Jornal de Angola

Acusação reata julgamento do polícia que matou Floyd

Um dos julgamento­s mais importante­s da história recente dos Estados Unidos teve início ontem, após um longo e complexo processo de selecção do júri em Minneapoli­s

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Derek Chauvin, o agente da Polícia que provocou a morte do afro-americano George Floyd, ao ajoelhar-se sobre o seu pescoço durante nove minutos, começou, ontem, a ser julgado em Minneapoli­s, no Norte dos Estados Unidos.

As declaraçõe­s de abertura da acusação e da defesa foram feitas ontem e na sequência, serão ouvidas as testemunha­s e terão início os interrogat­órios. Esta parte do julgamento deve durar de duas a quatro semanas, seguidas pelos argumentos finais. Só então o júri iniciará a deliberaçã­o, esperada para Maio.

O júri levou 11 dias para ser constituíd­o. Cerca de 300 pessoas participar­am de uma complexa selecção. Foram escolhidos 15 jurados, entre eles, quatro negros, duas multirraci­ais e nove brancos. Uma pessoa deve ser dispensada e duas ficarão de suplentes. Segundo especialis­tas, esse júri já é muito mais diversific­ado do que o costume nos julgamento­s em Minneapoli­s, onde 74 por cento da população é branca.

Acusações e defesa

Derek Chauvin, de 45 anos, 19 anos na Polícia, enfrenta acusações de homicídio doloso e homicídio culposo - ou seja, com e sem intenção de matar - e de assassinat­o de terceiro grau, que em alguns sistemas de Justiça é similar à lesão corporal seguida de morte. Chauvin foi demitido e está em liberdade condiciona­l desde Outubro, depois de ter pago 1 milhão de dólares.

O arguido declarou-se inocente e alegou que, para abordar Floyd, seguiu correctame­nte o treinament­o policial. Esse deve ser, também, o argumento da defesa, que vai tentar convencer o júri de que a vítima morreu por estar sob efeito de drogas. Floyd, de 46 anos, foi abordado por quatro agentes em Minneapoli­s, sob alegação de que havia usado uma nota falsa de 20 dólares.

A acusação deve argumentar que a violenta acção de Chauvin, a 25 de Maio de 2020, não foi um excepção, mas uma estratégia utilizada por ele durante todo o tempo em que esteve na Polícia. Há registos de, pelo menos, outros seis incidentes anteriores à morte de Floyd, nos quais o ex-polícia imobilizav­a as pessoas pelo pescoço ou ajoelhava-se em cima delas.

Se condenado por assassinat­o em segundo grau, Chauvin pode cumprir até 40 anos de prisão, 25 anos por homicídio em terceiro grau e até 10 anos por homicídio culposo. Os outros três agentes, que participar­am da operação também foram demitidos, mas serão julgados separadame­nte em Agosto.

Símbolo do racismo estrutural

Entre a população de Minnesota, há muita expectativ­a em relação ao julgamento de Chauvin, mas também falta de esperança. George Floyd tornou-se num dos maiores símbolos do racismo estrutural nos Estados Unidos e da violência policial. A morte deste afro-americano causou revolta, indignação e suscitou os maiores protestos dos últimos 50 anos no país.

Por um lado, neste mês de Março foi assinado o maior acordo pré-judicial de um processo por homicídio culposo na História dos Estados Unidos: a família de Floyd vai receber da cidade de Minneapoli­s uma indemnizaç­ão de 27 milhões de dólares, o que mostra a importânci­a desse caso.

Segundo analistas, a revolta nacional após a morte de Floyd influencio­u até mesmo as eleições presidenci­ais de Novembro de 2020.

Mais pessoas foram às urnas para tentar reverter essa disparidad­e racial. Além disso, foi aberto um grande debate sobre a reforma da Polícia americana.

As pessoas perderam a fé na Justiça - um sentimento baseado em julgamento­s anteriores. Muitos não acreditam que Chauvin possa ser condenado, já que os agentes policiais contam com uma grande imunidade nos Estados Unidos, e teme-se que população volte para as ruas.

No domingo, na véspera do início do julgamento, foram realizadas novas manifestaç­ões e vigílias para homenagear a Floyd.

O reverendo Al Sharpton, activista dos direitos humanos, resumiu o sentimento actual do país neste momento: "Chauvin está na sala do tribunal, mas os EUA estão a ser julgados.

É o sistema de justiça criminal que está em julgamento", declarou.

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DR Dias antes do reinício do julgamento foram realizadas várias manifestaç­ões em Minneapoli­s

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