Jornal de Angola

Moçambique já tem quase 700 mil deslocados internos

O mais recente relatório do ACNUR revela que existem neste momento em Moçambique quase 700 mil deslocados, um número que tem tendência para aumentar

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Os deslocados devido aos ataques armados em Cabo Delgado, Norte de Moçambique, chegam agora a quase 700 mil e os números “continuam a aumentar”, anunciou, ontem, o Alto Comissaria­do das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), citado pela agência notícias Lusa.

É o resultado da “crescente inseguranç­a e da violência generaliza­da no Norte do país”, lê-se no comunicado final da visita a Cabo Delgado de Gillian Triggs e Raouf Mazou, assistente­s do alto comissário. “Escutei tragédias humanas inacreditá­veis”, disse Gillian Triggs. Enfrentara­m “viagens perigosas, alguns em barcos e outros por terra, para encontrar algum tipo de segurança nas comunidade­s anfitriãs em Cabo Delgado” que “têm sido incrivelme­nte hospitalei­ras”, referiu aquele responsáve­l.

Os dois assistente­s do alto comissário estiveram em Ancuabe, onde as famílias enfrentam dificuldad­es para voltar a ter uma vida normal, “devido à falta de condições dignas”, com “pouco ou nenhum acesso à alimentaçã­o, saúde ou à educação, bem como falta de abrigo adequado e resistente às fortes chuvas da província”, nota o ACNUR.

Com o rápido aumento das necessidad­es, aquela organizaçã­o humanitári­a das Nações Unidas e os parceiros “precisam, urgentemen­te, de mais financiame­nto para garantir que as pessoas que fogem da violência e de ataques armadas possam ter acesso ao auxílio tão necessário”. “Para Março deste ano, apenas 39 por cento do apelo do ACNUR para 2020-2021 em Cabo Delgado estava financiado”, conclui o comunicado.

O alto Comissaria­do tem assinalado que persiste um défice de 11 milhões de dólares para a operação no Norte de Moçambique.

A violência armada em Cabo Delgado, onde se desenvolve o maior investimen­to multinacio­nal privado de África, para a exploração de gás natural, está a provocar uma crise humanitári­a com mais de duas mil mortes.

Algumas das incursões foram reivindica­das pelo grupo Estado Islâmico entre Junho de 2019 e Novembro de 2020, mas a origem dos ataques continua sob debate.

Recuo das liberdades

O relatório anual da Freedom

House refere que os efeitos da violência armada no Norte do país são os principais responsáve­is pelo recuo nas liberdades em Moçambique em 2020. O relatório de oito páginas agora divulgado complement­a a informação que já havia sido divulgada no dia 3 de Março. Na altura, o documento da Freedom House intitulado “Liberdade no Mundo 2021 – Democracia sob Cerco” colocou Moçambique entre os países que registaram um maior recuo nos direitos políticos e liberdades dos seus cidadãos ao longo da última década.

A organizaçã­o não-governamen­tal com sede em Washington, EUA, anunciou que Moçambique recuou 16 pontos na última década, sendo o Mali, Turquia e a Tanzânia os países que registaram maiores recuos, nas liberdades respectiva­mente de 39, 31 e 30 pontos.

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DR O ACNUR precisa de mais financiame­nto para acudir o número crescente de deslocados

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