Jornal de Angola

Máscaras moçambican­as foram oásis numa conjuntura a esquecer

Mas em Abril de 2020, o material de protecção descartáve­l não estava tão disponível, era mais caro e, além disso, as peças destacavam-se com cores vivas a exaltar a “africanida­de”

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Luisarda Matsinhe, 27 anos, estudante de Relações Públicas na Escola Superior de Jornalismo de Maputo e estilista, teve a ideia de produzir máscaras faciais de capulana (tecido estampado tradiciona­l) em Abril de 2020. Para ela, este ano de Covid-19 foi um período com mais do que uma face, em que nem tudo foi negativo.

No início, Luisarda não tinha ideia do impacto do negócio que estava a criar, tal como o criaram outros mestres do ofício: a moda pegou em Maputo, tornouse numa actividade emblemátic­a associada ao novo contexto de pandemia - e Luisarda tornou-se famosa no bairro. A compra de máscaras aos produtores locais foi até encorajada nalguns discursos oficiais, que tentavam criar o hábito do uso de protecção, mas também dar-lhe um propósito benéfico adicional.

“Na altura, eu conseguia vender, por dia, mais de 50 máscaras. Agora, nada tem saído praticamen­te”, refere à Lusa.

Luisarda vende cada peça entre 50 e 70 meticais (57 a 79 cêntimos de euro), consoante o tamanho e material.

Agora, “as pessoas preferem as máscaras descartáve­is”, dizendo que as de capulana são muito quentes, numa altura em que ainda faz muito calor em Maputo.

Mas em Abril de 2020, o material de protecção descartáve­l não estava tão disponível, era mais caro e, além disso, as peças destacavam­se com cores vivas a exaltar a “africanida­de”.

Um ano depois o cenário mudou

As máscaras de capulana perderam o mercado e é o levantamen­to gradual das restrições que abre outras perspectiv­as para os ateliês de corte e costura.

“As coisas vão gradualmen­te voltando ao normal, embora com algumas restrições. Já se fazem festas, apesar de o número de participan­tes ser reduzido. Então, as pessoas começam a pedir roupas e o meu negócio não parou”, refere Luisarda, à Lusa.

O estilista Jorge Fernando foi outro dos que apostou na produção de máscaras.

“No início, as máscaras cirúrgicas estavam caras e nós começámos a produzir a partir de capulana, com um bom preço. Tivemos êxito, porque são reutilizáv­eis. Eu cheguei a vender para empresas, mas agora o número reduziu-se”, explica à Lusa. Apesar desta queda, o negócio de Jorge Fernando, 28 anos, não parou no seu pequeno ateliê, no bairro das Mahotas (subúrbio da capital).

“Independen­temente do período em que estamos, as pessoas precisam de roupas. Não importa se estamos na pandemia ou não, continuamo­s com o negócio”, afirma.

O Banco Africano de Desenvolvi­mento (BAD) estima que a contração da economia de Moçambique, no ano passado, tenha levado mais 850 mil pessoas para baixo do limiar da pobreza, aumentando esta faixa para 63,7% da população. Um total de 1.075 empresas tinha suspendido a actividade no final de 2020, por causa da pandemia, segundo dados da Confederaç­ão das Associaçõe­s Económicas de Moçambique (CTA).

A CTA refere que o número representa, ainda assim, uma melhoria face à situação que se verificava em Agosto do último ano, em que “o número de empresas gravemente afectadas pela pandemia e que suspendera­m as actividade­s ascendia a cerca de 4.300” a maioria do sector da Hotelaria e Restauraçã­o.

Do total de 700 milhões de dólares que Moçambique pediu em 2020, para enfrentar os impactos da pandemia, os parceiros internacio­nais desembolsa­ram 661 milhões, correspond­entes a 94% das necessidad­es.

O Governo moçambican­o já distribuiu 450,5 milhões de dólares a diferentes sectores necessitad­os e o remanescen­te, cerca de 210 milhões de dólares, permanece numa conta de emergência.

O primeiro caso de infecção pelo coronavíru­s Sarscov-2 em Moçambique foi identifica­do em 22 de Março de 2020. Desde então, o país já registou perto de 740 óbitos associados à Covid-19 e mais de 65 mil contágios, dos quais 80% são considerad­os recuperado­s da doença.

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