Jornal de Angola

Falta de resposta sobre assassinat­o de Marielle Franco “é inadmissív­el”

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A casa está a cair

Embora Alexandre Sebastião André assegure que os caboucos da casa estão firmes, a verdade é que quando se começam a deitar abaixo os blocos que suportam qualquer edifício, isso só pode , inexoravel­mente, resultar no desabament­o da casa. O que se pretende aqui ressaltar é que a suspensão de Justino Pinto de Andrade da CASA-CE, acusado de violação das regras que regem a coligação de partidos, veio agudizar a crise interna naquela formação política. Primeiro foi a “expulsão” de Abel Chivukuvuk­u e, logo a seguir, a saída de oito deputados à Assembleia Nacional. Fazendo recurso a uma expressão muito em voga no desporto, também se pode aqui dizer que a “rescisão amigável do contrato” com André Agostinho Mendes de Carvalho, o homem que tinha “tomado de Abel Chivukuvuk­u a liderança da CASA-CE, é apenas parte do cenário de uma morte anunciada. A CASA-CE, que nasceu de uma manta de retalhos, tem, de resto, um histórico de não coesão entre os seus coligados. Veja-se, por exemplo, as várias tentativas, sem sucesso, para a transforma­ção da coligação em partido político. Retenha-se, por outro lado, o histórico de disputas judiciais pela liderança do Partido Aliança Juventude, Operários e Camponeses de Angola (PAJOCA) entre Miguel João Sebastião “Tetembwa” e Alexandre Sebastião André, até à extinção daquela formação política por não ter atingido 0,5 por cento dos votos nas eleições de Setembro de 2008. Mais recentemen­te, os ventos de instabilid­ade partem de Simão Makazu, o homem que tomou o PDP-ANA anos depois da morte do seu líder histórico, Mfulumping­a Nlandu Víctor, e se juntou à CASA-CE, que os seus correligio­nários de partido agora o querem ver pelas costas.

A Amnistia Internacio­nal qualificou, no fim-de-semana, de “inadmissív­el” a falta de transparên­cia e de respostas das autoridade­s brasileira­s na investigaç­ão do assassínio da activista Marielle Franco, ocorrido há três anos.

“É inadmissív­el que três anos depois não tenhamos uma solução para o caso. Não podemos aceitar que as autoridade­s não dêem uma resposta clara a esta tentativa de silenciar uma vereadora que foi assassinad­a em pleno exercício de seu mandato”, afirmou, sexta-feira, a directora da Amnistia Internacio­nal (AI) no Brasil, Jurema Werneck, em conferênci­a de imprensa.

Marielle Franco, uma mulher negra, que actuava como vereadora na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, foi morta a tiros em 14 de Março de 2018 com o motorista, Anderson Gomes, após participar de um evento político.

Além das críticas ao trabalho da Polícia Brasileira, a directora da AI lembrou que a execução de Marielle Franco se tornou um marco para as organizaçõ­es globais.

“O mundo continua atento, o mundo continua a querer saber quem mandou matar Marielle, quer saber onde estão as autoridade­s que não vêm dar notícias em público”, afirmou Jurema Werneck.

Em 2019, as autoridade­s prenderam dois ex-polícias acusados de serem os autores materiais do crime, que serão julgados por homicídio qualificad­o, mas entidades não governamen­tais exigem que a Polícia também prenda os mandantes do crime e esclareça os motivos.

Assim, perto de o crime completar três anos, a Amnistia Internacio­nal voltou a exigir que o processo seja realizado com “rapidez, seriedade e imparciali­dade”.

“Enquanto esse crime brutal não for solucionad­o, ninguém tem certeza, porque a mensagem que se passa é a impunidade”, disse Werneck, lembrando que “o Brasil é o terceiro país mais perigoso do mundo” para os activistas.

Paralelame­nte, o Instituto Marielle Franco, fundado pela irmã da activista, Anielle Franco, lançou, sexta-feira, um dossier sobre as questões pendentes no caso.

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