O que pesou na escolha para que Angola beneficiasse da vacina nesta fase?
Há vários elementos que explicam isso, apesar de estarmos convencidos de que não sabemos tudo à volta disso. Mas os elementos que são avançados têm a ver com a estrutura populacional em África, onde a maioria da população é jovem e quase 75 por cento tem menos de 50 anos. E como é sabido, as pessoas com mais idade têm mais consequências e representam o peso da doença. A outra hipótese que existe é de que em África fomos afectados pela pandemia mais tarde. Tivemos tempo de preparação, os países fecharam os aeroportos, enquanto outros apostaram num confinamento total. As medidas foram implementadas mesmo antes de alguns países registarem casos da doença. Foram medidas duras para a população, mas que contribuíram para reduzir o número de É normal. As vacinas foram testadas e passaram em todas as fases dos ensaios clínicos. A vacinação que decorre em quase todo mundo continua a recolher dados para o conhecimento destes imunizantes. Por outro lado, a vigilância dos efeitos adversos é muito mais rigorosa. É normal que uma pessoa imunizada e apresenta sintomas seja notificada e tem de ser investigada, mas não podemos esquecer que as pessoas que têm outras doenças continuarão a morrer de outras causas e nós estamos a vacinar o grupo alvo com cormobilidades. Ter acontecido alguns eventos em pessoas vacinadas é normal. Por isso, foi feita uma investigação através da Agência Europeia de Medicamentos e OMS, que fizeram uma revisão rigorosa
De facto, o aspecto que nos preocupa é a iniquidade das vacinas. O director-geral da OMS e a directora regional têm estado a chamar a atenção para estas questões. Hoje há países que estão a vacinar inclusive pessoas que não são de risco. Estão a vacinar jovens que não correm risco de apanhar a doença, nem de morrer da doença. Por outro lado, temos países que ainda não conseguiram vacinar todos os profissionais de Saúde, idosos e pessoas com cormobilidades.
Diante deste cenário, a OMS não tem autoridade para impor?
O nosso papel é levantar a questão, discutir e incentivar a partilha. Estamos a trabalhar dia e noite com as grandes fábricas de produção de vacinas. Embora alguns países já tenham feito encomendas, uma vez que o atendimento é por ordem de chegada, podem ceder a sua vez à iniciativa Covax. O que estamos a assistir são países com stock de vacinas que não vão usar nos próximos dois ou três meses. O trabalho da OMS é fazer com que estes Estados partilhem a vacina. A pandemia não vai terminar enquanto existir um país não protegido. Pode se vacinar 80 por cento de uma população, mas estará em risco, porque o mundo à sua volta não está protegido, porque o vírus continua a circular. E quanto mais o vírus circular, mais rápido desenvolve as mutações e cria as variantes.
O perigo de não termos o mundo protegido é muito grande. Entretanto, um dos grandes desafios da OMS é conseguir que a distribuição da vacina seja equitativa. O objectivo da vacinação é diminuir o número de doentes graves, o elevado número de pessoas que precisa de ser internado, assim como evitar mortes. Os nossos sistemas de Saúde não podem continuar
Com o surgimento da pandemia, em Março do ano passado, criou-se uma plataforma denominada Acesso de Instrumentos de Covid-19, com o objectivo de estimular a investigação, produção e distribuição de meios de diagnóstico, de tratamento e de vacinas. Covax é a parte que trata das vacinas e também estimula a pesquisa e produção de imunizantes. A ideia é juntar forças para travar a Covid-19. Este compromisso não é apenas para os países pobres ou menos desenvolvidos. Aliás, os que têm dinheiro ou vacinas podem colocar à disposição. A meta é vacinar 20 por cento da população de cada país, que se estimou que seriam os grupos de risco na região africana. É o mérito de estar pronto. Os critérios de distribuição das vacinas da Covax são claros e transparentes. Há um cálculo que é feito, que tem a ver com a população do país, perfil da epidemia e o estado de preparação. Não é aceitável dar vacinas a um país que não está preparado para vacinar. Angola foi dos primeiros a receber a vacina na nossa região porque estava preparada, sobretudo, do ponto de vista logístico.
Se uma pessoa apanhou a primeira dose da vacina Astrazeneca, a segunda pode ser da Pfizer?
Não. Tem de ser a mesma marca de vacina, porque a segunda dose é de reforço e o mecanismo de reacção destas vacinas é diferente. Por outro lado, ainda não sabemos o tempo de imunidade, uma vez que até à data os ensaios feitos dão até seis meses. Mas é preciso dar mais tempo para se saber exactamente o tempo que vai durar a imunidade. Existem alguns poucos casos de reinfecção porque a imunidade não funcionou, mas são poucos.
Qual é avaliação que faz da pandemia em Angola?
É positiva. Além dos vários decretos presidenciais, a Comissão Multissectorial têm estado a cumprir com o seu papel no cumprimento destas medidas. A campanha de vacinação tem mostrado que o Ministério da Saúde e outras autoridades estão comprometidos com a luta contra a pandemia. Mas há também o desafio de acelerar a vacinação e se conseguir imunizar mais pessoas nos próximos dias. Até final de Maio, o país vai receber mais vacinas.
O que espera da relação da OMS com Angola?
Angola e a OMS sempre tiveram boas relações, que se estabeleceram logo após a independência. O trabalho da OMS em Angola é orientado por uma estratégia de cooperação, que é discutida com os parceiros nacionais, nomeadamente o Ministério da Saúde, outros sectores, sociedade civil e dadores, em que são analisadas acções concretas para desenvolver no país. A OMS tem três grandes preocupações com Angola, com destaque para a cobertura universal da saúde, que pode ser alcançada com a consolidação dos cuidados primários . A segunda questão é o sector das emergências médicas, que precisava de ser reforçado. A terceira área é a consolidação dos ganhos em relação à erradicação da pólio. Angola foi durante muitos anos um dos países onde tivemos de fazer muito esforço neste sentido e não podemos deixar essa obrigação para trás.
Angola e a OMS sempre tiveram boas relações, que se estabeleceram logo após à Independência. O trabalho da OMS em Angola é orientado por uma estratégia de cooperação, que é discutida com os parceiros nacionais, nomeadamente o Ministério da Saúde, outros sectores, sociedade civil e dadores, onde são analisadas acções concretas para desenvolver no país