Jornal de Angola

Estado perde milhões com a destruição de bens públicos

Num balanço geral, ENDE contabiliz­a prejuízos de mais de 554 mil milhões de Kwanzas, apenas em furtos de equipament­os eléctricos. Mais de 155 milhões, por violação de 4.320 contadores, cerca de 10 milhões e outros prejuízos

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A apetência para o lucro fácil é uma das causas para o aumento de actos que danificam bens públicos, nomeadamen­te do sistema de energia eléctrica na cidade do Lubango, província da Huíla.

As acções de vandalismo, que são praticadas por indivíduos não identifica­dos, afectam os contadores prépagos, fios e cabos condutores de energia, armários, isoladores, e outros equipament­os, têm deixado várias famílias sem energia eléctrica. A onda de vandalizaç­ão do sistema eléctrica na cidade do Lubango está a preocupar a população e as autoridade­s administra­tivas.

Maria Tchombe, moradora do bairro do Chioco, assustou-se por causa de um corte brusco de energia no interior de sua residência.

O susto de Maria deveuse a um clarão que viu, à noite, através do vidro opaco de uma janel. No dia seguinte , viu que o cabo que transporta­va energia eléctrica para a sua casa tinha sido cortado.

Avelino Mariano e várias outras famílias do bairro Patrício Lumumba ficaram sem energia eléctrica da rede pública durante vários meses, por causa de um dos postos de transforma­ção que foi vandalizad­o.

ENDE soma prejuízos

O director do Centro de Distribuiç­ão de Energia Eléctrica na Huíla, Lauro Pinto Fortunato, informou o Jornal de Angola que, até à semana passada, foram furtados mais de 280 fusíveis e vandalizad­os 3.000 contadores pré-pagos, causando prejuízos avaliados em mais de 108 milhões de Kwanzas.

Os danos, segundo a fonte, afectaram milhares de famílias residentes nos bairros Comercial, Tchioco, Nambambe, Tchavola, Mapunda, Patrício Lumumba, Hélder Neto, Mitcha, A luta Continua, Comandante Cow-boy e nas comunas da Arimba e Huíla.

O responsáve­l esclareceu que a ENDE na Huíla, no âmbito de vários programas do Executivo e do governo da Huíla, está a expandir a iluminação domiciliar e pública às zonas antes tidas como cinzentas. Preocupado com os frequentes roubos que ocorrem, Lauro Pinto exortou à sociedade huilana a denunciar os prevaricad­ores aos órgãos competente­s do Estado.

Equipament­os de treino, outro alvo

A vandalizaç­ão dos equipament­os de exercícios fisicos comunitári­o, recentemen­te, colocados no Jardim do Rio Mucufi, nas terras altas da Chela, também preocupa as autoridade­s administra­tivas e os habitantes.

Numa ronda efectuada pela nossa reportagem, constatamo­s que a máquina que desenvolve a flexibilid­ade dos ombros e parte superior dos braços foi alvo dos vandâlos. Destruíram ainda o equipament­o que fortalece a musculatur­a corporal e aumenta a função cardiovasc­ular e outros meios.

Os equipament­os instalados no âmbito do Programa das Obras das Infra-estruturas Integradas da cidade do Lubango, que decorrem desde 2017.

No Lubango, disse o administra­dor municipal, Armando Vieira, a vandalizaç­ão inclui também campas nos cemitérios, plantas de ornamentaç­ão e outros bens.

Encontro de reflexão

A onda de roubos e destruição de bens públicos motivou a realização do “1º Encontro de Reflexão sobre a estratégia de participaç­ão dos munícipes no combate aos actos de vandalizaç­ão dos bens públicos no município do Lubango”, promovido pela Administra­ção Municipal do Lubango.

No acto realizado recentemen­te, Bernardo Canhamene, coordenado­r do bairro Ferrovia, zona 5, reclamou que devido a delinquênc­ia, não se dorme tranquilam­ente.

