Morte de trabalhadores
interlocutores do Jornal de Angola, que participaram no levantamento, desmentem os relatos dos colonos portugueses e que ainda hoje são citados por alguns círculos, segundo os quais foram, igualmente, assassinados, em Kitexi, alguns negros que, saídos do Sul de Angola, trabalhavam nas fazendas, lojas ou residências atacadas.
José Kidimbo, o mais velho de todos, garante que não foi morto nenhum negro ou mulato que trabalhasse com os colonos. Por sua vez, Manuel Joaquim assinala terem recebido orientações muito expressas para não matarem os negros que trabalhassem com os colonos, assim como não deveriam saquear as mercadorias, nem outros bens. “A nossa missão era apenas atacar os colonos e mais nada. Eram eles que nos maltratavam, eram os que deveríamos atacar”, afirma.
Ernesto Kabelami explica que as mortes dos empregados negros ocorreram nos ataques posteriores, já nas fazendas e no segundo ataque, do dia 13 de Abril, contra a vila de Kitexi. Foram mortos, segundo ele, aqueles que se colocavam à frente, a defender os patrões. “Estes sim, não tinham como não serem abatidos”, disse.
No ataque contra os colonos, na vila de Kitexi, só participaram pessoas que eram nativas das aldeias. Nenhum cidadão nascido noutros lugares de Angola foi comunicado ou mobilizado para o ataque daquele dia. “Somente depois da retaliação colonial e depois de entrarmos e nos fixarmos nas matas, onde fomos obrigados a viver até à Independência, em 1975”, explica.
Narciso André Kanga enfatizou o secretismo que se revestiu a preparação dessa acção, mas acrescenta: “nos enfrentamentos não se escolhem os alvos, não há tempo de ver se é do Sul ou do Norte. Os que aparecessem, a defender o colono, morriam. Nesta confusão até perdemos um irmão, o Alfredo André, que era de Kitexi, que defendia o branco dele”, relata.
Abandonados nas fazendas, por morte ou por fuga, pelos seus patrões, juntaram-se à causa da luta e combateram com os naturais de Kitexi. É o caso de Paulino Couve, que trabalhava na fazenda Alegria, que atingiu a elite da chefia guerrilheira, com a categoria de comandante.
Havia ainda o Simão de Almeida e o Zeferino Francisco, bons combatentes, que lutaram pela Independência ao lado de outros chefes guerrilheiros de Kitexi, como o Loreto António Manuel, da aldeia do Mungaji, regedoria de Nova Caipemba, que foi comandante, tendo como adjunto o Ferraz Fama Panda.
Outros saídos do Sul integraram as unidades comandadas pelos natos de Kitexe, como Pedro João Cruz, Bessa Monteiro, Pedro Afamado, Matseiu, Mabuatu, o Ferraz Bomboko, da aldeia do Kolua, que morreu muito jovem, em 1962, por doença, assim como o próprio José António Kidimbo, que começou como logístico e terminou a guerra como comandante de uma frente, depois de passar por várias formações em Kinkuzu, no então Zaíre.
Da região de Negage (Ngaji na língua hungu) tinha o Neves Kapemba, Cristóvão Matos Baquina, o Joaquim Ngunga (o Mulenvu), enquanto na Vista Alegre e região da Vila Viçosa emergiu Adão Kisonde. José Kambandu, natural de Ambuila, e tantos outros eram chefes guerrilheiros que comandavam as tropas, tal como os compatriotas nascidos no Sul, porque a causa era a mesma, enfatizou José Mário da Silva.
José Kidimbo disse que muitos compatriotas do Sul, com os quais combateu, preferiram fixar-se na região, depois de a guerra terminar, tendo formado famílias. Muitos jovens foram acolhidos nas sanzalas por famílias locais. “Lhes deram raparigas para amigar”, disse para garantir que não faz sentido a narrativa de mortes selectivas de negros.