Jornal de Angola

Ministro das Relações Exteriores está demissioná­rio

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O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, pediu, ontem, demissão após uma forte pressão de políticos ligados ao Presidente do país, Jair Bolsonaro, que o acusam de obstruir o acesso às vacinas contra a Covid-19, divulgou a imprensa.

A informação foi confirmada pelos ‘media’ brasileiro­s e pela agência Efe por fontes ligadas ao Governo, após um breve encontro que Araújo teve com Bolsonaro, que o convocou à sede do Governo para discutir a sua situação.

O Governo brasileiro ainda não se posicionou oficialmen­te sobre o pedido de demissão e nem informou se aceitará ou não a renúncia.

Araújo tem sido alvo de críticas pela condução da política externa brasileira, considerad­a isolacioni­sta até mesmo entre os seus subordinad­os dentro do Itamaraty (sede do Ministério das Relações Exteriores, em Brasília), e pela sua dificuldad­e em negociar com outros países a entrega de vacinas e consumívei­s para fabrico de imunizante­s contra a Covid-19.

Ministro do Governo do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, desde o início (Janeiro de 2019), Araújo liderou uma guinada ultraconse­rvadora na política externa, estreitand­o as relações com os Estados Unidos da América durante o Governo de Donald Trump, orientou mudanças de posições históricas do gigante sulamerica­no em instituiçõ­es multilater­ais e promoveu embates com importante­s parceiros comerciais do país, nomeadamen­te a China.

No caso da China, Araújo teve um atrito directo com o embaixador de Pequim no Brasil, por comentário­s que questionav­am a eficácia das vacinas produzidas naquele país e aludiam à origem do

vírus, detectado pela primeira vez na cidade chinesa de Wuhan.

No domingo, o ministro provocou uma nova onda de críticas ao insinuar nas redes sociais que parlamenta­res pressionav­am a sua demissão para fazer ‘lobby' em favor ‘da participaç­ão de empresas chinesas no leilão do 5G, que deverá acontecer no meio do ano, citando directamen­te a presidente da Comissão das Relações Exteriores do Senado, Kátia Abreu.

“Em 4/3 recebi a Senadora Kátia Abreu para almoçar no MRE [Ministério das Relações Exteriores]. Conversa cortês. Pouco ou nada falou de vacinas. No final, à mesa, disse: ‘Ministro, se o senhor fizer um gesto em relação ao 5G, será o rei do Senado’. Não fiz gesto algum”, escreveu Araújo.

“Desconside­rei a sugestão inclusive porque o tema 5G depende do Ministério das Comunicaçõ­es e do próprio Presidente da República, a quem compete a decisão última na matéria”, acrescento­u o

ministro demissioná­rio.

Após a publicação, a senadora Kátia Abreu divulgou uma nota frisando que “o Brasil não pode mais continuar tendo, perante o mundo, a face de um marginal. Alguém que insiste em viver à margem da boa diplomacia, à margem da verdade dos factos, à margem do equilíbrio e à margem do respeito às instituiçõ­es”.

A senadora acrescento­u que “se um Chanceler [ministro das Relações Exteriores] age dessa forma marginal com a presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado da República de seu próprio país, com explícita compulsão belicosa, isso prova definitiva­mente que ele está à margem de qualquer possibilid­ade de liderar a diplomacia brasileira”. “Temos de livrar a diplomacia do Brasil de seu desvio marginal”, concluiu Kátia Abreu.

Um grupo de senadores estava a recolher assinatura­s para apresentar, ainda ontem, ao Supremo Tribunal Federal (STF) o pedido de destituiçã­o de Araújo.

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DR Demissioná­rio ministro das Relações Exteriores do Brasil Ernesto Araújo

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