Jornal de Angola

“Casamento do filho do Nogueira”

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Azevedo Eduardo Campos nasceu na aldeia de Talambanza, arredores de Kitexi. Tinha 14 anos e frequentav­a a 4ª classe, quando tomou conhecimen­to e começou a ler os “jornais do Kongo”. Foi um dos que leu vários destes panfletos para os outros. A última publicação tinha instruções precisas para o ataque. Em forma codificada, podia ler-se: “o dia do casamento do filho do Nogueira”.

Norbel Vasconcelo­s lembra-se de ter tomado conhecimen­to, pela primeira vez, dos panfletos, num domingo, depois da reza na capela protestant­e, da sua aldeia, no Kwale.

José Mário da Silva tem 76 anos, tinha 16 quando se informou sobre a circulação dos panfletos por volta do ano de 1958, trazidos por Pedro Vida Garcia, que pedia para selecciona­rem as pessoas de confiança para tomarem contacto e lerem para os outros que não sabiam ler.

A segunda vez que tomou contacto com a presença dos activistas na aldeia foi em 1960. Desta vez, a missão era recolher a contribuiç­ão dos nativos, de 2,5 escudos. Foi também sua missão a formação das primeiras células clandestin­as na sua aldeia Mungaji, e outras da circunscri­ção de Nova Caipemba (Kipemba), na actual comuna de Kipedro, Ambuíla.

Pedro Vida nasceu na aldeia Mpete, também na região de Nova Caipemba. Liderou a formação das primeiras células nas aldeias Mungaji, Bumbe e Kakuaku, tendo também estabeleci­do os primeiros contactos com os pastores das missões da Igreja Evangélica do Norte de Angola, vulgarment­e conhecida, na altura, por Igreja Protestant­e.

José Mário da Silva indica, também, Pedro Vida como o protagonis­ta que ampliou a rede clandestin­a em muitas aldeias, como Ambuila, Kitoki, Kamababi, Kuale e Talambanza, cujos membros seriam fundamenta­is na mobilizaçã­o dos jovens para o ataque contra os colonizado­res, que viviam em Kitexi, e mais tarde nas fazendas.

Presentes estavam os nacionalis­tas (tratados por delegados) Pedro Vida, Pedro dos Santos Manuel, Rodrigues Ngodia e Manuel Bernardo. Alguns panfletos traziam o rosto de Holden Roberto, então líder da UPA, que se encontrava no Congo Belga. Em destaque a frase: “se não matarem vão morrer, se matarem também vão morrer”.

Numa das três reuniões em que Azevedo Campos participou, os delegados afiançavam que a luta contra os colonos seria generaliza­da e que duraria apenas 15 dias, o suficiente para poderem alcançar a independên­cia.

Entre os nacionalis­tas, todos ligados à UPA, constavam Pedro Vida Garcia, que expandia o incentivo à luta no corredor de Kitexi, Ambaca e Ambuíla, Manuel Bernardo, na linha do Uíge e Negage, Laborn, encarregad­o pela direcção Songo e partes do então Concelho Administra­tivo do Uíge. Ou ainda Pedro dos Santos, que mobilizava a população na região de Nambuangon­go.

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