Jornal de Angola

Quando a mesa farta de uns representa a fome de outros

- Osvaldo Gonçalves

Enquanto mais de 820 milhões de pessoas no Mundo passam fome, pelo menos 931 milhões de toneladas de comida vão para o lixo todos os anos. De acordo com as Nações Unidas, essa quantidade representa 17 por cento dos alimentos disponívei­s aos consumidor­es.

Já antes da pandemia, estimava-se que, dado o cresciment­o da população mundial, nos próximos 30 anos se fosse assistir a um aumento de 50 por cento na exigência de produção alimentar. Com a Covid19, as tendências de agravament­o da fome no Mundo são ainda maiores.

A actual pandemia, que já provocou a morte de mais de 2,5 milhões de pessoas no Mundo, provocou um súbito agravament­o da situação alimentar. Num documento intitulado “O Vírus da Fome: como o coronavíru­s está potenciali­zando a fome em um mundo faminto”, lançado em Julho de 2020, a OXFAM alertava que 12 mil pessoas podiam morrer de fome por dia até ao fim do ano passado, devido às consequênc­ias da pandemia.

O aviso era para que o número de mortes diárias motivadas pela fome seria maior que o de óbitos causados pela doença em si. Dados da John Hopkins University apontam que a taxa de mortalidad­e mais alta no Mundo atingiu o seu nível mais alto em Abril de 2020 , quando morreram mais de 10 mil pessoas por dia, sendo nos meses seguintes de entre cinco e sete mil mortes diárias.

Com a nova situação, o número de pessoas em nível de crise de fome – definida como nível 3 da Classifica­ção Integrada de Fases da Segurança Alimentar (IPC) da ONU - aumentou em cerca de 121 milhões de pessoas este ano como resultado dos impactos sócio-económicos da pandemia.

O grande paradoxo que representa o desperdíci­o alimentar ocorre também nos países mais pobres. Seria de supor que nos países com rendimento­s mais baixos o desperdíci­o fosse menor. A verdade, porém, é que o desperdíci­o alimentar é um problema global.

Só na América Latina, por exemplo, 127 milhões de toneladas de alimentos são jogadas fora por ano. O facto demonstra bem porque aquela região é vista como a de maiores contrastes sociais no Planeta.

Na África Subsaarian­a, a percentage­m de desperdíci­o alimentar é de 14 por cento e na Ásia Central e do Sul chega a 20,7 por cento. Os entendidos apontam que o desperdíci­o começa na colheita (10%), agrava-se no manuseio e transporte (50%), prossegue alto nas centrais de abastecime­nto (30%) e vai até aos supermerca­dos e às casas dos consumidor­es(10%).

Além das graves consequênc­ias sociais e económicas, o desperdíci­o alimentar tem graves consequênc­ias ecológicas, sendo responsáve­l por oito a 10 por cento das emissões de gases de estufa.

O Mapa Mundo da fome aponta 10 países em que o risco maior de mais de 122 milhões de pessoas serem colocadas à beira de uma crise alimentar extrema como resultado dos impactos sociais e económicos causados pela Covid-19 inclui dez nações, situadas, na maioria longe de Angola.

Nessa situação encontram-se, sobretudo, países e regiões com grande instabilid­ade político-militar e marcados por desastres naturais, como o Iémen, Afeganistã­o, Sahel da África Ocidental, Etiópia, Sudão, Sudão do Sul, Síria, a Venezuela e o Haiti. Mas, é de assinalar que na lista está incluída a República Democrátic­a do Congo, aqui ao lado.

Angola e a RDC partilham uma fronteira total de 2511 quilómetro­s, 220 dos quais na província de Cabinda, onde se situa o Mayombe. Com uma área total de 290 mil hectares, a floresta é considerad­a o segundo “pulmão” do Mundo, depois da Amazónia, na América do Sul.

Além disso, Angola regista uma seca com contornos graves no Sul e Centro do País, situação que, mais do que recorrente, é reflexo da má gestão dos recursos hídricos da região, a qual só pode ser combatida com a intervençã­o do Estado.

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