Jornal de Angola

A comandante tem que fazer um esforço duplicado pelo facto de ser mulher?

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Sim. Infelizmen­te, nós ainda vivemos essa realidade. O homem até pode não ter capacidade, mas não precisa de provar nada, porque ele é homem. Já a mulher, ainda que competente, tem que passar por uma provação, para que se perceba que ela merece essa oportunida­de.

Isso, no meio policial, que é muitomascu­linizado,nãoagrava a situação da mulher?

Devemos reconhecer que já temos grandes avanços a nível da Polícia, que é dos órgãos que mais dão oportunida­de às senhoras. Temos muitas senhoras e, sobretudo, muitas em cargos de direcção. Naturalmen­te, isso deve ser meritório,

Noto que é conhecida e lida bem com a comunidade. Que relação mantém com as trabalhado­ras de sexo que frequentam a sua zona de jurisdição?

Nós procuramos manter uma relação humana. Não somos apologista­s do trabalho que elas fazem,masprocura­mos,damelhor maneira, tratá-las com respeito e humanismo.

Há muita prostituiç­ão na sua área de jurisdição? Essas trabalhado­ras do sexo vivem no Kilamba?

Penso que já houve mais. Agora, não. Já tivemos picos relativame­nte a essa questão de prostituiç­ão. Mas hoje baixou considerav­elmente. Elas não vivem no Kilamba, vêm de outros pontos, para relacionar­se com os moradores. O Kilamba,

Procuro conversar muito com elas, com cuidado, para não ferir sensibilid­ades, e alertá-las para os males, os perigos a que estão expostas. Não só na questão da transmissã­o de doenças sexuais, mas também sobre os riscos que correm. Muitas já foram agredidas, sequestrad­as, abusadas sexualment­e. Correm risco de vida. Nunca registamos nenhum óbito, nem queremos, mas fazemos questão de alertá-las sobre os perigos que correm, por exemplo, ao entrar na viatura de alguém que não conhecem. Essa pessoa, depois de lhe ser prestado o serviço, pode tirarlhes a vida. Há homens que, depois de satisfazer­em os seus desejos, não querendo pagar pelos serviços prestados, acabam agredindo-as. Aconselham­o-las a levar a vida da melhor forma, sem perigos, a ter uma vida saudável, digna, vivendo com pouco. Lavem a louça, limpem o chão, sejam empregadas domésticas, vendam alguma coisa, cozinhem. Só não se exponham a tamanho risco. Muitas delas já foram colocadas em cárcere privado durante muito tempo, sendo abusadas por vários homens. É muito arriscado e muito perigoso.

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