É possível um comentário sobre os incêndios que tiveram lugar em dois armazéns diferentes
O tipo de medicamento que cada unidade deve adquirir é identificado de acordo com o seu nível. Um hospital primário, por exemplo, não tem bloco operatório, logo ele não precisa adquirir medicamentos ou materiais que devem ser utilizados numa unidade terciária.
Para além das componentes que falamos quais são as outras que se podem considerar importantes na gestão das farmácias hospitalares?
O armazenamento. Depois da aquisição há o processo de recepção. Quem faz a compra deve depois conferir quantitativa e qualificativamente o que foi comprado. Existem factores intrínsecos e extrínsecos, como o calor e a humidade que devem ser respeitados durante o armazenamento dos medicamentos. Precisamos de ter bons sistemas de armazenamento e de conservação, cadeias de frio para evitar a deterioração de alguns medicamentos que devem ser conservados em baixa temperatura, e que mal preservados podem originar reacções adversas aos pacientes.
Notamos que não há muita preocupação com a questão dos espaços e, talvez por isso, se justifiquem estes incêndios que tiveram lugar, recentemente, em unidades hospitalares no Cuanza- Sul e em Benguela. Os incêndios destruíram parte das infra-estruturas dos hospitais e muitos fármacos ficaram deteriorados. Não há qualquer plano com vista a se chegar a um acordo com os bombeiros, para definir um sistema de protecção contra incêndios nestas unidades, com a instalação de vários dispositivos de segurança contra incêndios, como extintores. Em algumas áreas do armazenamento dos hospitais são necessários espaços especiais para a conservação de medicamentos, como os estupefacientes psicotrópicos. Por serem de elevada responsabilidade, não podem cair em mãos alheias. Devem ser conservados em espaços fechados com acesso restringido a pessoas devidamente autorizadas.
A gestão das farmácia hospitalar é a sua principal área de intervenção?
Fiz um mestrado em Gestão em Saúde, onde a minha tese de defesa incidiu sobre a gestão de reservas em farmácia hospitalar.
Porque é que escolheu gestão de stocks (reservas) em farmácia hospitalar?
Porque, durante muito tempo, trabalhei nesta área, mas concretamente na Empresa de Comercialização de Meios Médicos (ECOMED), divisão de saúde do Ministério da Defesa. De resto, acabou por marcar para sempre a minha vida. Na unidade hospitalar onde comecei a trabalhar, na área da contabilidade, dei conta que, afinal, o bicho da gestão de stocks hospitalares corria em minhas veias. Percebi que a gestão hospitalar que era feita nos hospitais não era o que eu considerava a mais correcta e decidi fazer uma especialização nesta área para me dedicar especificamente nela.
Quando falamos em farmácia hospitalar vem ao de cima as grandes deficiências que os hospitais apresentam na assistência medicamentosa dos seus pacientes.
O nosso país não é um produtor de medicamentos. Tudo que consumimos vem do exterior. A falta de recursos financeiros pode ser uma razão para esse défice. Mas, nos últimos tempos, a situação melhorou substancialmente. Pelo que é de meu conhecimento, o Ministério da Saúde tem um programa de compras agrupado, personalizado na Central de Compras e Aprovisionamento de Medicamentos (CEOEMA)- é a única em Angola-, que faz a aquisição e distribuição dos medicamentos para todas as unidades hospitalares do país, obedecendo a um programa previamente estabelecido.
Há problemas de programação e organização, propriamente dito. Porque, muitas das vezes, a gestão é feita de forma empírica. A gestão tem de ser feita de acordo com os recursos financeiros postos à sua disposição e as patologias mais em voga, em determinada altura. a direcção do hospital, coordenada pela direcção clínica. A direcção administrativa surge para assegurar e fornecer os recursos financeiros para a aquisição de medicamentos e tudo que for necessário para o funcionamento das farmácias. Nos quadros parcelares das unidades hospitalares, há naturezas inscritas para aquisição de medicamentos e material gastável. Existem rubricas específicas para aquisição de equipamentos e meios médicos.
As farmácias hospitalares estão apetrechadas com o indispensável para funcionar?
A minha opinião é que muitas farmácias não têm os dispositivos que precisam para gestão, conservação e arrumação dos medicamentos. Faltam computadores, prateleiras, estrados frigoríficos, carros para distribuição, paletes empilhadoras e uma série de outros equipamentos. Do estudo que realizei no hospital Pediátrico David Bernardino, eles até têm os meios para a conservação e atendimento. Têm áreas específicas para farmácias e carrinhos para transportar os medicamentos. Mas, precisam de ser renovados devido ao estado obsoleto em que se encontram. Isso requer investimentos. Mas, infelizmente, não dispomos de fundos para investir.