As lixeiras e os custos
As avultadas somas investidas para tentar reduzir os atentados à higiene pública luandense são insuficientes - hão-de ser sempre - se, em simultâneo, não forem aplicadas medidas que impeçam, uma vez mais, o desbaratamento de dinheiro público.
A situação dos lixos públicos na capital do país e no resto da província com o mesmo nome agravou-se assustadoramente nos últimos tempos, por razões que saltam à vista do cidadão comum , mesmo o mais desatento. Não há campanhas, bem ou mal-intencionadas, que impeçam de ver - ou tropeçar -, a cada passo, naqueles atentados à saúde.
A entrada em funcionamento de novas empresas da limpeza pública de Luanda aproveitadas, de imediato, por alguns, para, sem medirem a extensão do problema, anunciarem o início de “novo ciclo” - mais um - da imagem da província, caíram rapidamente por terra, tal qual os amontoados de lixo do que restam de contentores.
A pressa, quase sempre inimiga da perfeição, voltou a confirmar a verdade da frase, quando o governo provincial rompeu o compromisso contratual com algumas das operadoras de recolha de resíduos sólidos, sem ter, em devido tempo, arranjado alternativa. Os resultados aí estão. Acentuados pela chuva, a quem não pode ser imputada responsabilidade. Muito esperou ela que Luanda se preparasse para a receber.
Verdade seja dita, contudo, que quando este governo provincial tomou posse já o espaço público luandense era o caos, pelo que se entende - não significa concordar - que, face a tamanhos cenários, a vontade fosse de “dar um murro na mesa”, mesmo correndo o risco de a quebrar, desde que houvesse outra para a substituir. Neste caso, pelos vistos, não havia. Por isso, foi “pior a emenda do que o soneto”.
O governo provincial tem “culpas no cartório”, mas não está sozinho. Fazem-lhe companhia as administrações municipais e distritais, comissão administrativa da cidade, além de outras instituições, incluindo algumas não directamente relacionadas com a situação higiénica da capital do país e da restante superfície que lhe herdou o nome. Umas e outras bem podiam - ou deviam? - colaborar neste combate de vida ou morte, pois é disso que se trata.
Perante a situação indescritível do espaço público luandense, a governadora fez o mínimo que podia: penitenciou-se. Outros não o fizeram, nem fazem. Por preferirem sacudir responsabilidades para capotes alheios, escudarem-se em desculpas esfarrapadas.
Os atentados ao espaço público luandense estendem-se há décadas, num agravamento contínuo ao ritmo de promessas vãs e das culpas atribuídas à meteorologia, como se chuva, calor e cacimbo não tivessem tempos próprios de aparecer.
As lixeiras a céu aberto que enxameiam Luanda são, certamente, responsáveis por doenças, até mortes, de muitos dos que a habitam sem hipóteses de as evitarem.
Os amontoados de lixo por tudo quanto é sítio público na província, na qual se situa a capital do país, constituem ninhos privilegiados, não só do coronavírus, como de doenças transmitidas por baratas, moscas, mosquitos, piolhos, pulgas, ratos. Que, sem permissão, visitam, cada vez mais, o luandense comum. Em casa, locais de trabalho, lojas, superfícies comerciais, principalmente de produtos de mercearia, restaurantes e quejandos, perseguem-no na rua. A juntar-se-lhes há cães e gatos vadios, também eles elementos da correia contagiosa de enfermidades graves, até letais.
Todas estas situações do dia-a-dia do luandense comum fazem com que alguns de nós nos lembremos do velho “carro do fumo” e da “carroça” de recolha de animais à solta na via pública. Há medidas que, nestes “tempos modernos”, podem ser aplicadas, ainda por cima sem grandes custos.
Os amontoados de lixo por tudo quanto é sítio público na província, na qual se situa a capital do país, constituem ninhos privilegiados, não só do coronavírus, como de doenças transmitidas por baratas, moscas, mosquitos, piolhos, pulgas, ratos. Que, sem permissão, visitam, cada vez mais, o luandense comum. Em casa, locais de trabalho, lojas, superfícies comerciais, principalmente de produtos de mercearia, restaurantes e quejandos, perseguem-no na rua.