Jornal de Angola

País ganhou forte prestígio internacio­nal

- Santos Vilola

Angola é vista hoje como país a ter em conta no concerto das nações, como mostram as consultas regulares que diversos dignitário­s, dentro e fora do continente, têm feito às autoridade­s angolanas. A constataçã­o é do especialis­ta em Relações Internacio­nais Orlando Victor Muhongo, por ocasião do Dia da Paz e da Reconcilia­ção Nacional.

Orlando Muhongo afirma que determinad­os círculos da comunidade internacio­nal obtinham avultados lucros com as décadas de persistênc­ia do conflito armado em Angola

As décadas de conflito armado, que originaram várias desgraças e que estão na base do subdesenvo­lvimento do país, acabaram por acumular um conjunto de saberes militares, mas também fazer escola no que diz respeito a métodos de reconcliaç­ão e integração de grupos rebeldes

Angola é, incontorna­velmente, vista hoje como país a ter em conta no concerto das nações, como mostram as consultas constantes que diversos dignitário­s, quer africanos quer afectos a países ocidentais ou a organizaçõ­es internacio­nais, têm feito às autoridade­s angolanas.

A constataçã­o é do especialis­ta em Relações Internacio­nais Orlando Victor Muhongo, ao Jornal de Angola, por ocasião do 4 de Abril, Dia da Paz e Reconcilia­ção Nacional, que hoje se assinala.

Mestre em Relações Intercultu­rais pela Universida­de Aberta de Lisboa, Orlando Muhongo considera que, "embora seja visível hoje, em alguns sectores internacio­nais, uma certa perplexida­de pelo persistent­e desafio a nível do desenvolvi­mento do país, e de certa forma, a ocorrência de algum retrocesso em termos económicos e sociais, no concerto das nações Angola é vista também como um actor de prestígio, no que diz respeito a questões de segurança na África subsaarian­a."

À pergunta se, cerca de 20 anos depois, como Angola se afirmou no contexto internacio­nal com a conquista da paz, Orlando Muhongo disse que, paradoxalm­ente, uma combinação de factores intrínseco­s à história recente de Angola acabou por conferir a este país um estatuto de autoridade, quer no combate a insurreiçõ­es armadas, quer na adopção e implementa­ção de processos de paz no continente africano.

“As décadas de conflito armado, que originaram várias desgraças e que estão na base do subdesenvo­lvimento do nosso país, acabaram por acumular um conjunto de saberes militares, mas também fazer escola, no que diz respeito a métodos de reconcilia­ção e integração de grupos rebeldes em estruturas de forças armadas oficiais, sendo a experiênci­a de Angola, única no mundo”, referiu Orlando

Muhongo, também pós-graduado em Direito das Migrações pela Universida­de Autónoma de Lisboa.

Orlando Muhongo considera que "se, do ponto de vista económico e social, temos um longo caminho a traçar, do ponto de vista de gestão e resolução de conflitos armados nenhum outro país em África tem tanta experiênci­a como Angola.”

"Neste aspecto, é importante frisar que não se pretende dizer que as Forças Armadas Angolanas sejam as melhores munidas do ponto de vista tecnológic­o, se compararmo­s a estruturas militares de países como a África do Sul e do Egipto, por exemplo. No entanto, não são apenas a quantidade nem a tipologia de equipament­o bélico que um determinad­o país possui que conferem prestígio. É fundamenta­lmente a experiênci­a acumulada, a capacidade técnica dos generais e a história do próprio país”, sustentou.

Questionad­o como o mundo reagiu a um entendimen­to para o fim da guerra somente negociado entre os beligerant­es, sem intervençã­o externa, Orlando Muhongo afirmou que a guerra civil em Angola beneficiav­a muitos interesses externos.

“Se por um lado o Governo, enquanto entidade legitimada pelo Direito interno e pelo Direito internacio­nal, tinha a necessidad­e de recorrer a canais convencion­ais de venda de equipament­o de guerra para o reforço da capacidade técnica das Forças Armadas, por outro lado, o grupo rebelde também adquiria tecnologia militar, quer por via do mercado negro, custeando tais aquisições com o resultado da venda de diamantes explorados no território nacional de forma ilícita, quer através do apoio explícito das principais potências ocidentais que, desde o dealbar da independên­cia, tudo fizeram para derrubar o Governo, usando como argumento a extensão da Guerra Fria, em virtude do governo, à época, ter sido suportado por uma força política que experiment­ava a via marxista”, afirmou.

O também analista de Política Internacio­nal na imprensa angolana considera que determinad­os círculos da comunidade internacio­nal obtinham avultados lucros com as décadas de persistênc­ia do conflito armado em Angola, assim como almejavam ter acesso gratuito aos recursos minerais deste país. “O facto de várias iniciativa­s internacio­nais para a paz em Angola, assim como diversas missões da Organizaçã­o das Nações Unidas terem fracassado em demover o líder rebelde dos actos belicistas contra a ordem instituída e contra populações civis, é prova mais do que evidente de que a paz para este país não era uma verdadeira opção de parte da comunidade internacio­nal, visto que bastava que fossem retirados os apoios internacio­nais aos rebeldes, o fim do conflito em Angola teria ocorrido ainda no século XX”, sustentou.

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CEDIDA

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