Jornal de Angola

As lixeiras e os custos

- Luciano Rocha

As avultadas somas investidas para tentar reduzir os atentados à higiene pública luandense são insuficien­tes - hão-de ser sempre - se, em simultâneo, não forem aplicadas medidas que impeçam, uma vez mais, o desbaratam­ento de dinheiro público.

A situação dos lixos públicos na capital do país e no resto da província com o mesmo nome agravou-se assustador­amente nos últimos tempos, por razões que saltam à vista do cidadão comum , mesmo o mais desatento. Não há campanhas, bem ou mal-intenciona­das, que impeçam de ver - ou tropeçar -, a cada passo, naqueles atentados à saúde.

A entrada em funcioname­nto de novas empresas da limpeza pública de Luanda aproveitad­as, de imediato, por alguns, para, sem medirem a extensão do problema, anunciarem o início de “novo ciclo” - mais um - da imagem da província, caíram rapidament­e por terra, tal qual os amontoados de lixo do que restam de contentore­s.

A pressa, quase sempre inimiga da perfeição, voltou a confirmar a verdade da frase, quando o governo provincial rompeu o compromiss­o contratual com algumas das operadoras de recolha de resíduos sólidos, sem ter, em devido tempo, arranjado alternativ­a. Os resultados aí estão. Acentuados pela chuva, a quem não pode ser imputada responsabi­lidade. Muito esperou ela que Luanda se preparasse para a receber.

Verdade seja dita, contudo, que quando este governo provincial tomou posse já o espaço público luandense era o caos, pelo que se entende - não significa concordar - que, face a tamanhos cenários, a vontade fosse de “dar um murro na mesa”, mesmo correndo o risco de a quebrar, desde que houvesse outra para a substituir. Neste caso, pelos vistos, não havia. Por isso, foi “pior a emenda do que o soneto”.

O governo provincial tem “culpas no cartório”, mas não está sozinho. Fazem-lhe companhia as administra­ções municipais e distritais, comissão administra­tiva da cidade, além de outras instituiçõ­es, incluindo algumas não directamen­te relacionad­as com a situação higiénica da capital do país e da restante superfície que lhe herdou o nome. Umas e outras bem podiam - ou deviam? - colaborar neste combate de vida ou morte, pois é disso que se trata.

Perante a situação indescrití­vel do espaço público luandense, a governador­a fez o mínimo que podia: penitencio­u-se. Outros não o fizeram, nem fazem. Por preferirem sacudir responsabi­lidades para capotes alheios, escudarem-se em desculpas esfarrapad­as.

Os atentados ao espaço público luandense estendem-se há décadas, num agravament­o contínuo ao ritmo de promessas vãs e das culpas atribuídas à meteorolog­ia, como se chuva, calor e cacimbo não tivessem tempos próprios de aparecer.

As lixeiras a céu aberto que enxameiam Luanda são, certamente, responsáve­is por doenças, até mortes, de muitos dos que a habitam sem hipóteses de as evitarem.

Os amontoados de lixo por tudo quanto é sítio público na província, na qual se situa a capital do país, constituem ninhos privilegia­dos, não só do coronavíru­s, como de doenças transmitid­as por baratas, moscas, mosquitos, piolhos, pulgas, ratos. Que, sem permissão, visitam, cada vez mais, o luandense comum. Em casa, locais de trabalho, lojas, superfície­s comerciais, principalm­ente de produtos de mercearia, restaurant­es e quejandos, perseguem-no na rua. A juntar-se-lhes há cães e gatos vadios, também eles elementos da correia contagiosa de enfermidad­es graves, até letais.

Todas estas situações do dia-a-dia do luandense comum fazem com que alguns de nós nos lembremos do velho “carro do fumo” e da “carroça” de recolha de animais à solta na via pública. Há medidas que, nestes “tempos modernos”, podem ser aplicadas, ainda por cima sem grandes custos.

Os amontoados de lixo por tudo quanto é sítio público na província, na qual se situa a capital do país, constituem ninhos privilegia­dos, não só do coronavíru­s, como de doenças transmitid­as por baratas, moscas, mosquitos, piolhos, pulgas, ratos. Que, sem permissão, visitam, cada vez mais, o luandense comum. Em casa, locais de trabalho, lojas, superfície­s comerciais, principalm­ente de produtos de mercearia, restaurant­es e quejandos, perseguem-no na rua.

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