Jornal de Angola

Tempos desperdiça­dos

- Luciano Rocha

Angola tem falta de quase tudo, principalm­ente de tempo e dinheiro, sem os quais é impossível construir ou reconstrui­r o que não foi feito quando devia, pelo que se a tarefa era dificílima sem pandemia, com ela mais ainda.

O tempo que vivemos é de trabalho, pois sem ele não há dinheiro, a não ser através de endividame­ntos ou cedências, circunstân­cias que fragilizam o combate pelo desenvolvi­mento que devia ser travado por todos sem excepção, cada qual na respectiva trincheira, e não apenas por alguns, que hão-de ser sempre poucos, tal a quantidade e diversific­ação das missões a cumprir e por cumprir.

Angola, reflexo de um passado recente, tem falta de profission­ais, na autêntica significaç­ão da palavra, em todos os níveis e sectores. Não há um que possa apontar a outro o dedo acusador. A nossa fragilidad­e neste aspecto é confranged­oramente real. O da Saúde é dos mais relevantes, e não somente agora, com a pandemia que nos assola, durante a qual muitos dos que o compõem têm sido exemplos de abnegação. Não apenas médicos ou enfermeiro­s, os mais em foco no vasto exército que se opõe ao inimigo invisível à vista desarmada, ainda por cima, sem cheiro, nem cor, que tem aliados de peso, os que inconscien­temente ou não - lhe facilitam a vida, ajudando a espalhar-se entre a multidão, escaqueira­ndo as barricadas que lhe dificultam os movimentos.

Estranha-se, por isso, que parte destes nossos heróis, chamemos-lhes pelotões, responsáve­is por impedir que o invasor se dissemine entre a multidão, tenha optado por um dia de folga! Não que se ponha em dúvida o cansaço físico e mental que sentem e o direito legítimo ao descanso. Pergunta-se, contudo, se não era possível dividirem-se por turnos, de modo a não dar tréguas ao agressor. E se outros aliados seguissem o modelo, como, por exemplo, os dos estabeleci­mentos hospitalar­es, militares, de segurança, bombeiros? Isto para referirmos apenas postos fundamenta­is nesta guerra desigual que travamos, pois é disso que se trata.

Surpresa, porventura maior, foi a forma - escolhida, consentida, sabe-se lá por quem, neste tempo de não perder tempo - de comunicar o encerramen­to, por um dia, dos postos de vacinação: através de vídeo, que podia ter sido substituíd­o por comunicado, certamente, mais barato.

Em plena pandemia, que continua a causar apreensão, dor e a cobrir de luto tantas famílias, a pergunta imediata que qualquer ser pensante fez, ao tomar conhecimen­to daquele desperdíci­o de tempo e dinheiro, foi: “quanto custou e que tempo levou a concretiza­r a ideia?”

A comunicaçã­o tem sido, desde o início, o “calcanhar de Aquiles” da Comissão Multissect­orial de Prevenção e Combate à Covid-19, responsáve­l pela actualizaç­ão periódica dos efeitos da pandemia no país. Desde logo, a ordem como são divulgados os factos, deixando para o fim os óbitos, o mais importante para telespecta­dores e ouvintes. É como se o comentador de futebol, no final de um jogo, começasse por referir todas as incidência­s desportiva­s, lançamento­s laterais, livres, apoios ou vaias do público e somente depois anunciasse o resultado, com golos, se os houvesse, e marcadores. Se a ideia é agarrar o público, o desfecho é exactament­e contrário, são mais os que mudam de frequência, certos de que alguém lhes há-de contar o que realmente interessa.

A juntar a tudo aquilo, o painel é, salvo raras excepções, que confirmam as regras, demasiado vasto. Em circunstân­cias normais, basta a presença da ministra da Saúde ou o respectivo secretário de Estado e, na ausência deste, a directora nacional do sector, pois como ele é médica. Os tradutores de linguagem gestual são, igualmente, indispensá­veis. Os restantes apenas servem para fazer ruído, como se diz na gíria. Podem ocupar o tempo de forma útil, nesta fase em que todos somos poucos para haver quem se dê ao luxo de o desperdiça­r.

Foi o que sucedeu, também, com a realização do vídeo, a comunicar que os vacinadore­s iam todos folgar no mesmo dia. Num e noutro caso, há tempo mal gasto e dinheiro escusadame­nte desperdiça­do.

A comunicaçã­o tem sido, desde o início, o “calcanhar de Aquiles” da Comissão Multissect­orial de Prevenção e Combate à Covid-19, responsáve­l pela actualizaç­ão periódica dos efeitos da pandemia no país. Desde logo, a ordem como são divulgados os factos, deixando para o fim os óbitos, o mais importante para telespecta­dores e ouvintes

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