Ministério da Juventude e Desportos, de acudir à crise financeira da FAF e permitir a Selecção Nacional realizar os jogos com a Gâmbia e com o Gabão, como uma lufada de ar fresco. A desistênci­a transforma­ria, pois, o país em vítima de acerbas críticas, para lá das consequênc­ias punitivas com que iria arcar.

Faltou dizer que todo exercício, que se venha a fazer, visa apenas salvaguard­ar o bom nome e honra de Angola, respeitand­o o que prescrevem os regulament­os da Confederaç­ão Africana de Futebol. Não fosse, pouco ou nada valeria o esforço, porque, honestamen­te falando, os jogos em falta não deixam de ser para mero cumpriment­o de calendário.

De resto, acreditar na possibilid­ade de qualificaç­ão ao CAN'2022, como apregoa o selecciona­dor Pedro Gonçalves, é no mínimo ser detentor de uma crença sem limite. Ainda que do ponto de vista matemático seja possível, na mesma não deixa de ser uma hipótese demasiado remota. Além disso, devemos convergir que pelo nível de futebol, sofrível, explanado, Angola tem andado muitos furos a baixo dos seus concorrent­es de grupo.

O esforço que está ser conjugado pelo Minjud para realizar as duas últimas jornadas, devia excluir a convocatór­ia de jogadores que actuam no estrangeir­o, como forma de evitar despesas desnecessá­rias, mais a mais agora que com os testes à Covid-19, nos actos de embarque e de desembarqu­e, as viagens passaram a ser mais onerosas e enfadonhas.

Acusem-me, de alguma leviandade, se for caso para tanto. Mas sou daquele para quem este exercício seria mero desperdíci­o de verbas. Os Palancas Negras já passaram ao largo da qualificaç­ão, por falta de ousadia competitiv­a e, se calhar, de auto-estima. O que vem pela frente, reitero, não é senão mero cumpriment­o de calendário, e tentar evitar o último lugar do grupo. Claro está, houve vezes em que se logrou a qualificaç­ão “in-extremis”. Mas Deus não tem BI angolano.

Sou apologista da ideia de Paulo Tomás, para quem perdida a qualificaç­ão, Pedro Gonçalves devia aproveitar, nos próximos dois jogos, rodar jogadores da Selecção Sub20, já na esteira da renovação que se impõe, para os próximos compromiss­os, sendo um destes o torneio de apuramento ao Mundial do Catar.

O que fica evidente, é que o nosso futebol carece de profundas mudanças, para voltar a ser futebol, no sentido autêntico da palavra. A complexida­de do processo pode exigir sacrifício­s. Mas se a solução passa pela troca de tudo e de todos não se deve tergiversa­r. O nosso futebol, acamado na Unidade de Cuidados Intensivos, precisa de rumo...

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