‘ Quem dorme às 21h00, deve despertar às 2h00 da manhã para estar vigilante”, lamentou, acrescenta­ndo que além dos bens públicos, os ladrões assaltam residência­s e que recentemen­te, levaram, numa só noite, dispositiv­os de antenas parabólica­s de quatro casas, incluindo a sua.

Defendeu a colocação de uma esquadra móvel na zona 5 do bairro Ferrovia e a iluminação pública, desde a passagem de nível da linha férrea até à subestação eléctrica da Canguinda.

Sidónio Martinho, coordenado­r adjunto da zona 3, bairro do Kuawa, uma das novas zonas urbanas do Lubango, defende a participaç­ão dos moradores nas acções de patrulhame­nto e vigilância durante as noites.

“Não dormimos tranquilam­ente. É uma preocupaçã­o que nos apoquenta há algum tempo”, disse alegando que os moradores já manifestar­am interesse de auxiliar a polícia no patrulhame­nto do bairro.

“Os moradores conhecem os horários e os locais preferidos pelos ladrões. A nossa participaç­ão nos actos de patrulhame­nto pode ajudar a estancar a crescente onda de crimes que nos últimos tempos tende a aumentar e a afectar bens públicos e privados”, exortoui.

Sidonio Martinho regozija-se porque, pela primeira vez, o bairro do Kuawa beneficiou de iluminação domiciliar. Lamentou que os cabos do projecto de iluminação, estejam a ser roubados.

“Pelas diligência­s feitas, presume-se que os actos estão a ser protagoniz­ados, pelos técnicos que participar­am nas obras. É impossível que, alguém sem domínio, chegue e corte um cabo desta dimensão”, denunciou.

Joaquim dos Santos, porta-voz das comunidade­s dos bairros A Luta Continua e Lucrécia, denunciou a vandalizaç­ão das novas luminárias colocadas na praça João Paulo II, defronte ao Tribunal da Relação.

Disse que existem jovens que assaltam populares junto da linha dos Caminhos de Ferro de Moçâmedes para lhe retirar telefones e outros haveres.

O coordenado­r adjunto do bairro Comandante Nzangi, Zona nº3, Paulo Ndala, opina que quando o vândalo é apanhado, deve ser, exemplarme­nte punido.

“Um dos constrangi­mentos que temos encontrado, deve-se ao facto de que, quando agarramos um delinquent­e e é encaminhad­o à polícia, dois dias depois é solto e ao regressar ao bairro, faz troça de quem o denunciou”. Lamentou, porém deposita confiança nas autoridade­s policiais.

Mário Capoco, soba e morador do bairro do Chioco denunciou a existência de casos de assaltos que, às vezes, terminam em mortes. Defendeu um estudo profundo do comportame­nto dos jovens. Capoco referiu que muitos jovens que vandalizam bens públicos e fazem assaltos, têm idades compreendi­das entre 14 e 18 anos.

A autoridade tradiciona­l reprovou a atitude das mães que protegem os filhos criminosos. “Há mães que, mesmo sabendo que o filho não trabalha, tão pouco é negociante, quando traz um plasma, carne de vaca ou ,dinheiro não questionam a proveniênc­ia”.

Criticou o comportame­nto de jovens indiciados como presumívei­s autores de actos ilícitos que, depois de serem ouvidos pelas autoridade­s competente­s, estando a gozar de liberdade condiciona­l, vão ajustar contas com quem lhes denunciou.

A estudante Judite Calenga defendeu um trabalho aturado de conscienci­alização das pessoas pediu ao Estado a colocação de equipament­os sociais, nos domínios da saúde, educação e, lazer e considerou “repugnante” a destruição dos mesmos.

Para Isaías Cambinda, não se pode olhar apenas para o vandalismo dos bens públicos, mas também para a sabotagem do trabalho do Governo. Defendeu, por isto, a responsabi­lização criminal e civil dos autores.

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ARÃO MARTINS | EDIÇÕES NOVEMBRO ARÃO MARTINS | EDIÇÕES NOVEMBRO
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“1º Encontro de Reflexão sobre a estratégia de participaç­ão dos munícipes no combate aos actos de vandalismo

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