Se o gelo da Gronelândia derreter, cidades costeiras ficam submersas
A camada de gelo, com mais de um quilómetro de espessura, que cobre a Gronelândia terá derretido por completo e ciclicamente nos períodos quentes da história do planeta Terra. A descoberta recente foi feita por um grupo de cientistas das universidades de Vermont, Columbia e de Copenhaga e põe a nu um facto preocupante: a ser assim, e face ao actual período de temperaturas extremas, provocado pela acção humana, praticamente todas as cidades costeiras do mundo estão condenadas.
Os cientistas creem que na camada de gelo da Gronelândia está contido um volume de água equivalente a uma subida do nível do mar de cerca de seis metros. O que faz do aquecimento global um problema a resolver ou mitigar ainda com maior urgência.
A descoberta, publicada da revista da Academia Nacional de Ciências dos EUA (PNAS, na sigla inglesa), surgiu na sequência da análise de amostras de gelo, recolhidas a grande profundidade, na Gronelândia em 1966, que haviam ficado perdidas num congelador, de acordo com uma notícia publicada na página da Sky News.
Ao observá-las ao microscópio, o cientista Andrew
Christ, da Universidade de Vermont, descobriu que os sedimentos não continham apenas areia e rocha, mas também galhos e folhas de vegetação.
Para Andrew Christ e os colegas da sua equipa internacional de cientistas - liderada por Paul Bierman, da Universidade de Vermont, Joerg Schaefer da Universidade de Columbia e Dorthe Dahl-jensen da Universidade de Copenhaga - a descoberta sugere que a camada de gelo, com mais de 1,5 quilómetros de espessura, não existia num passado geológico recente.
Em vez disso, há apenas algumas centenas de milhares de anos haveria naquela região do planeta uma paisagem com vegetação que cobria uma extensão com a dimensão do estado do Alaska.
"Por norma, as camadas de gelo pulverizam e destroem tudo o que se atravessa no seu caminho", explicou Andrew Christ. "Mas o que nós descobrimos foram plantas com estruturas delicadas, perfeitamente preservadas", continuou o cientista.
"São fósseis, mas que parecem ter morrido ontem. É uma cápsula do tempo com aquilo que costumava viver na Gronelândia e que não poderíamos encontrar em mais lado algum", concluiu Christ.
As amostras foram recolhidas em 1966, quando, em plena Guerra Fria, cientistas afectos ao exército norte-americano perfuraram a camada de gelo da Gronelândia e encheram um tubo de amostras com mais 4,5 quilómetros.
As perfurações procuravam pôr em prática um plano secreto designado por Project
Iceworm (Projecto Minhoca do Gelo), que tinha por objectivo instalar 600 mísseis nucleares sob o gelo e bem perto da União Soviética. Não apenas o plano falhou, como os cientistas nada puderam aproveitar das amostras recolhidas, porque perderam o tubo algures num congelador, que só agora foi acidentalmente encontrado.
Para os cientistas, compreender de que modo derreteu a camada de gelo da Gronelândia no passado vai ajudar a perceber como esta se comportará face ao aquecimento que virá no futuro.
"O novo estudo proporciona as mais fortes provas jamais obtidas de que a Gronelândia é mais frágil e sensível às alterações climáticas do que antes se entendia - e que corre um risco sério e grave de derreter irreversivelmente", alertou Paul Bierman, geocientista e investigador principal do estudo.
Os cientistas creem que na camada de gelo da Gronelândia está contido um volume de água equivalente a uma subida do nível do mar de cerca de seis metros. O que faz do aquecimento global um problema a resolver ou mitigar ainda com maior urgência