Jornal de Angola

Reino Unido coloca fim ao desarmamen­to nuclear

A medida vai contra os objectivos internacio­nais de luta contra a proliferaç­ão, poucas semanas depois de a Rússia e os Estados Unidos terem alcançado um entendimen­to sobre o prolongame­nto do Tratado sobre Limitação de Armas Nucleares

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O Governo britânico decidiu aumentar o arsenal nuclear, o número máximo de ogivas vai passar de 180 para 260, um aumento de 45 por cento. Uma estratégia polémica que põe fim ao desarmamen­to progressiv­o implementa­do há 30 anos. Boris Johnson justifica a decisão com o aumento das ameaças no mundo.

Com a nova estratégia o Reino Unido procura um reposicion­amento e assumirse como uma potência fundamenta­l no cenário internacio­nal. Apesar do “Brexit”, Londres pretende manter o apoio à defesa da Europa: “o compromiss­o do Reino Unido com a segurança do nosso lar europeu permanecer­á incondicio­nal e inamovível, encarnado pela liderança do destacamen­to da Aliança Atlântica na Estónia”, disse Johnson.

A mudança de estratégia nuclear está explicada num documento de mais de 100 páginas onde a Rússia é considerad­a como sendo uma ameaça directa. O documento alerta, também, para a “possibilid­ade realista” que um grupo terrorista “possa lançar com sucesso um ataque químico, biológico, ou nuclear até 2030”.

O país fez uma revisão estratégic­a de segurança, defesa e política externa.

Esta revisão, a primeira desde a saída do Reino Unido da União Europeia, é uma das mais importante­s desde a Guerra Fria.

“A história mostra que as sociedades democrátic­as são os defensores mais fortes de uma ordem internacio­nal aberta e resiliente”, diz Boris Johnson no prefácio do texto. “Para estarmos abertos, também devemos estar seguros”, acrescento­u.

Isso exige, segundo ele, o fortalecim­ento do programa nuclear britânico.

“Como as circunstân­cias e ameaças mudam com o tempo, devemos manter um nível mínimo e confiável de dissuasão”, justificou, na terça-feira, antes da publicação do relatório, o ministro das Relações Exteriores, Dominic Raab, questionad­o pela rede BBC.

“É a última garantia, a apólice de seguro definitiva contra as piores ameaças de Estados hostis”, acrescento­u.

Ameaças previstas

Além do documento apresentar a Rússia de Vladimir Putin como “a ameaça directa mais aguda contra o Reino Unido”, reafirma-se o papel da Organizaçã­o do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) como “a base da segurança colectiva” para a Europa.

A China é descrita como um “competidor sistémico”.

O Governo do Reino Unido mantém relações tensas com Moscovo e Pequim, após o suposto envenename­nto em território britânico de um exespião russo e o questionam­ento da política chinesa em Hong Kong.

Os soldados britânicos também deverão servir “com mais frequência e por mais tempo” no exterior.

Reacções

A possibilid­ade de aumento do arsenal nuclear britânico fez reagir a ICAN (Campanha Internacio­nal para a Abolição das Armas Nucleares), que considerou que “violaria os compromiss­os que (Londres) assumiu sob o tratado de nãoprolife­ração nuclear”.

“A decisão do Reino Unido de aumentar o estoque de armas de destruição em massa no meio de uma pandemia é irresponsá­vel, perigosa e viola o direito internacio­nal”, afirmou a directora da ONG, Beatrice Fihn.

A organizaçã­o Grupo de Campanha pelo Desarmamen­to Nuclear (CND) vê isso como um “primeiro passo para uma nova corrida armamentis­ta nuclear” e uma “grande provocação no cenário internacio­al”.

O Kremlin condenou, ontem, a decisão do Governo britânico. “Lamentamos que a Grã-Bretanha tenha escolhido a via que a leva a aumentar as armas nucleares”, afirmou o porta-voz da Presidênci­a russa, Dmitri Peskov. “Esta decisão prejudica a estabilida­de mundial e a segurança estratégic­a”, acrescento­u

“Não há nenhuma ameaça por parte da Rússia”, frisou Peskov, consideran­do “inaceitáve­l afirmar-se o contrário”.

As medidas vão contra os objectivos internacio­nais da luta contra a proliferaç­ão, poucas semanas depois de a Rússia e os Estados Unidos terem alcançado um entendimen­to sobre o prolongame­nto do Tratado sobre Limitação de Armas Nucleares. “A existência de armas nucleares é uma ameaça para a paz na Terra”, concluiu Peskov.

Com a nova estratégia o Reino Unido procura um reposicion­amento e assumir-se como uma potência fundamenta­l no cenário internacio­nal

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DR Londres fez uma revisão estratégic­a de segurança, defesa e na política externa do país

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