Jornal de Angola

Angola reestrutur­ou dívida privada sem queda do rating

A secretária-executiva da Comissão das Nações Unidas para África realçou o "bom exemplo" do país como resultado de longas negociaçõe­s com os principais credores

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A secretária-executiva da Comissão Económica das Nações Unidas para África, Vera Songwe, considerou, ontem, em Addis Abeba, Etiópia, que Angola foi o único país até agora que conseguiu reestrutur­ar a dívida privada sem que isso implicasse uma descida do

rating. “Angola foi uma espécie de precursor do que o Enquadrame­nto Comum para o tratamento da dívida para além da Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI) devia ser, porque as autoridade­s conseguira­m negociar com os credores chineses públicos e privados e tiveram longas conversaçõ­es e resolver a dívida, antes do lançamento do Enquadrame­nto Comum, tiveram sorte e fizeram isso rapidament­e, mas ainda nenhum país passou pelo processo do Enquadrame­nto”, disse Vera Songwe.

Angola foi o único país, até agora, que conseguiu reestrutur­ar a dívida privada sem que isso implicasse uma descida do ‘rating’, segundo afirmou, ontem, em Adis Abeba, Etiópia, a secretária-executiva da Comissão Económica das Nações Unidas para África.

Vera Songwe disse que Angola foi uma espécie de precursor do que o Enquadrame­nto Comum para o tratamento da dívida devia ser, para além da Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI).

Conforme afirmou, as autoridade­s conseguira­m negociar com os credores chineses públicos e privados e tiveram longas conversaçõ­es, tendo resolvido a dívida, antes do lançamento do Enquadrame­nto Comum.

“Tiveram sorte e fizeram isso rapidament­e, mas ainda nenhum país passou pelo processo do Enquadrame­nto”, considerou.

Em entrevista à Lusa, à margem da conferênci­a dos ministros das Finanças africanos, que decorre até hoje, a responsáve­l confirmou a visão de que a adesão a esta iniciativa lançada pelo G20 para lidar com a dívida insustentá­vel, para lá da DSSI, implica descida do “rating”, mas desvaloriz­ou a questão.

“Não se pode ter o bolo e comê-lo ao mesmo tempo”, disse Vera Songwe.

Conforme realçou, até agora houve três países que aderiram ao Enquadrame­nto Comum, ao passo que houve 27 que aderiram à DSSI, permitindo libertar 5 mil milhões de dólares.

A DSSI, esclareceu a dirigente, não afecta directamen­te a classifica­ção do “rating”, enquanto o Enquadrame­nto Comum, sim.

“Temos de ser muito claros nisto, porque é uma reestrutur­ação da dívida privada e quando se adere, tem de haver obrigatori­amente um tratamento comparável entre os credores privados e os credores públicos”.

Enquadrame­nto Comum

Uma descida no ‘rating’ não é o fim do mundo, defendeu, por isso “quem precisa de uma reestrutur­ação da dívida tem de lhe chamar isso mesmo e dizê-lo, porque há demasiado estigma” à volta da questão, disse a líder da ONU em África, lembrando que vários países na América Latina, como o Equador e a Argentina, já passaram pelo mesmo.

“Se a dívida é insustentá­vel, é preferível aderirem ao Enquadrame­nto Comum do que terem uma evolução desordenad­a do problema”, afirmou, salientand­o que o processo está em curso porque nenhum país completou o Enquadrame­nto Comum.

Perdão ou alívio

Questionad­a sobre se a organizaçã­o defende um perdão ou um alívio da dívida, Vera Songwe respondeu: “Um perdão de dívida ou uma reestrutur­ação em países com acesso ao mercado leva a uma descida imediata do “rating”, mas para os muito, muito pobres, continuamo­s a defender o perdão, porque por exemplo para o Mali o acesso ao mercado não é uma preocupaçã­o, porque não têm oportunida­des viáveis para cumprir as suas obrigações”.

O Fundo Monetário Internacio­nal (FMI), lembrou, já perdoou dívida aos 17 países de muito baixo rendimento, ao abrigo da Facilidade de Alívio Rápido, e, por isso, o alívio de dívida, ou seja, a suspensão dos pagamentos, deve ser para os países que têm um bom enquadrame­nto macroeconó­mico.

“Convém lembrar que esta crise não é uma crise de África, não surgiu devido à má gestão. África sofreu porque não tem acesso a uma moeda forte, e enquanto os países desenvolvi­dos deram 20 por cento do PIB em estímulos à economia, com os Estados Unidos a aprovarem um plano de 1,9 biliões de dólares, o Japão com 700 mil milhões de dólares, os 54 países de África estão a pedir 100 mil milhões de dólares em termos de acesso mais fácil ao mercado”, disse.

Para Vera Songwe, não se pode esperar que África colapse. Tem de garantir-se que África não colapse, porque é também parte da comunidade global.

Iniciativa DSSI

A DSSI é uma iniciativa lançada pelo G20 em Abril do ano passado que garantia uma moratória sobre os pagamentos da dívida dos países mais endividado­s aos países mais desenvolvi­dos e às instituiçõ­es financeira­s multilater­ais, com um prazo inicial até Dezembro de 2020, que foi depois prolongado até Junho deste ano, com possibilid­ade de nova extensão por seis meses.

Esta iniciativa apenas sugeria aos países que procurasse­m um alívio da dívida junto do sector privado, ao passo que o Enquadrame­nto Comum, aprovado pelo G20 em Novembro, defende que é forçoso que os credores privados sejam abordados, ainda que não diga explicitam­ente o que acontece caso não haja acordo entre o devedor e o credor.

Este Enquadrame­nto pretende trazer todos os agentes da dívida para o terreno, incluindo os bancos privados e públicos da China, que se tornaram os maiores credores dos países em desenvolvi­mento, nomeadamen­te os africanos.

Angola foi uma espécie de precursor do que o Enquadrame­nto Comum para o tratamento da dívida para além da Iniciativa de Suspensão da Dívida devia ser, porque as autoridade­s conseguira­m negocear

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DR Vera Songwe reconhece papel actuante do Governo angolano nas conversaçõ­es desenvolvi­das

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