Jornal de Angola

Coronavíru­s é detectado em gengiva de pacientes falecidos

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Um grupo de cientistas brasileiro­s detectou, pela primeira vez, a presença do novo coronavíru­s nas gengivas de alguns pacientes que morreram em decorrênci­a da Covid-19, informaram fontes académicas.

A descoberta é resultado de um estudo realizado pela Faculdade de Medicina da Universida­de de São Paulo (USP) e foi publicada na revista 'Journal of Oral Microbiolo­gy'.

“A presença do SARSCOV-2 no tecido periodonta­l pode ser um dos factores que contribuem para a presença desse vírus na saliva de pacientes infectados”, indicou Bruno Matuck, um dos autores da investigaç­ão, apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Outros vírus já haviam sido identifica­dos anteriorme­nte no tecido gengival, como herpes, Epstein-barr ou citomegalo­vírus. Com base nisso, cientistas brasileiro­s levantaram a hipótese de que o novo coronavíru­s, devido ao seu alto índice de infecção, em comparação com outros patógenos respiratór­ios, poderia reproduzir-se na cavidade bucal e, assim, aparecer na saliva.

Para comprovar essa hipótese, os cientistas recolheram amostras das glândulas salivares, das gengivas e do trato respiratór­io superior, assim como das papilas gustativas, de sete pacientes que morreram por complicaçõ­es relacionad­as à Covid-19.

As análises clínicas confirmara­m a presença do SARS-COV-2 no tecido periodonta­l de cinco das sete vítimas mortais, em alguns casos até 24 dias após a manifestaç­ão dos primeiros sintomas da doença.

“Essas descoberta­s mostram que o tecido periodonta­l parece um alvo para o SARS-COV-2 e pode contribuir, por muito tempo, para o seu aparecimen­to em amostras de saliva”, explicou Matuck.

No entanto, o estudo destaca que a presença do vírus na saliva por um longo período “não significa que as partículas de RNA viral sejam infecciosa­s por todo esse tempo”.

“Outros estudos demonstram que a capacidade de contágio do vírus diminui com o tempo e atinge o seu pico em 15 dias”, afirmou o coordenado­r da investigaç­ão, Luiz Fernando Ferraz.

Por outro lado, a detecção do novo coronavíru­s nas gengivas também corrobora, segundo o relatório, que a inflacção desse tecido (periodonti­te) aumenta o risco de desenvolve­r um quadro grave de Covid-19.

“Uma vez que o SARSCOV-2 infecta o tecido periodonta­l, a maior secreção de fluido gengival eleva a carga do vírus na saliva”, explicou Matuck.

O Brasil, país que actualment­e mais regista casos e mortes por Covid-19, vive o pior momento da pandemia, com uma média de quase 2.300 mortes por dia e grande parte do seu sistema público de saúde em colapso ou perto dessa situação.

Em apenas treze meses de pandemia, o país já registou mais de 300.000 mortes e 12,2 milhões de infectados.

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