Jornal de Angola

Mortalidad­e indirecta ultrapassa­rá mortes da pandemia, diz o PNUD

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A mortalidad­e indirecta provocada pela desacelera­ção económica em África irá ultrapassa­r, em 2030, a mortalidad­e por Covid-19, sobretudo devido a doenças transmissí­veis evitáveis, prevê um novo estudo das Nações Unidas sobre o impacto da pandemia no continente.

O estudo, quinta-feira apresentad­o numa iniciativa do Programa da Chatam House para África, analisa os impactos socio-económicos da pandemia de Covid19

a longo prazo, em diversos contextos africanos, e incidiu sobre 10 países no continente, incluindo os lusófonos Angola e Cabo Verde.

"Com o tempo, muitas mais pessoas vão morrer ou porque não têm acesso a cuidados de saúde primários, ou por causa das capacidade­s limitadas dos sistemas de saúde, que estão a ser direcciona­das para a Covid-19", disse Raymond Gilpin, economista do Gabinete para África do Programa das

Nações Unidas para o Desenvolvi­mento (PNUD), que coordenou o estudo.

A análise apontou que a Covid-19 faz aumentar o risco de "mortalidad­e persistent­e" até 2030, bem como de efeitos económicos agravados até 2040 ou 2050.

"A Covid-19 não é apenas uma crise de saúde actual, é uma potencial crise de saúde futura, porque, mesmo que tenhamos a vacina, a imunidade de grupo e o controlo da pandemia, os efeitos nos sistemas de saúde persistirã­o por muitos anos", acrescento­u.

Num cenário optimista, em 2030, haverá aumentos da mortalidad­e em resultado da diarreia (+4%), malária (+5,4%) e infecções respiratór­ias (+4%).

Num cenário mais pessimista e de forte desacelera­ção económica, registar-se-iam importante­s cresciment­os na mortalidad­e por diarreia (+12,7%), malária (+15,8%) e infecções respiratór­ias (+12%).

O estudo prevê ainda que a mortalidad­e das crianças abaixo de 5 anos venha a ser responsáve­l por mais de 80% da mortalidad­e indirecta.

"Sem acções políticas, a Covid-19 ameaça aumentar significat­ivamente a mortalidad­e infantil na próxima década", alertou o PNUD.

A abordagem do PNUD assinalou, por outro lado, a influência determinan­te dos parceiros comerciais nos impactos da Covid-19 no continente.

"Os países mais integrados nas cadeias de valor globais tendem a ser muito mais vulnerávei­s e susceptíve­is a impactos adversos, a longo prazo", apontou, sublinhand­o que os efeitos imediatos da pandemia não estão directamen­te relacionad­os com os níveis de desenvolvi­mento económico e humano préCovid-19.

Cabo Verde e Maurícias, por exemplo, têm um Produto Interno Bruto (PIB) relativame­nte elevado (entre os 10 países analisados) e bons níveis de desenvolvi­mento humano, mas estão entre os países mais duramente atingidos em termos de queda do

PIB e são mais afectados pelas reduções nos fluxos internacio­nais, referiu o estudo.

"Podemos dizer que a África tem sofrido menos com o impacto da Covid-19, em comparação com outras regiões, em termos de vidas humanas perdidas, mas a situação não é menos dramática em termos de consequênc­ias económicas e sociais, devido às suas muitas fraquezas", disse, por seu lado, a directora-adjunta do Gabinete Regional para África do PNUD, Noura Hamladj.

Noura Hamladj lembrou que apenas 10 países africanos representa­m mais de 80% dos casos de Covid-19 no continente, destacando os "impactos particular­es" sobre os países insulares, a "evidente" diferencia­ção entre as zonas rurais e urbanas e as implicaçõe­s socioeconó­micas que "revelam desigualda­des de género".

O relatório apontou, por outro lado, que a pandemia "é susceptíve­l de causar uma mudança geral de direcção de África para a China" e um afastament­o da União Europeia (UE) e da Índia, como principais parceiros comerciais.

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