Assaltos em táxis em Luanda tomam contornos preocupantes
A crise económica e outros factores sociais têm contribuído para o aumento dos assaltos à mão armada, sobretudo em Luanda
A situação toma contornos preocupantes quando estas acções também são desencadeadas em táxis de passageiros. Mais preocupante ainda é o facto de muitas das ocorrências acontecerem em plena luz do dia. As máscaras faciais, usadas para a prevenção à pandemia da Covid-19, ao que parece, têm ajudado no disfarce dos assaltantes.
O Jornal de Angola conta, nas linhas que se seguem, a história de pessoas - todas mulheres - que sentiram a vida por um fio, devido à acção de malfeitores. Os nomes são fictícios, mas os factos são reais.
Cláudia Patrícia mora na Nova Urbanização do município do Cacuaco, em Luanda. Trabalha num centro de formação profissional, também em Cacuaco, onde dá aulas de pastelaria. Há poucos meses, com os recursos que foi amealhando abriu o seu próprio centro de formação em culinária, pastelaria e decoração, igualmente no Cacuaco. Um exemplo de empreendedorismo.
A intenção era ajudar o marido nas despesas da casa, numa altura em que, a cada dia que passa, o custo de vida aumenta. O investimento até parecia dar certo. Tanto é assim que Cláudia já pensava abrir, a curto ou médio prazo, outro estabelecimento do género, no município de Viana.
"A adesão aos cursos no centro era tanta que até vinha pessoas de Viana. Então perguntei-me: “'por que é que não penso em arrendar um espaço em Viana e abro, também lá, outros centro? Ao menos os alunos que para cá vêm deixam de percorrer grandes distâncias e outras pessoas também podem aderir aos cursos", pensou.
Tudo se encaminhava para a materialização deste sonho, até que, na semana passada, aconteceu o inesperado. Por volta do meio-dia, quando saía da vila de Cacuaco para casa, depois de tratar de alguns assuntos, Cláudia e mais duas jovens foram assaltadas, dentro de um táxi, que passaria pela via expressa Cacuaco-benfica.
No interior da viatura, cujo modelo e matrícula Cláudia não conseguiu decifrar, as três senhoras encontraram dois homens, ambos com máscaras faciais, sendo o condutor e o ocupante do outro assento da frente, que julgo ser um passageiro. As três mulheres sentaram-se no assento traseiro. Tinham percorrido poucos metros da viagem, o assento de trás nem sequer tinha sido aquecido, quando o "pendura", empunhando uma arma de fogo (pistola), anunciou o assalto. Num tom ameaçador, apelou à "colaboração" das passageiras, sob pena de haver vítimas mortais.
Apresentou um TPA (Terminal Automático de Pagamentos) e obrigou a quem tivesse cartão de débito, vulgo multicaixa, a "riscá-lo" para consulta de saldo e posterior transferência de todo o dinheiro existente. As mulheres não poderiam mentir, sob pena de serem revistadas e encontrado dispositivo.
As outras duas senhoras juraram de pés juntos que não tinham o referido cartão e que estavam dispostas a dar tudo o que tinham. Cláudia, temendo pela vida e pensado nos três filhos menores, logo entregou o cartão ao bandido, que o passou no TPA, accionou a opção consultar o saldo e forçou a titular a digitar o PIN. Na segunda operação foi só retirar todo o montante da conta, onde estava também a renda do centro de formação.
A jovem empreendedora não revelou o valor total retirado da sua conta, mas garantiu que não era pouco e não vê como pagar o salário das funcionárias e as despesas do próprio centro.
Segundo Cláudia, uma das passageiras, estudante finalista de uma universidade, levava na mochila um computador portátil e outros haveres, como telefone, os bandidos também receberam. A jovem universitária ainda terá implorado aos malfeitores para que devolvessem, pelo menos, a pendrive onde estava gravada a sua monografia, mas não acederam.
Para se ter uma ideia de como aqueles assaltantes estavam dispostos a levar tudo o que garantisse dinheiro, até a peruca e os ténis de Cláudia recolheram. A terceira passageira não tinha cartão, nem peruca; mas a pasta onde se encontrava o telefone e outras coisas pessoais também já não lhe pertenciam.
Toda esta acção foi desencadeada entre Cacuaco e uma zona depois do Panguila, até as vítimas serem abandonadas. Na berma da estrada, Cláudia, descalça e sem peruca, assim como as outras jovens, conseguiram apanhar boleia de um senhor que as acompanhou à Esquadra de Polícia mais próxima, onde deram conta da ocorrência.
As outras duas senhoras juraram de pés juntos que não tinham o referido cartão e que estavam dispostas a dar tudo o que tinham. Cláudia, temendo pela vida e pensando nos três filhos menores, logo entregou o cartão ao bandido, que o passou no TPA, accionou a opção consultar o saldo e forçou a titular a digitar o PIN