O que são comissões terapêuticas?
…E a falta de medicamentos nos hospitais?
Pessoalmente, acho que a falta de medicamento depende um pouco da organização interna das próprias instituições. O que acontece, muitas vezes, é que, quando se fazem as compras de medicamentos, estas são feitas de forma desregulada. Eu não posso sair à rua para ir comprar medicamentos, se não tiver em mãos uma programação efectiva do que vou fazer, se o que vou fazer cumpre com as regras estabelecidas para o efeito, como o registo dos dados estatísticos, o consumo histórico e o perfil epidemiológico do momento. Se tivermos durante todo o ano grandes problemas de malária, são fármacos contra esta patologia que devemos comprar. Mas, há outros que optam pela aquisição de outro tipo de medicamentos. Se fizermos as coisas de acordo com o que está estabelecido, vamos melhorar a capacidade de controlo e assistência dos utentes, em função das patologias e do perfil epidemiológico, a que cada período venha, eventualmente, a determinar.
Quer dizer que, à parte a escassez de medicamentos, propriamente dita, há também os Qual seria a solução para estes problemas?
A digitalização dos serviços com um software de gestão de stocks. As tecnologias de informação surgiram para agregar valores. Se eu quiser ter uma gestão eficiente, tenho que criar este tipo de serviços para facilitar o acesso rápido ao banco de dados com informações gerais sobre os medicamentos, desde o atendimento até ao armazenamento. Como vantagens, estes sistemas nos dão, em tempo útil e oportuno, o alerta sobre os prazos de validade, as reservas existentes e o que tem que ser comprado. Outro aspecto importante que precisamos ter em conta, em qualquer gestão, tem que ver com os dados estatísticos. Com os dados actualizados, qualquer pessoa tem o essencial para uma gestão equilibrada e transparente. Os indicadores podem auxiliar as direcções das unidades hospitalares na tomada de decisões.
Comissões terapêuticas são profissionais que têm como objectivo seleccionar os medicamentos a serem utilizados para tratar os pacientes. É integrada por profissionais de farmácia, médicos e enfermeiros, que acompanham todo o processo de distribuição, atendimento e consumo de medicamentos, nas unidades hospitalares.
Nas unidades hospitalares as farmácias gozam de alguma autonomia?
Hierarquicamente as farmácias dependem da direcção clínica do hospital, de acordo com a legislação em vigor. O decreto 260/10 de 19 de Novembro, determina que, a farmácia hospitalar deve ter uma ligação directa com
Que requisitos devem ser considerados obrigatórios para se ter uma farmácia como tal?
Em termos de infra-estruturas, quando fala em uma farmácia, ela tem, inquestionavelmente, que ter uma área de atendimento, uma sala aonde os técnicos vão se reunir quando for necessário, tem que ter o vestiário, mobiliário, armazém, dispositivos de armazenagem, meios de transporte. São parâmetros essenciais que qualquer farmácia tem que ter. Outro aspecto importante na avaliação das farmácias tem a ver com os manuais de procedimentos e boas práticas, na forma escrita. O farmacêutico não deve chegar à farmácia e fazer aquilo que bem lhe apetece. Ele estudou, mas a unidade hospitalar tem a sua dinâmica. Para evitar erros, ele precisa ter sempre em mãos o manual de procedimento e boas práticas, e ter a certeza de que o vai fazer é correcto e sem hipóteses de cometer qualquer erro.
No desempenho das vossas funções, quais são os principais constrangimentos que enfrentam?
Os principais constrangimentos tem a ver com a organização, ou seja, a sistematização dos processos, a falta de recursos humanos, a definição concreta do trabalho que o farmacêutico deve exercer para evitar a usurpação de competências, como acontece com muita regularidade, e a atribuição de maiores competências aos farmacêuticos. A prática nos mostrou que, no desempenho das suas funções, os farmacêuticos são ultrapassados por outros sectores que acabam por assumir o trabalho que, era suposto, eles fazerem. Devido a esta situação muitos acabam por esquecer do que aprenderam.