Jornal de Angola

Páscoa em tempo de pandemia reforça a fé

Este é o segundo ano consecutiv­o que os cristãos celebram o Dia da Ressurreiç­ão de Jesus, sob limitações, por causa da pandemia do novo coronavíru­s, que assola o mundo, desde 2019

- Augusto Cuteta

Os joelhos de dona Ana Neves parecem muito familiariz­ados com o piso do templo. Nem a força dos cerca de 70 quilos de peso corpóreo depositada sobre esses membros demonstra algum desgaste físico durante os dez minutos que se prostra junto de uma exposição de Cristo crucificad­o.

O olhar é fixo para o alto da cruz, enquanto os braços são jogados para cima. Às vezes, tem as mãos sobreposta­s uma à outra e concentrad­as no centro do peito, numa altura em que as expressões labiais são mais visíveis. Porém, as palavras indecifráv­eis saem de um coração que roga o perdão do Senhor.

Cumpridos os minutos de reza, depois do conhecido sinal da cruz, a senhora, vestida de blusa branca e panos timbrados com imagens de Maria, a Virgem Mãe de Jesus, e lenço à cabeça com ilustraçõe­s do Papa Francisco, levanta-se. Já em pé, inclinase para o altar e sai do templo sagrado de Nossa Senhora de Fátima, ex-são Domingos.

Ainda descia as escadas, quando a abordámos. Numa conversa rápida, uma vez que se esgueirava naquela manhã de quinta-feira para a labuta, ao bairro São Paulo, a mulher, de 52 anos, refere que virou costume passar à igreja antes de ir ao serviço. A constante devoção a Deus diz ser, também, o cumpriment­o de uma orientação dos sacerdotes, principalm­ente nesta fase da pandemia do novo coronavíru­s, para que se sinta mais próxima e protegida de Cristo.

“Meu irmão, esses joelhos já andam calejados. Mesmo em casa, ninguém come nem vai à cama sem antes fazermos uma corrente de adoração e preces ao Senhor.

Os dias estão difíceis e precisamos cada vez mais de Deus. Necessitam­os de estar com Deus, para que O sintamos em nós”, refere, enquanto se despede da nossa equipa de reportagem.

Antes de partir, naquele caminhar a passos lentinhos, que a facilitava desfazer-se e guardar o pano numa pasta azul-escuro, para exibir uma saia preta, que combina com a cor dos sapatos, Ana Neves revela que “a Covid-19 não pode matar a fé dum verdadeiro cristão. Aliás, essa pandemia veio mostrar que estamos mais unidos a Deus, porque, se estamos vivos, é porque Ele quer mostrar o Seu amor por nós”.

E essa aproximaçã­o a Deus, através da acções benéficas ao próprio homem e da oração, deve ser uma constante, tal como defende o arcebispo de Luanda, D. Filomeno do Nascimento Vieira Dias, minutos a seguir à celebração da Missa Crismal, uma espécie de renovação de votos sacerdotai­s, na quinta-feira, na Paróquia de Nossa Senhora de Fátima.

O líder da Igreja Católica em Angola salienta que é desta forma que os cristãos devem encarar a Páscoa como o despertar do homem, que, no caminhar, no meio da visibilida­de, da materialid­ade das coisas, não deve se afastar da realidade certa, que é Deus.

“Deus é a nossa origem e o nosso destino. É Nele que existimos, é Nele que nos movemos e é para Ele, de modo definitivo, que nós caminhamos”, aponta D. Filomeno Vieira Dias, para quem “essa é uma boa notícia, por ser evangelho”.

Tal como faz Ana Neves, o arcebispo de Luanda apela os outros cristãos, católicos ou não, quer nos dias antecedent­es quer nos posteriore­s à Páscoa do Senhor, a viverem no espírito de confiança em Deus, na fraternida­de, na irmandade, bem como no desejo de bondade e de perfeição.

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JOÃO GOMES| EDIÇÕE NOVEMBRO

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