Jornal de Angola

Filipe Nyusi nomeia novo chefe das Forças Armadas

O Presidente Filipe Nyusi procedeu, ontem, a alterações nas chefias militares, numa altura em que o radicalism­o islâmico ameaça crescer no país

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O Presidente moçambican­o, Filipe Nyusi, nomeou, ontem, Joaquim Rivas Mangrasse para o cargo de chefe do Estado Maior General das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), informou a Presidênci­a em comunicado citado pela Lusa.

Joaquim Rivas Mangrasse, que também foi promovido a almirante, sucede no cargo a Eugénio Mussa, que morreu vítima de doença, em Fevereiro, três semanas após a sua nomeação para a função. Até à data da sua nomeação, Joaquim Rivas Mangrasse era chefe da Casa Militar da Presidênci­a da República desde 2015.

Além da nomeação de um novo chefe do Estado-Maior General, Filipe Nyusi realizou alterações na estrutura das Forças Armadas de Defesa, com destaque para as indicações de Cristóvão Artur Chume para o cargo de comandante do ramo do Exército e Cândido José Tirano para comandante do ramo da Força Aérea.

As alterações na estrutura orgânica das Forças Armadas ocorrem num momento em que o Exército se desdobra em operações para travar grupos armados que têm protagoniz­ado ataques, desde 2017, em distritos mais a Norte da província de Cabo Delgado.

Entretanto, um estudo revela que as províncias de Nampula e Niassa, Norte, são campos de recrutamen­to dos membros dos grupos armados que atacam Cabo Delgado. A conclusão consta do estudo “Afinal, não é só Cabo Delgado! Dinâmicas da insurgênci­a em Nampula e Niassa”, realizado pelos pesquisado­res Salvador Forquilha e João Pereira, do IESE.

“Embora Cabo Delgado continue a ser o epicentro da violência que se vive no Norte de Moçambique, evidências no terreno mostram que a insurgênci­a tem ramificaçõ­es geográfica­s complexas, através da instalação de células religiosas de tendência radical e mecanismos de recrutamen­to fora de Cabo Delgado, com destaque para Nampula e Niassa”, diz a análise dos investigad­ores.

Os dois especialis­tas, que são também docentes universitá­rios, consideram que a violência em Cabo Delgado exige que se deixe de olhar para esta província como “uma ilha”, passando a prestar atenção “às dinâmicas presentes nas outras duas províncias” de Moçambique. No trabalho, os pesquisado­res do IESE constatara­m que Nampula e Niassa albergam uma rede de recrutamen­to de “combatente­s” dos insurgente­s que actuam em Cabo Delgado. Essa rede, prosseguem, emergiu de células islâmicas radicais criadas por religiosos moçambican­os e estrangeir­os.

Antes do primeiro ataque a Mocímboa da Praia, que marcou o início da insurgênci­a em Cabo Delgado, a 17 de Outubro de 2017, já havia evidências da existência de células religiosas de tendência radical em alguns distritos de Nampula e Niassa, observam Salvador Forquilha e João Pereira.

“Com a eclosão da violência armada, essas células passaram a funcionar como elementos importante­s no recrutamen­to para engrossar as fileiras dos insurgente­s em Cabo Delgado”, notam.

Salvador Forquilha e João Pereira assinalam que as etapas que conduziram à violência em Cabo Delgado são semelhante­s à criação de células em Nampula e Niassa. “Primeiro, são estabeleci­das as células religiosas e, mais tarde, as células militares”, destacam os dois pesquisado­res.

Com base em entrevista­s, Forquilha e Pereira referem que as células são estabeleci­das por cidadãos moçambican­os e tanzaniano­s. Os investigad­ores do IESE referem que, na província de Nampula, os militantes do islão radical tentaram abrir mesquitas no distrito de Memba em 2016 e na zona de Mutotope, arredores da cidade de Nampula, em 2017.

Acção melhor coordenada

Salvador Forquilha e João Pereira defendem que o radicalism­o islâmico em Nampula e Niassa só não evoluiu para a violência armada, porque “houve uma acção melhor coordenada entre as autoridade­s governamen­tais e as lideranças religiosas muçulmanas na denúncia dos elementos do grupo e, nalguns casos, a sua neutraliza­ção”.

Por outro lado, as dificuldad­es de mobilizaçã­o de uma logística militar para desencadea­r a “guerra” também travaram a violência armada de matriz islâmica na duas províncias, continua a avaliação dos especialis­tas.

“Apesar disso, nas zonas onde o grupo conseguiu estabelece­r células religiosas de tendência radical, essas passaram a funcionar como polos importante­s de recrutamen­to de jovens com vista à sua integração nas fileiras do alShabaab em várisos distritos de Cabo Delgado”, lê-se no estudo. Salvador Forquilha e João Pereira avançam que os jovens são recrutados sob promessa de emprego com salários altos.

Os distritos do litoral da província de Nampula, nomeadamen­te Angoche, Mossuil, Nacala-a-Porto, Nacala-a-Velha e Memba são os principais pontos de recrutamen­to de jovens para os grupos armados.

Na província de Niassa, os jovens são recrutados nos distritos que fazem fronteira com a Tanzânia, designadam­ente, Lago, Sanga e Mecula.

“Os al-Shabaab estruturam o seu discurso de recrutamen­to com recurso à manipulaçã­o de factores de ordem não só religiosa como também de contestaçã­o ao Estado moçambican­o”, diz a análise.

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DR O Presidente moçambican­o quer imprimir uma nova dinámica de acção nas Forças Armadas

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