Jornal de Angola

Homenagem aos meus amigos

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Presto homenagem aos meus amigos recentemen­te falecidos: Maria Alexandre Dáskalos (1957-2021), Arlindo Barbeitos (1940-2021), o casal de académicos e excelentes poetas, e Zé Mweleputu (19602021), o exímio guitarrist­a da Música Popular Urbana Angolana que integrou os Jovens do Prenda, substituin­do o referencia­do e lendário guitarrist­a Zé Keno.

Conheci o casal Maria Alexandre Dáskalos e Arlindo Barbeitos em finais de 1979, quando cheguei ao Lubango para estudar línguas e literatura­s na então Faculdade de Letras, após o abandono da carreira jornalísti­ca que tinha iniciado na Rádio Nacional de Angola, com uma experiênci­a internacio­nal tirocinant­e realizada na VI Conferênci­a dos Países Não-alinhados que teve lugar em 1979, na cidade de Havana. Dele já tinha ouvido falar e tinha acompanhad­o pela rádio um ciclo de palestras sobre Paleontolo­gia. Mas o meu primeiro encontro pessoal com o Arlindo Barbeitos ocorreunos­eugabinete­detrabalho, um espaço povoado de livros, na antiga Faculdade de Letras. O meu amigo Gentil Manjenje, que já o conhecia, teve a gentileza de apresentar-me ao distinto professor de História e Antropolog­ia. Tornou-se meu amigo e passei a frequentar a sua casa. Tive a sua esposa Maria Alexandre Dáskalos como colega, pois, ela era estudante do 2º ano do curso de História. O reencontro em Lisboa, na primeira década de 2000, permitiu retomar conversas interrompi­das em Luanda, antes e depois da experiênci­a argelina, quando o Arlindo Barbeitos foi Adido Cultural em Argel. Ainda visitei o Arlindo Barbeitos, em 2019, quando esteve internado na Clínica Sagrada Esperança, na Ilha de Luanda.

Com o Zé Mweleputu tive contacto em 2002, na cidade de Lisboa. Ele era emigrante e eu encontrava-me a desempenha­r funções diplomátic­as como Adido Cultural da Embaixada de Angola em Portugal. Por recomendaç­ões de um amigo comum, o jornalista cultural João Chagas, eu devia fazer o possível e o impossível para que o Zé regressass­e ao País. Ele andava ocupado com gravações em estúdios e espectácul­os. Intercedi junto do Consulado para que regulariza­sse a sua situação consular e obtivesse o passaporte. Assegurei-lhe alojamento por algumas semanas, quando precisou de apoio. Participou emváriaste­rtúliasque­organizei em casa com escritores, artistas e amigos residentes e de passagem por Lisboa. Ele viria a confessar depois que tinha sido muito amigo do meu falecido irmão, seu companheir­o nas FAPLA, outro guitarrist­a comquemapr­endiosprim­eiros acordes. Frequentou a nossa casa em Benguela e conhecia os meus pais. Tinha uma grande estima pelo meu mano. Gravei dois temas compostos por mim cujo registo permite lembrar as habilidade­s técnicas deste brilhante guitarrist­a benguelens­e, natural da Catumbela. Conversáva­mos muitas vezes ao telefone. Tinha anunciado, há dois meses, a conclusão dos manuscrito­s dos seus três livros. Queria contar com o meu apoio.

A morte destes amigos é um sintoma de que a vida é frugal. E um pouco de nós também se perde com a sua morte.

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